A quarentena determinada em São Paulo pelo pelo governador João Doria, via decreto, visa limitar a circulação de pessoas para frear a curva ascendente de contaminação no estado. Para tanto, é fundamental que as empresas baixem as portas e mantenham os trabalhadores em casa.
Diante da insistência de alguns empresários em manterem ativas suas empresas, o governador ameaçou ir à Justiça e utilizar força policial para que o decreto seja cumprido. O texto afirma que no estado somente as áreas essenciais, saúde, alimentação e segurança, devem funcionar. Além destes, alguns serviços como bancos e bancas de jornais estão liberados.
Após ir às periferias e verificar que medida não estava sendo respeitada, o Brasil de Fato escutou representantes de diversas categorias para saber se os trabalhadores foram liberados pelos empregadores.
Confira:
Trabalhadoras domésticas
No Brasil, são 7 milhões de trabalhadoras e trabalhadores domésticos. A categoria tem enfrentado a falta de sensibilidade dos patrões, de acordo com Luiza Batista, presidenta da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad). A sindicalista afirma que a adesão “não é muito alta, precisamos de mais, para garantir a segurança de todo mundo".
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“Os empregadores precisam saber que liberando as trabalhadoras, vão se proteger também, pois precisamos evitar toda forma de contato. Mas não é o que temos visto, os patrões estão exigindo a presença de trabalhadoras na residência e não estão liberando. O que recomendamos é que liberem e não deixem de pagar”, explica Batista.
Ainda de acordo com a presidenta da Fenatrad, em São Paulo “a situação é complicada, os sindicatos em São Paulo tem recebido denúncia de trabalhadoras obrigadas a ficar na casa de seus patrões, de trabalhadoras que são obrigadas a cuidar de idosos sem equipamento de proteção".
“Para nós, é ruim, temos o transporte público também, que está perigoso. Além disso, voltamos para casa e podemos transmitir para nossos familiares”, finaliza Batista.
Bancários
Uma das categorias que, por força do decreto, estarão nas ruas, são os bancários. Com as agências dos bancos abrindo normalmente, a categoria tem se organizado para tomar precauções, como explica Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
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“Infelizmente, sabemos que muitas pessoas vão nas agências receber vários benefícios. Então, nossa intenção é que o atendimento não seja interrompido, mas que não tenha essa multidão sendo atendida pelos bancários", afirma. Por conta disso, no autoatendimento das agências, por exemplo, os clientes dos bancos não encontram bancários. “Somente nos casos emergenciais", diz a sindicalista.
De acordo com Silva, alguns bancários conseguem trabalhar de casa, mas a preocupação maior é com a circulação dos clientes nas periferias. “Aqui em São Paulo, nos extremos da Zona Leste e Zona Sul, há poucas agências e as pessoas acabam andando 20 km ou 30 km para resolver um problema no banco", aponta.
Metalúrgicos
Todas as montadoras do ABC paulista, região que compreende os municípios de Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema, estão fechadas. Quem garante é Vagner Santana, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
O sindicalista explica que na primeira semana da quarentena, algumas empresas do setor ainda obrigaram seus trabalhadores à comparecerem aos espaços de trabalho. Porém, fazia parte de uma negociação com o sindicato, que resultará na paralisação completa da categoria até o final do mês.
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“Tem empresa aberta ainda. Na verdade, iniciamos um processo de conversa com as empresas, para paralisação a partir de segunda-feira. Parte dela fechou nessa segunda e a outra parte na próxima semana, com a lógica de toda a categoria parada até dia 30", afirma Santana.
Ele explica, porém, que não há como garantir a interrupção das atividades em todo o setor. “Algumas pequenas de metalurgia, máquinas e autopeças. Empresas que não chegamos, com 5, 10 ou 15 trabalhadores, que não conseguimos acessar.”
Metroviários
No Metrô, já são 10 trabalhadores contaminados com coronavírus e outros seis com suspeitas, de acordo com o Sindicato dos Metroviários de São Paulo. Wagner Fajardo, secretário-geral da entidade, explicou que a liminar conseguida pelos trabalhadores na última sexta-feira (20) tem garantido a redução de trabalhadores nas linhas.
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“Nós tivemos o afastamento de todos os trabalhadores com mais de 60 anos e os que são portadores de alguma doença. Isso reduziu algo entre 20% e 30% dos quadros”, explica Fajardo, que lamenta não ter ainda, “um plano para redução da frota oferecida ao público.”
Engenheiros
Os engenheiros se espalham em diversas empresas no estado. Da Construção Civil até a Sabesp, há profissionais do setor que ainda trabalham. Porém, Murilo Pinheiro, presidente do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, festeja uma adesão das empresas que considera “muito boa” no estado.
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“Eu falei a maioria, porque eu não posso falar sobre todos. As que conheço, todas estão indo em frente e estão fazendo esse isolamento e com os funcionários trabalhando de casa. Estão fazendo um trabalho que é o que está sendo dito", afirma.
Sistema Penitenciário
Os trabalhadores do sistema penitenciários estão preocupados com o avanço do coronavírus nas prisões paulistas. De acordo com o Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (Sifuspesp), 4 servidores já foram afastados, após testarem positivo para a doença e outros três estão com suspeita.
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Fábio Ferreira, presidente do Sifuspesp, está pessimista sobre o risco de contaminação. “A SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) demorou muito para tomar atitudes, ainda não temos EPIs (Equipamento de Proteção Individual) em todas as unidades. Com uma ação judicial, conseguimos pegar material para todas as unidades e também obrigamos o estado a afastar os servidores do grupo de risco, aponta.
Ainda assim muitos servidores do grupo de risco ainda estão indo para seus postos de trabalho diariamente, lamenta Ferreira. “Nós temos muitos trabalhadores que tem mais de 60 anos e está trabalhando normalmente, estamos aguardando o afastamento por parte da SAP", conclui.
Edição: Leandro Melito