Com seis casos suspeitos de coronavírus entre a população indígena do estado, o Ceará acendeu a luz de alerta para a possibilidade de propagação rápida da doença nas aldeias.
“As nossas populações indígenas tem que redobrar o cuidado. Nós estamos tomando todas as medidas com base nas orientações da OMS [Organização Mundial da Saúde], do Ministério da Saúde, da Secretaria de Saúde do Estado e das Secretarias Municipais. Estamos com um plano de contingência em todos os polos bases e todas as nossas equipes multidisciplinares de saúde indígena estão orientadas a como intervir e orientar em casos da doença”, afirma Neto Pitaguary, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena do Ceará (CondisiI/CE) e técnico em enfermagem.
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Aldeias fechadas para visitas
O movimento indígena no Ceará faz um apelo para que visitas às aldeias indígenas não sejam realizadas até que o perigo da alta propagação do novo coronavírus tenha passado. Assim como o deslocamento entre aldeias, comunidades e cidades sedes dos municípios devem ser evitadas. A determinação para que pessoas não indígenas não acessem os territórios indígenas vêm da Funai, do Ministério da Saúde e também da Sesai.
Para Weibe Tapeba, liderança indígena do povo Tapeba, assessor jurídico da Federação Estadual dos Povos Indígenas do Ceará (Fepoince) e vereador da cidade de Caucaia, barrar a entrada de pesquisadores, parceiros, e muitos vezes desavisados também, nas terras indígenas é uma estratégia de prevenção ao combate do coronavírus nas comunidades indígenas do Brasil.
"Nós entendemos que os povos indígenas por viverem em comunidade estão sujeitos nessa pandemia a uma possibilidade de ter um desastre nessas comunidades. Especialmente para as comunidades que estão afastadas dos centros urbanos e os povos indígenas de recente contato também. Se o grau de letalidade é grande na população não indígena, acreditamos que pra população indígena os impactos possam ser desastrosos.”
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O isolamento também tem sido uma estratégia dentro das aldeias indígenas para conter o avanço da contaminação. No entanto, algumas aldeias começaram a enfrentar também uma maior situação de vulnerabilidade social sofrendo com falta de alguns itens básicos.
Várias campanhas de solidariedade têm sido feitas no intuito de arrecadar fundos e mantimentos para as etnias mais vulneráveis e a Defensoria Pública da União no Ceará impetrou uma Ação Civil Pública requerendo a distribuição imediata de cestas de alimentos, material de higiene pessoal e equipamentos de proteção individual para atender as cerca de 1,3 mil famílias indígenas em quarentena no estado.
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Doenças dos brancos
Ao longo da história os povos indígenas sofreram com epidemias e doenças trazidas pelos não índios. O contágio por doenças como varíola, gripe, tuberculose, pneumonia, coqueluche, sarampo e outras viroses dizimaram inúmeros povos indígenas, levando milhares de pessoas pertencentes aos povos originários à morte.
Como afirma a própria Fundação Nacional do Índio (Funai), mesmo no século 20, aldeias inteiras foram destruídas por doenças pulmonares. Na América Latina, de um modo geral, apesar da exploração e das guerras pela conquista do território feitas pelos não índios, o que também dizimou grande parte da população originária foram as epidemias.
O mundo inteiro atravessa a pandemia da covid-19 e, novamente, as populações indígenas se encontram entre os grupos de povos e populações tradicionais que estão altamente vulneráveis e em risco.
Segundo o boletim epidemiológico da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) divulgado em 13 de abril, entre a população indígena brasileira há 21 casos suspeitos, 16 casos confirmados e 3 mortes causadas pelo novo coronavírus.
De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), as mortes por Covid-19 foram de uma senhora de 87 anos, da etnia Borari, em Alter do Chão (PA), um jovem Yanomami, de 15 anos, residente em Roraima e um homem, de 55 anos, da etnia Mura que morava na capital do Amazonas.
No site do Ministério da Saúde, é possível acompanhar o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) sobre a covid-19 entre os povos indígenas no Brasil.
Fonte: BdF Ceará
Edição: Rodrigo Chagas e Monyse Ravena