O representante do grupo opositor Plataforma Unitária, Biagio Pilieri, disse nesta quinta-feira (18) que só reconhecerá os resultados das urnas na Venezuela que tiverem sido acompanhados pela oposição. De acordo com ele, a campanha eleitoral “é desigual” e há “atropelos e abusos contra a opção democrática”. O pleito está marcado para 28 de julho.
“Vamos ter as atas de 30.026 mesas e dos mais de 15 mil centros de votação e vamos respeitar o que dizem essas atas num processo que tem de ser livre, democrático e transparente aquele dia. O que quer que as nossas atas digam ser a vontade do povo da Venezuela, é claro que vamos respeitá-los e temos certeza que essas atas vão dizer que Edmundo González será o presidente”, afirmou o ex-deputado.
A oposição do país tem usado uma campanha chamada “Defesa do Voto”, que consiste em mobilizar pessoas para fiscalizar os boletins de urna no dia do pleito e estimular as pessoas a irem votar pelo ex-embaixador Edmundo González Urrutia. Ele substitui a ex-deputada ultraliberal María Corina Machado, que está inabilitada pela Justiça venezuelana por 15 anos por "inconsistência e ocultação" de ativos na declaração de bens que ela deveria ter apresentado à Controladoria-Geral da República (CGR) enquanto foi deputada na Assembleia Nacional (2011-2014).
Essa não é a primeira vez que a oposição sinaliza que pode questionar o resultado das eleições da Venezuela. Em junho, oito dos 10 candidatos assinaram um acordo para respeitar o resultado das eleições. Urrutia se recusou a participar e não assinou o documento. Além dele, Enrique Márquez, do partido Centrados, também não assinou.
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O anúncio do representante da Plataforma Unitária foi feito em coletiva de imprensa convocada para denunciar supostos ataques que a campanha de Urrutia vem sofrendo. María Corina Machado publicou um vídeo na quinta-feira mostrando carros cobertos com tinta. De acordo com ela, os veículos estavam no estado de Lara, na região Centro-Oeste do país, e eram usados pela campanha. Ainda segundo Machado, as mangueiras de freio dos carros também foram cortadas.
A campanha, no entanto, não disse o que vai fazer em relação a isso, se vai apresentar provas para a denúncia ou se sequer vai prestar queixa nas autoridades policiais.
O grupo também usou a coletiva de imprensa para denunciar o que chamaram de “prisões arbitrárias” de pessoas ligadas à campanha de Edmundo González Urrutia. A Plataforma Unitária afirma que 77 pessoas da campanha foram presas nos últimos dias, entre elas, o chefe de segurança Milciades Ávila. María Corina Machado afirma que ele foi preso acusado de violência de gênero. Ávila foi solto nesta quinta-feira depois de passar por audiência de custódia.
“Banho de sangue”
Durante ato de campanha em Caracas, o presidente e candidato à reeleição Nicolás Maduro disse que a derrota do governo levaria a uma situação de instabilidade e violência na Venezuela. Ele afirmou que o país poderia cair em uma “guerra civil” caso o governo saia derrotado.
“O destino da Venezuela, no século 21, depende da nossa vitória em 28 de julho. Se não querem que a Venezuela caia num banho de sangue, numa guerra civil fratricida, produto dos fascistas, garantimos o maior sucesso, a maior vitória na história eleitoral do nosso povo”, afirmou em discurso nesta quinta-feira.
Nesta sexta-feira (19), o chefe de campanha do Partido Socialista Unidos de Venezuela (PSUV) justificou a fala de Maduro. Em coletiva de imprensa, afirmou que a oposição vai acusar fraude no processo eleitoral e não reconhecerá os resultados eleitorais. Ele afirmou que há a possibilidade de conflitos já que a parte mais extremista da oposição vai perseguir os chavistas, caso esteja no poder. Ele garantiu que o governo vai reconhecer o resultado das eleições e vai sair para as ruas para defender o resultado “nem que seja com a nossa própria vida”.
Maduro também falou que a única proposta dos candidatos que garante a paz é a proposta do governo. “Quanto mais forte for a vitória, mais garantias de paz teremos. Quanto mais fortes forem os votos, mais garantias de futuro vamos garantir a estas meninas e meninos”, disse.
O presidente também voltou a falar sobre o plano de desestabilização da extrema direita. Segundo o mandatário, há uma “sabotagem” interna que parte dos grupos opositores. Ele também comparou seu governo com o do presidente argentino, Javier Milei. De acordo com Maduro, o chefe do Executivo da Argentina transformou o país em uma “colônia gringa” e reforçou que “nem o fascismo nem o capitalismo chegarão à Venezuela”.
A acusação de planos da oposição vem uma semana depois de o Ministério Público venezuelano denunciar uma articulação entre um grupo de paramilitares colombianos e a oposição da Venezuela para planejar um atentado contra o presidente Nicolás Maduro e as eleições do país.
Edição: Rodrigo Durão Coelho