E agora?

Trump vai explorar ataque ao máximo, mas é cedo para dar eleição como decidida, diz James Green

Pesquisador estadunidense acredita que democratas estão em processo de autodestruição, mas vê disputa longe do fim

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |
A convenção nacional republicana começa nesta segunda sem alteração na agenda - AFP

O candidato Donald Trump deve utilizar o ataque ocorrido sábado em seu comício para ganhos políticos tendo em vista as eleições de novembro, mas o fato não significa necessariamente uma garantia de vitória no pleito. Essa é a opinião do pesquisador estadunidense James Green.

"Trump vai usar isso ao máximo, especialmente porque o Partido Democrata está em um processo de autodestruição interna com grandes divisões e está cada vez mais fraco", disse nesta segunda-feira (15) o professor da Brown University ao Brasil de Fato

De Nova York, o pesquisador também vê semelhanças entre o incidente do final de semana e a facada que alavancou a candidatura de Jair Bolsonaro na corrida presidencial de 2018. Ele diz que, "mais uma vez, a realidade brasileira e a dos EUA são muito parecidas e claro que nos lembramos do atentado contra o Bolsonaro que ajudou muito ele nas pesquisas, reforçando sua candidatura como vítima".

Ainda assim, Green diz que ainda é cedo para dar o pleito como decidido. O pesquisador ressalta que muita coisa pode acontecer nos mais de três meses até a votação.

"Um elemento que é difícil analisar é o papel das mulheres especialmente nos estados determinantes, os swing states [estados-pêndulo] onde há a questão do aborto, que pode ser integrado como direito absoluto na Constituição. A eleição depende dos estados-pêndulo, como Arizona, Nevada e algum outro que pode apresentar surpresas", diz.

Repubicanos culpam democratas

A convenção do Partido Republicano que ocorre a partir desta segunda-feira (15) até a quinta terá, inevitavelmente, o ataque como pano de fundo. O encontro em Milwaukee definirá o vice na chapa e dois dos pretendentes já se manifestaram culpando os rivais democratas pelo ocorrido.

O favorito, o senador de Ohio JD Vance, disse que a retórica da campanha de Biden “levou diretamente à tentativa de assassinato do presidente Trump”. Tim Scott, o senador da Carolina do Sul, disse que a “retórica inflamatória dos democratas coloca vidas em risco”. 

Já o aliado de Trump, o republicano Mike Collins, da Georgia, também acusa diretamente o atual presidente dos Estados Unidos. “Joe Biden enviou as ordens”, escreveu nas redes sociais.

O atirador, que foi morto pela polícia, era Matthew Crooks, de 20 anos de idade e filiado ao Partido Republicano. Ele morava com os pais, era auxiliar de cozinha e segundo o Pentágono, não tinha formação militar.

Ainda assim, o dono do X, - plataforma onde foram publicadas as acusações dos candidatos a vice de Trump - Elon Musk, foi rápido em opinar sobre uma conspiração sobre como o atirador poderia ter chegado tão perto: “Ou extrema incompetência ou foi deliberado”, escreveu ele.

Empatia

A Convenção Nacional Republicana vai proclamar oficialmente Trump candidato para as eleições de 5 de novembro. A reunião às margens do lago Michigan deve atrair cerca de 50 mil republicanos e culminará com seu discurso de aceitação na quinta-feira. Trump pode indicar o vice em qualquer momento durante o evento.

"A imagem de Trump ferido já viralizou nas redes sociais e será usada ad nauseam por sua campanha para gerar empatia e reforçar a narrativa de que ele é perseguido. Com isso, pode conseguir muitos votos e reforçar seu favoritismo na eleição de novembro" escreveu o comentarista político Leonardo Sakamoto. 

"Para efeito de comparação sobre a força de um atentado, em 6 de setembro de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro foi alvo de um durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG). A facada que levou de Adélio Bispo, um lobo-solitário com problemas mentais, gerou uma onda de empatia a seu favor que contribuiu com a sua eleição", completa. 

Edição: Lucas Estanislau