Análise

Ataque em comício de Trump leva extrema direita a adotar mito do herói perseguido e vitimizado

No Brasil, o ataque movimentou as redes bolsonaristas, que estavam na defensiva diante dos inquéritos policiais no país

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Apoiadores de Donald Trump, cantam o hino nacional um dia após ataque a comício do candidato republicano no sábado, 13 de julho - DAVID SWANSON / AFP

O ataque durante o comício do ex-presidente e candidato republicano nas eleições de novembro nos Estados Unidos, Donald Trump, no sábado (13), direcionou o discurso da extrema direita mundial para a dimensão da "paranóia e conspiração", aponta o historiador Miguel Stedile. 

Ele considera que o desempenho de Trump na disputa, que aparece nas pesquisas à frente do democrata Joe Biden, serviu como "um combustível poderoso para alimentar a extrema direita mundial, seja pela capacidade de propaganda nas declarações do candidato, seja pelos resultados".

"A curto prazo, o atentado direciona os discursos para dimensão de paranoia e de conspiração e do mito do herói perseguido e vitimizado, que supera estes obstáculos superando outras narrativas que predominavam na campanha e neste campo, como a imigração e a economia."

A longo prazo, aponta Stedile, o ataque ao comício republicano pode devolver o eixo de direção da extrema direita, que hoje está na Europa, para os EUA e "referendar a posição de Trump de líder de um campo onde outras lideranças se projetaram, inclusive nos Estados Unidos".

Influenciadores da extrema direita fortaleceram as teorias de que o ataque foi um complô. A maior parte delas afirma que o crime foi cometido pelo que chamam de deep state (Estado profundo, em português), suposta rede de poder paralelo que teria controle do mundo.

As postagens também incitam o pânico, com afirmações de que novos ataques irão ocorrer e que uma guerra civil é iminente, além de acusações de envolvimento dos serviços secretos de inteligência e segurança dos Estados Unidos.

América do Sul

No Brasil, o ataque movimentou as redes bolsonaristas, que também passaram a disseminar postagens conspiratórias sobre o evento. 

Um ato esvaziado chegou a realizado neste domingo (14) na Avenida Paulista, onde bolsonaristas vestindo verde e amarelo foram às ruas para prestar solidariedade a Trump. Em pequeno número, os manifestantes ocuparam menos de um quarteirão em apenas um dos sentidos da via, no horário em que a avenida estava aberta apenas para pedestres.

Stedile aponta que o bolsonarismo é a fração da extrema direita mais próxima de Trump no Brasil e "de alguma forma, também se beneficia internamente, para motivar sua base social", mas avalia que isso, por si só, "não é suficiente para 'extrapolar a bolha' ou para reverter derrotas recentes como os inquéritos policiais ou que possam provocar uma anistia e colocar Bolsonaro na campanha presidencial de 2026".

O presidente da Argentina Javier Milei fez ataques diretos e disse que o crime foi fruto do “desespero da esquerda internacional”, que recorre ao “terrorismo”. Ele foi o único chefe de Estado que endossou as teorias conspiratórias.

Nas palavras dele, a oposição à direita, “está disposta a desestabilizar as democracias e promover a violência para se enraizar no poder. Com pânico de perder nas urnas, recorrem ao terrorismo para impor sua agenda retrógrada e autoritária.”

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho