Ainda não acabou

Baixa do Guaíba permite mutirões de limpeza, mas RS volta a acender alerta de chuvas volumosas e frio intenso

Segue em 157 o número de mortos e em 88 os desaparecidos; 657.821 pessoas ainda não conseguem voltar para casa

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Em Porto Alegre, o nível do Guaíba recua 17 cm, mas segue 1,38 metro acima do limite de transbordamento - Rafa Neddemeyer / Agência Brasil

Entre domingo (19) e esta segunda-feira (20), o número de mortos e desaparecidos vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul se manteve o mesmo, segundo a Defesa Civil. São 157 vítimas fatais das chuvas que começaram em 27 de abril e já afetam 93% dos municípios gaúchos. Outras 88 pessoas ainda não foram encontradas.

As autoridades contabilizam 581.633 pessoas desalojadas e outras 76.188 que, além disso, estão vivendo em abrigos. São 2,3 milhões de pessoas atingidas por esta que já é considerada a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul.

Mutirões de limpeza e a reabertura de comércios em cidades como a capital gaúcha foram possíveis com o tempo firme nos últimos dias e a queda do nível do Guaíba. As previsões, no entanto, são de alerta.  

De acordo com o MetSul Meteorologia, chuvas volumosas devem atingir o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná entre terça e sexta-feira. A intensificação do frio, com uma massa de ar polar que já se instala no estado gaúcho, deve derrubar ainda mais as temperaturas. No próximo final de semana, os termômetros podem marcar abaixo de zero em diversas regiões, com geadas.

Enquanto isso, o governador Eduardo Leite (PSDB) afirmou, em entrevista à Folha, que sua gestão estava ciente da possibilidade de grandes enchentes causadas pelas chuvas. Estudos apontavam o risco iminente. Disse que o governo não investiu mais recursos na prevenção do desastre pois havia "outras agendas".

Segundo Leite, a pauta "que se impunha" era a do "restabelecimento da capacidade fiscal do estado": "Cumprimos essa tarefa, porque agora estamos diante dessa crise enorme com capacidade fiscal para enfrentá-la".

Outras pautas aparentemente se impuseram também à gestão municipal de Porto Alegre, a cargo de Sebastião Melo (MDB). Dos R$ 27 bilhões gastos pela prefeitura de 2021 para cá, apenas R$ 11,6 milhões foram investidos em ações de defesa civil. Os números estão no Relatório Resumido da Execução Orçamentária enviado todos os anos pela prefeitura ao Ministério da Fazenda.

O período abarca as duas últimas enchentes no segundo semestre do ano passado. Em setembro de 2023, as cheias no Vale do Taquari deixaram 49 mortos.

"Cidades temporárias"

Questionado sobre as chamadas cidades "provisórias" ou "temporárias", que sob críticas de movimentos sociais e urbanistas, têm sido aventadas por governantes como uma solução de curto prazo para as dezenas de milhares de pessoas que estão em abrigos, Eduardo Leite disse que estão sendo "projetadas".

A estimativa do governo gaúcho é que de 10% a 15% das pessoas desabrigadas sejam direcionadas a essas estruturas provisórias. Para entidades como o Observatório das Metrópoles, é possível que esses locais sejam como grandes campo de refugiados climáticos.

Edição: Nicolau Soares