O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela emitiu comunicado nesta terça-feira (26) respondendo nota do Itamaraty sobre as eleições do país. Segundo o governo venezuelano, o texto do Brasil parece “ter sido escrito pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos”.
De acordo com o texto da chancelaria venezuelana, a declaração do governo do Brasil é carregada de “ingerência e parece ter sido escrita pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, onde são emitidos comentários com profunda ignorância sobre a realidade política na Venezuela”.
Mais cedo, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil havia emitido nota dizendo que acompanha o processo com "expectativa e preocupação".
"Com base nas informações disponíveis, observa que a candidata indicada pela Plataforma Unitária, força política de oposição, e sobre a qual não pairavam decisões judiciais, foi impedida de registrar-se, o que não é compatível com os acordos de Barbados", afirmou o Itamaraty no texto.
Ainda de acordo com a chancelaria venezuelana, o país nunca “emitiu e nem emitirá juízos de valor sobre os processos políticos e judiciais” que acontecem no Brasil e pediu “respeito pelo princípio da não ingerência nos assuntos internos e pela nossa democracia, uma das mais robustas da região”.
A nota venezuelana termina agradecendo o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por condenar o bloqueio e as sanções impostos pelos Estados Unidos sobre a Venezuela.
A declaração do Brasil foi feita no dia seguinte ao encerramento das inscrições para as eleições de 2024. O fechamento do registro eleitoral foi contestado pelo grupo Plataforma Unitária da ex-deputada María Corina Machado. Ela está inabilitada por 15 anos e escolheu a filosofa Corina Yoris para ocupar o seu lugar na disputa. No entanto, o grupo afirma que, desde a abertura das inscrições, não conseguiu registrar um candidato por não ter acesso ao sistema de registro no site do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
A oposição chegou a pedir a prorrogação do prazo para as inscrições por 3 dias, mas não foi aceito pelo CNE, que manteve o prazo estipulado no calendário eleitoral.
Lula tem acompanhado o pleito venezuelano. O presidente disse no começo de março que os candidatos que fosse derrotados nas eleições presidenciais da Venezuela não poderiam ter o mesmo comportamento do brasileiro derrotado no último pleito. Em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o chefe do Executivo disse que há candidatos brasileiros que perderam e “não aceitaram o resultado”. Ele também pediu que as eleições sejam “as mais democráticas possíveis”.
Colômbia também se manifesta
O governo da Colômbia também criticou o CNE venezuelano e disse que estava "preocupado" com a "dificuldade de inscrição de algumas candidaturas". O Ministério das Relações Exteriores do país, no entanto, destacou que respeita a "autonomia e soberania" do povo venezuelano.
O pleito está marcado para 28 de julho. O cronograma das eleições foi definido depois de uma mesa de diálogo na Assembleia Nacional que reuniu diferentes partidos, especialistas e integrantes do Conselho Nacional Eleitoral. Depois de um mês de debate, o grupo redigiu um documento com 27 propostas de calendário eleitoral que foi analisado pelo CNE.
A data escolhida está dentro do estipulado pelo acordo assinado em Barbados entre governo e oposição e coincide com o aniversário de 70 anos de Hugo Chávez. No documento firmado no final de outubro, foi definido que o pleito seria realizado no segundo semestre de 2024 e teria a participação de observadores estrangeiros.
Após o anúncio do calendário, o CNE formalizou o convite à Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Comunidade do Caribe (Caricom), União Africana, União Europeia, especialistas da ONU, Brics e o Centro Carter dos Estados Unidos para observar as eleições de 2024 no país.
Edição: Rodrigo Durão Coelho