O governo da Venezuela confirmou a prisão do policial argentino Nahuel Gallo em 8 de dezembro, tentando entrar em território venezuelano. Caracas acusa o agente de segurança de tentar entrar no país para "cumprir uma missão" dentro de uma série de planos de desestabilização da política venezuelana.
De acordo com a chancelaria argentina, Gallo estava tentando cruzar a fronteira da Colômbia com a Venezuela pela ponte Francisco de Paula Santander, que faz a ligação entre o estado de Táchira, na Venezuela, com a cidade de Cucuta, em território colombiano. O governo da Argentina afirmou que ele tinha o propósito de "visitar a sua família", incluindo a sua companheira e seu filho.
O ministro do Interior e Justiça da Venezuela, Diosdado Cabello, confirmou a prisão do argentino e questionou as reais motivações da sua entrada na Venezuela. Segundo ele, o agente afirmou que ganhava apenas US$ 500 (pouco mais de R$ 3 mil) por mês e viajava para diferentes países do mundo, sem justificar recursos para isso.
“Ele viaja por todo o mundo, mas seu salário é de US$ 500. Como você consegue isso? O que você veio fazer na Venezuela? Qual foi sua tarefa aqui na Venezuela? Eles não dizem isso. Eles ficaram chateados porque enviaram um agente para cumprir uma missão, e não é que tenham abortado a missão. Não. Nós demos um duro golpe graças aos órgãos de segurança do Estado", disse ele.
Ele é acusado de espionagem pelo governo venezuelano e foi levado ao centro de inteligência para explicar a sua situação na Venezuela.
O governo de extrema direita de Javier Milei disse que a prisão do policial não foi justificada. A ministra da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, afirmou que a prisão foi um "sequestro" e divulgou o que seriam as viagens de Gallo em uma planilha, para mostrar que o governo argentino acompanha a movimentação dos seus agentes de segurança. O próprio presidente disse que vai esgotar todas as alternativas para retornar o agente de segurança "são e salvo". Ele também chamou o presidente Nicolás Maduro de "ditador ciminoso".
O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, também respondeu ao governo argentino. De acordo com ele, o agente de segurança está sendo processado dentro das leis venezuelanas. O chanceler pediu também que os argentinos "deixem o desespero" e assumam as consequências de uma conduta que "envergonha o povo argentino".
“Os loucos que governam a Argentina, o absurdo político de Milei e da (ministra da Segurança) Patricia Bullrich, foram descobertos em flagrante tentando introduzir elementos violentos na Venezuela. isso os implica em um plano terrorista", disse.
A situação envolvendo o policial argentino se soma a um impasse na embaixada argentina em Caracas. Seis venezuelanos opositores que têm mandado de prisão estão exilados na residência oficial da Argentina. Na semana passada, Buenos Aires pediu que o governo da Venezuela conceda salvos-condutos para os opositores.
A chancelaria argentina acusou o governo venezuelano de promover cortes de água e de energia, restrição para a entrada de alimentos e fiscalização das forças de segurança ao redor da embaixada.
Os seis venezuelanos opositores que estão na embaixada são: Magalli Meda, diretora de campanha da ex-deputada ultraliberal María Corina Machado; Omar González, Claudia Macero e Humberto Villalobos, do grupo Vente Venezuela; Fernando Martínez Mottola, ex-ministro e assessor da coalizão opositora Plataforma Unitária; e Pedro Urruchurtu.
Os seis são acusados de organizar e participar de planos golpistas na Venezuela. A principal delas é Magalli Meda, denunciada pelo Ministério Público de ter organizado em dezembro de 2023 uma reunião para coordenar um plano de ações de desestabilização do país que começaria em um protesto de rua em 15 de janeiro. Depois, em 23 de janeiro, uma marcha também seria realizada no dia que marca os 66 anos do fim da ditadura na Venezuela.
Na semana passada, o governo argentino também denunciou a prisão de um funcionário venezuelano que trabalhava na embaixada argentina. Buenos Aires denunciou a "violação das normas internacionais" que garantem a inviolabilidade das sedes dilplomáticas e a "proteção dos seus funcionários".
No entanto, para especialistas em direito internacional ouvidos pelo Brasil de Fato, a medida não viola as normas que regulam a relação entre os dois países, já que o funcionário preso não era diplomata nem cidadão argentino. Ele também foi detido fora das dependências da embaixada.
Além do governo argentino, a Colômbia também pediu que o funcionário seja solto e disse que a situação dos exilados na embaixada desrespeita o Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
A embaixada argentina na Venezuela é custodiada pelo Brasil desde que o governo de Nicolás Maduro determinou a expulsão do corpo diplomático da Argentina e outros 6 países da América Latina que acusaram fraude na eleição presidencial em 28 de julho.
A custódia é uma ferramenta para que um país assuma a representação diplomática de outro governo. O Brasil havia assumido a embaixada da Argentina e do Peru no começo de agosto atendendo a um pedido de MIlei, após o governo de Maduro ter determinado a expulsão do corpo diplomático de sete países da América Latina que acusaram fraude na eleição presidencial sem apresentar provas.
Milei x Maduro
Venezuela e Argentina cortaram relações diplomáticas depois da eleição do atual mandatário argentino e os dois presidentes têm trocado farpas pela imprensa. Milei já chamou Maduro de "ditador" e disse que encabeçaria uma articulação contra a Venezuela para que as sanções contra o país aumentassem.
A relação entre os dois países piorou desde o envio do avião da estatal venezuelana Emtrasur aos Estados Unidos. A aeronave estava retida desde junho de 2022 em Buenos Aires por uma cooperação judicial entre Argentina e Estados Unidos. Cerca de dois meses depois da posse de Milei, o avião foi confiscado pelos EUA e enviado para a Flórida. O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela disse que o avião havia sido "roubado".
Depois disso, a Venezuela fechou o espaço aéreo para voos que tenham como origem ou destino a Argentina.
O caso do avião escalou e, em setembro, a Justiça da Venezuela determinou uma ordem de prisão preventiva contra o presidente da Argentina, Javier Milei, e outros dois funcionários do governo. A sentença foi emitida pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) depois de um pedido do Ministério Público. A decisão, no entanto, não tem caráter internacional e só é válida se Milei entrar na Venezuela.
Em resposta, a Câmara Federal da Cidade de Buenos Aires determinou uma ordem de prisão contra o chefe do Executivo venezuelano, Nicolás Maduro, e o ministro Diosdado Cabello. Eles são acusados pelo governo argentino de terem cometido crimes de "lesa humanidade". O pedido havia sido feito no começo de 2023 e foi apresentado pelo grupo Fórum Argentino para a Defesa da Democracia (FADD).
Edição: Rodrigo Durão Coelho