A Venezuela encerrou nesta segunda-feira (25) as inscrições de candidaturas para as eleições presidenciais de 2024. Ao todo, 12 candidatos estão inscritos para o pleito que será realizado em 28 de julho.
No entanto, segundo o presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Elvis Amoroso, uma candidatura foi registrada durante a madrugada e está sendo analisada pelo órgão eleitoral. Ele, no entanto, não disse quem era o candidato e não especificou se a inscrição foi feita antes ou depois do prazo estipulado (23h59 de 25 de março).
O fechamento dos registros foi marcado pela candidatura do presidente Nicolás Maduro. Ele foi acompanhado por milhares de manifestantes que se reuniram em Caracas para acompanhar a cerimônia de registro no CNE. O candidato do governo buscará a reeleição para um 3º mandato.
O fechamento do registro eleitoral foi contestado pelo grupo Plataforma Unitária da ex-deputada María Corina Machado. Ela está inabilitada por 15 anos e escolheu a filosofa Corina Yoris para ocupar o seu lugar na disputa. No entanto, o grupo afirma que, desde a abertura das inscrições, não conseguiu registrar um candidato por não ter acesso ao sistema de registro no site do CNE.
A ex-deputada ultraliberal reforçou nesta terça-feira (26) que sua candidata é Corina Yoris e descartou apoiar o governador de Zulia, Manuel Rosales. Em declaração à imprensa, disse que "o regime escolheu seu candidato". Afirmou também que "traições e decepções se tornam lições" sem explicar a quem fazia referência.
A oposição chegou a pedir a prorrogação do prazo para as inscrições por 3 dias, mas não foi aceito pelo CNE, que manteve o prazo estipulado no calendário eleitoral.
O nome que ganha força da oposição neste momento é o de Manuel Rosales, governador do Estado de Zulia, que se inscreveu na noite de 25 de março. O líder do partido Um Novo Tempo já concorreu às eleições em 2006 e perdeu para o então presidente Hugo Chávez. Agora, ele tentará reunir capital político e eleitoral para a disputa contra Maduro.
Rosales se encontrou na semana passada com María Corina Machado para discutir a possibilidade de substituir a candidata da Plataforma Unitária. O governador de Zulia colocou o seu partido à disposição para participar do pleito, mas os dois não chegaram a um acordo.
Os candidatos
Além de Maduro e Rosales, serão outros 10 candidatos disputando as eleições. O primeiro a se inscrever foi Luis Eduardo Martínez, da Ação Democrática. Ele é deputado e reitor da Universidade Tecnológica do Centro. Disse que vai “transformar a Venezuela” e prometeu acabar com a reeleição indefinida.
Enrique Márquez será o candidato do Centrados. Ele foi deputado e vice-presidente do CNE. Disse que buscará o voto de “cada venezuelano sem se considerar dono da verdade” e que o país não precisa mais de “dirigentes políticos que perderam a sensibilidade”.
Benjamín Rausseo representará a Confederação Nacional Democrática (Conde). Ele é empresário e humorista e chegou a se inscrever para as eleições de 2006, mas não participou. Apesar da pouca experiência política, disse conhecer o país e afirmou que colocará os educadores no centro do debate venezuelano.
O candidato Antonio Ecarri será o representante da Alianza Lápiz. Além de presidente do partido, ele já foi vereador de Chacao e disputou as eleições para a prefeitura de Caracas em 2021. Durante a pré-campanha, disse que seu objetivo será trazer de volta os filhos e netos de venezuelanos que saíram do país, para que a Venezuela volte a “ser um lugar para todos”.
O ex-prefeito de San Cristóbal Daniel Ceballos será o candidato da Aliança Política Renovação e Esperança (Arepa). Ele também foi deputado no Estado de Táchira. Ele disse que será uma “alternativa” para reconstruir o país.
Claudio Fermín foi inscrito pelo partido Soluções pela Venezuela. Ele já foi prefeito de Libertador, deputado federal e disputou as eleições presidenciais de 1993, perdendo para Rafael Caldera com 23% dos votos. Segundo ele, a Venezuela está imersa no conflito e na hostilidade e disse que vai buscar “entendimentos entre os diferentes lados”.
Javier Bertucci será o candidato do El Cambio. Ele é deputado, pastor da Igreja Maranatha Venezuela e fundador do movimento Evangelho Transforma. Foi candidato nas últimas eleições presidenciais, em 2018, recebendo 10,82% dos votos. Disse que vai buscar a “reunificação e a tolerância no país” e que seu governo terá 3 pilares: economia, saúde e educação.
O candidato do Copei será Juan Carlos Alvarado. Ele também é deputado e disse que seu partido, depois de 30 anos, tem uma “candidatura plural” que expressa a vontade do povo venezuelano.
Luis Ratti se apresenta como um candidato independente, mas está inscrito pela Direita Democrática Popular. Se colocou como candidato em 2018, mas também desistiu de participar do pleito. Afirmou que será uma “oposição diferente da que se conhece”.
O deputado José Brito também se inscreveu como representante dos partidos Primeiro Venezuela, Min-Unidade e Unidade Visão Venezuela. Entre seus objetivos estão a “estabilidade política e o desenvolvimento econômico”.
Brasil e Colômbia monitoram
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu uma nota dizendo que acompanha o processo com "expectativa e preocupação".
"Com base nas informações disponíveis, observa que a candidata indicada pela Plataforma Unitaria, força política de oposição, e sobre a qual não pairavam decisões judiciais, foi impedida de registrar-se, o que não é compatível com os acordos de Barbados", afirmou o Itamaraty em nota.
O governo da Colômbia também criticou o CNE venezuelano e disse que estava "preocupado" com a "dificuldade de inscrição de algumas candidaturas". O Ministério das Relações Exteriores do país, no entanto, destacou que respeita a "autonomia e soberania" do povo venezuelano.
O pleito está marcado para 28 de julho. O cronograma das eleições foi definido depois de uma mesa de diálogo na Assembleia Nacional que reuniu diferentes partidos, especialistas e integrantes do Conselho Nacional Eleitoral. Depois de um mês de debate, o grupo redigiu um documento com 27 propostas de calendário eleitoral que foi analisado pelo CNE.
A data escolhida está dentro do estipulado pelo acordo assinado em Barbados entre governo e oposição e coincide com o aniversário de 70 anos de Hugo Chávez. No documento firmado no final de outubro, foi definido que o pleito seria realizado no segundo semestre de 2024 e teria a participação de observadores estrangeiros.
Após o anúncio do calendário, o CNE formalizou o convite à Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Comunidade do Caribe (Caricom), União Africana, União Europeia, especialistas da ONU, Brics e o Centro Carter dos Estados Unidos para observar as eleições de 2024 no país.
Edição: Lucas Estanislau