No Equador, o presidente Guillermo Lasso confirmou que irá participar da mesa de diálogo convocada pela Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie) durante a greve geral. Seis das 24 províncias do país permanecem sob estado de sítio, decretado na última segunda-feira (20). Após nove dias de mobilizações, cerca de 80 pessoas foram detidas, 74 feridas e duas faleceram, segundo levantamento de organizações de direitos humanos.
"O governo nacional acolheu grande parte das sugestões apresentadas pela agenda da Conaie, com medidas compensatórias anunciadas publicamente, mas estamos conscientes de que o processo de solução dos problemas do país é dinâmico", declarou o mandatário em nota.
O ministro de Produção Júlio José Prado assegura que a greve gerou cerca de US$ 110 milhões em perdas para o comércio e turismo. Antes de encontrar-se com representantes de cerca de 300 organizações populares, o Executivo reuniu-se com 35 empresários e anunciou um crédito de US$ 20 milhões para atender os prejuízos.
A mesa de diálogo entre governo e representantes do setor mobilizado seria mediada por uma comissão independente, apoiada pela União Europeia e especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) no Equador.
Ao mesmo tempo que Lasso diz estar disposto a negociar, continua caracterizando as manifestações como violentas e assegurando que retiram direitos das maiorias.
El Ecuador no necesita más caos, el #EcuadorQuierePaz. Miles de ciudadanos quieren abrir sus negocios y salir a trabajar, pero se ven afectados por la violencia de unos pocos. pic.twitter.com/1d8CB1u7Jj
— Guillermo Lasso (@LassoGuillermo) June 21, 2022
Com o decreto de estado de sítio, o chefe do Executivo autorizou o controle das Forças Armadas nas regiões com maior concentração da população indígena do país.
Na última terça-feira (21), o dirigente indígena Byron Guatatoca morreu após sofrer o impacto de uma bomba de gás lacrimogêneo na cabeça, durante um ato em Pastaza - um das províncias sob estado de exceção.
Na segunda-feira (20), um jovem de 22 anos morreu durante as manifestações na região norte de Quito, segundo a polícia, fruto da queda em uma ponte. Outras quatro pessoas permanecem internadas em estado grave pelo incidente.
A Aliança de Organizações pelos Direitos Humanos solicita uma investigação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). "Denunciamos a atuação negligente dos policiais e militares, que fizeram o mau uso das armas, disparando bombas diretamente no corpo dos manifestantes", escrevem em comunicado.
Para sentar-se a dialogar, o movimento indígena exige que o governo suspenda o estado de exceção e desmilitarize a Casa de Cultura do Equador e o Parque Arbolito, pontos de concentração e organização dos indígenas em Quito.
"Aqui não estamos declarando guerra de indígenas contra o governo. Somos equatorianos também. Não nos vejam como vândalos, não nos discriminem, isso só atrai o ódio", disse o presidente do Conselho de Povos e Organizações Indígenas Evangélicas do Equador (FEINE), Eustaquio Tuala.
O dirigente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), Leonidas Iza, também pediu apoio da Igreja para abrigar os contingentes indígenas que vieram do interior do país para os atos e assembleias na capital. "Não nos tratem como criminosos, nunca fomos criminosos, nem violentos. O que estamos pedindo são condições mínimas para estabilizar a produção nacional. Nós também produzimos, queremos que o governo nos escute", declarou.
A Conaie iniciou uma paralisação nacional no dia 13 de junho para pressionar o governo por uma agenda de dez pontos, que incluem subsídios aos combustíveis, oferta de empregos, fim da mineração nos territórios indígenas, maiores investimentos em saúde e educação, e a garantia de que não haverá privatização de novos setores da economia.
Em resposta, Lasso anunciou uma série de medidas no último domingo (19), entre elas, o aumento de US$ 5 no valor do bônus de Desenvolvimento Humano, pago a 1 milhão de famílias vulneráveis; o subsídio de 50% no preço dos fertilizantes a pequenos e médios agricultores; perdão de dívidas de até US$ 3 mil em créditos no BanEcuadro; e o compromisso de não privatizar setores estratégicos do país.
Edição: Thales Schmidt