PARALISAÇÃO NACIONAL

Colômbia: CIDH finaliza visita ao país, e organizações asseguram que greve continua

Depois de 45 dias de mobilização, comitê de greve rechaçou "modernização" da Polícia Nacional anunciada pelo presidente

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Grevistas se dividem entre assembleias populares e comitê nacional de paralisação para definir futuro da greve geral - Colombia Informa

A semana foi movimentada na Colômbia, que já vive 45 dias de paralisação nacional, e continua sem perspectiva de acordo entre grevistas e o governo de Iván Duque. O presidente colombiano anunciou uma "modernização" da Polícia Nacional, que foi rechaçada pelo Comitê Nacional de Paralisação. Por outro lado, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) finalizou sua visita oficial ao país sem apresentar um informe conclusivo. 

:: Acompanhe cobertura completa da Greve Geral na Colômbia :: 

Segundo pesquisa de opinião realizada pelo Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (Celag), 74,5% da população colombiana apoia o movimento e 48,2% se declara 'antiuribista' - corrente política do partido governante Centro Democrático.


A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) visitou Bogotá e Cali para verificar as denúncias de abuso policial / CIDH

Violação de direitos humanos

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) visitou o país entre os dias 7 e 10 de junho, reunindo-se com representantes do governo nacional, das forças de segurança, prefeitos e Ministério Público, além do Comitê Nacional de Paralisação e organizações não governamentais. 

A presidenta da Comissão, Antonia Urrejola, afirmou que as atividades foram satisfatórias, mas não deu detalhes sobre o informe que será elaborado sobre a situação dos direitos humanos na Colômbia. 

No último dia no país, a CIDH se reuniu com os grevistas, que apresentaram cinco demandas centrais: 1) que o governo cumpra com os pré-acordos e garantias do direito à manifestação pacífica; 2) que a comissão intervenha imediatamente para impedir a brutalidade policial; 3) criação de uma regulamentação sobre o direito ao protesto na Colômbia; 4) formação de uma comissão independente de investigação das denúncias; 5) respeito ao Acordo de Paz, assinado em 2016.

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O Instituto de Desenvolvimento da Paz (Indepaz), o Programa de Ação Pela Igualdade e Inclusão (Paiis) e a ONG Temblores entregaram um relatório com denúncias coletadas entre 28 de abril e 31 de maio que apontam o uso sistemático de armas de fogo contra manifestantes, a presença de agentes não identificados entre os policiais e ação de paramilitares. 

No período compreendido pelo informe, foram regitrados 3.789 casos de violência policial, 1.649 prisões arbitrárias, 346 desaparecidos e 25 denúncias de abuso sexual. Do dia 28 de abril até 10 junho, também foram contabilizados 76 homicídos, segundo Indepaz.

Já o Ministério da Defesa aponta 19 mortos, 1.106 civis feridos e 1.253 policiais lesionados.


Grupo paramilitar Águia Negras distribuiu panfleto com ameaças de morte a lideranças da paralisação no município de Facatativá, cerca de 50km a oeste de Bogotá / Reprodução

Reforma policial 

O chefe de Estado colombiano apresentou uma proposta com dez pontos para modernizar as forças de segurança, incluindo a elaboração de um novo estatuto de disciplina, um projeto de lei que determine critérios claros para o uso da força policial, compra de uniformes com câmeras acopladas e a criação de 'quadrantes da vizinhança', para que os colombianos se incorporem à vigilância das residências.

Além disso, Duque propôs criar um Vice-ministério de Políticas de Defesa e Segurança Cidadã.

::Iván Duque representa uma “ultradireita miliciana”, afirma ativista colombiana::

O Comitê Nacional de Paralisação afirma que os anúncios não passam de discurso, já que Duque fala em participação das autoridades civis e da sociedade em geral sem levantar o decreto de intervenção militar em oito estados e 13 municípios, e sem respeitar os pré-acordos estabelecidos com os grevistas. 

"Não basta dizer que haverá mais formação de direitos humanos na polícia ou que serão criados novos organismos para apresentar queixas internas. Tudo é cosmético", declarou o senador opositor Iván Cepeda (Polo Democrático).


Cerca de 2.000 pessoas se reuniram durante três dias no distrito de Bosa, ao sul de Bogotá, para discutir a agenda de reivindicações da paralisação / Congreso de los Pueblos

Assembleia Popular

Nesta semana, movimentos camponese e organizações sociais que não se sentem representadas pelo comitê de greve reuniram cerca de 2.000 pessoas na zona sul de Bogotá em uma assembleia popular.

O encontro decidiu pela convocatória permanente de atos nacionais todas as quartas-feiras, pela realização de uma Assembleia Popular em Cali e o pedido ao Comitê Nacional de Paralisação para que assuma a tática assembleísta para atender as demandas dos distintos setores que permanecem em paralisação nacional. 

Enquanto isso, as manifestações não param, assim como as denúncia de violência. Na noite da última quinta-feira (10), um homem, que viajava em um carro próximo aos atos em Cali, foi morto depois de ser atingido por um projétil disparado pela polícia.

Em Bogotá, também na noite de ontem, uma criança de 6 anos teve de ser atendida às pressas por paramédicos que prestam apoio aos manifestantes, depois de ser asfixiada por uma bomba de gás lacrimogêneo lançada pela polícia dentro da sua residência. 

Em Facatativá, município localizado 51km a oeste da capital colombiana, defensores de direitos humanos foram jurados de morte pelo grupo paramilitar Águias Negras. Um panfleto assinado pelo grupo afirma que "com ajuda militar, pudemos chegar a Facatativá, e vamos torturar, quebrar você e suas famílias se seguirem com isso".

Edição: Vinícius Segalla