Conhecido na Índia como Mahila Kisan Diwas, dia 18 de janeiro marca o Dia das mulheres camponesas, que este ano será celebrado em meio a protestos de camponeses de todo o país contra o governo do direitista Narendra Modi. As manifestações começaram em setembro do ano passado após a aprovação de três controversas leis agrícolas que visam maior inserção do setor privado na agricultura indiana.
Os protestos massivos já contam não só com a participação, mas também com a liderança das mulheres, já que elas representam 75% da mão de obra camponesa do país. Apesar deste fato, no dia 11 de janeiro, o presidente da Suprema Corte indiana, Sharad Arvid Bobde, questionou “o que mulheres e idosos ainda faziam lá [nos protestos]”.
“As mulheres lideram, e continuarão liderando a luta no futuro”, disse uma das manifestantes presentes no ato de celebração do Mahila Kisan Diwas, nos arredores da capital indiana, Nova Delhi.
A desigualdade de gênero entre homens e mulheres no campo não é apenas cultural na Índia, mas está incorporada nas leis, segundo as quais as mulheres, apesar de serem a maioria da mão de obra agrícola do país, não são oficialmente reconhecidas como fazendeiras. Por exemplo, em caso de suicídio por endividamento, um fenômeno comum nas comunidades rurais da Índia, o governo garante compensação aos parentes da vítima se ele for homem, mas não se for mulher.
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Três leis
Após nove rodadas de negociações com líderes do movimento camponês, o governo indiano ainda não atendeu as demandas dos manifestantes, que se encontram acampados nos arredores de Nova Delhi. No próximo dia 26, ocasião que marca o Dia da República da Índia, caso não haja avanços nas conversas com o governo Modi, as camponesas e camponeses prometem entrar na capital com seus tratores ao mesmo tempo em que acontece o tradicional desfile militar.
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As três leis aprovadas no Congresso e depois sancionadas pelo presidente alteram a maneira como pequenos produtores podem produzir e comercializar seus produtos; como os preços dos produtos são determinados e garantidos através de compras prévias, feitas pelo próprio governo; e por fim, mudam a maneira como certos produtos rurais são rotulados, retirando os limites de armazenamento e dando lugar à estocagem em massa de insumos por parte de grandes corporações.
Enquanto a administração de Narendra Modi afirma que as mudanças beneficiarão pequenos produtores rurais, as camponesas presentes nas manifestações discordam e temem perder o pouco que ainda possuem para as multinacionais do agronegócio.
“Essa luta não é apenas pelas camponesas e camponeses, é por todos que consomem nossas colheitas’, disse outra manifestante.
*Com informações do Peoples Dispatch.
Edição: Luiza Mançano