Com a posse de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos nessa quarta-feira (20), Donald Trump deixa o poder, mas o trumpismo pode sobreviver no Partido Republicano, agora na oposição.
Após a radicalização de extremistas apoiadores com a invasão do Capitólio, no início do mês, durante a valiação da eleição de Biden, a saída de Trump abre uma disputa dentro do partido entre o caminho da moderação ou a continuação do trumpismo, avalia Flavio Thales Francisco, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC).
“Trump vai perder a influência no Partido Republicano, porque ele não teve uma carreira partidária, mas o trumpismo continua. Muito se atribui ao Trump a aproximação com supremacistas, mas várias figuras do partido estão flertando com esses movimentos desde 2009”, afirma.
Essa também é a análise da jornalista Eloá Orazem, que acompanhou a posse de Joe Biden em Washington para o Brasil de Fato. Ela avalia que o fato da posse ter transcorrido com tranquilidade, não significa o fim das hostilidades por parte da oposição.
"Não é porque hoje a gente não viu cenas de violência que os atritos acabaram. A gente tem que ficar atento e olhar como a oposição vai se posicionar. Não sabemos direito pra onde vão os que não concordam com esse novo governo", avalia Orazem.
Assista reportagem sobre a posse de Biden
Relação entre Brasil e EUA
Fiéis seguidores de Donald Trump, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) e seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, devem observar mudanças na relação com os Estados Unidos na gestão de Biden.
“Acho que o Brasil vai manter um alinhamento automático mas terá que lidar com mudanças. A mais tensa está alinhada à questão ambiental. Ele [Biden] é um moderado. Vai voltar aos acordos ambientais que Trump abandonou”, avalia Francisco.
A relação da diplomacia brasileira com o novo governo dependerá da postura do governo brasileiro. “O governo no Brasil trabalha muito pouco com o princípio de soberania. As atitudes do Biden podem ser positivas para o Brasil, mas não necessariamente para o governo”, ressalta Francisco.
A derrota de Trump também representa um impacto sobre a linha ideológica do governo Bolsonaro, que passa a ter uma “dimensão de desconforto ideológico e isolamento cada vez maior” no cenário global.
Combate à covid-19
O combate à covid-19 deve ser a principal tônica nos primeiros meses do novo governo estadunidense, o que marca uma clara diferença em relação a Trump, cuja condução desastrosa durante a pandemia colocou o país na liderança global em número de casos e mortes da doença, com a triste marca de mais de 400 mil mortes por covid-19.
Biden anunciou que deve tornar obrigatório o uso de máscara em todo o país em um primeiro momento e também afirmou que distribuirá 100 milhões de doses de vacina contra covid nos 100 primeiros dias de governo.
Francisco avalia que além de conter a pandemia no país, Biden pode atuar para que os EUA tomem a liderança desse processo a nível global, de forma a fortalecer o multilateralismo abandonado por Trump, a exemplo da relação com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Os EUA estão se aproximando da Alemanha e da União Europeia no debate sobre a logística em relação à vacina e podem articular com a OMS, rejeitada com o presidente Trump e assumir o protagonismo na logística internacional em relação às vacinas”, avalia.
Edição: Leandro Melito