O futebol é o esporte mais popular entre os brasileiros e, por isso mesmo, também é um dos espaços de discussão e mobilização política mais importantes do país. Nas arquibancadas e nas redes sociais, são cada vez mais comuns as manifestações de grupo, coletivos e frentes progressistas que lutam por causas populares e contra o fascismo.
Entre os fatores que motivaram iniciativas de resistência das torcidas, está o processo de elitização do futebol, a partir da construção de arenas com ingressos caros e horários de jogos voltados aos interesses de patrocinadores e da mídia.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, surgiu a Frente Antifascista do Internacional, como explica o torcedor Marcelo Couga.
"Com todo esse processo de arenização dos estádios, houve o afastamento do povo mais pobre daquilo que é do seu direito. Um dos processos disso é a criminalização constante das torcidas uniformizadas", disse o torcedor.
De acordo com a frente, até mesmo o Estatuto do Torcedor, criado em 2003 para aumentar o conforto e a segurando das torcidas, é usado como instrumento de repressão.
"O advento dos JECrims, que são os espaços da polícia civil já com o juiz, pra imediata transação de criminalização de torcedores. É um espaço muito fascista, porque ele não permite a defesa da pessoa. Ela é levada para lá pela polícia, a polícia diz que ela fez isso, não adianta dizer o contrário, e é oferecido uma transação que, geralmente, é o afastamento do estádio e a presença em alguma delegacia em dias de jogos", afirma.
Além do contraponto às mudanças recentes no futebol e na política, as jornadas de lutas pelo passe-livre nos ônibus e outras causas sociais a partir de 2013 também influenciaram o surgimento das organizadas antifascistas do Flamengo, no Rio de Janeiro. Hoje, o coletivo tem quase dez mil seguidores nas redes sociais e atuação em diversos estados, segundo um dos organizadores, que pediu para não ser identificado.
"[O movimento] possui núcleo no Rio, em São Paulo, no Paraná e Brasília, inclusive com extensão de faixas 'Fora Temer' e 'Temer Jamais'", disse o torcedor.
O combate à homofobia, ao racismo e ao machismo também está na pauta dos torcedores politizados, além da aliança com torcidas progressistas e do campo de esquerda de outros times e de outros estados.
As manifestação de torcedores nos estádios e nas redes sociais ganhou notoriedade por conta dos casos de corrupção envolvendo dirigentes dos clubes e das entidades que representam os times; as manifestações de jogadores apoiando candidatos conservadores, como fez o meia Felipe Melo, do Palmeiras, que homenageou com um gol o candidato à Presidência que defende a ditadura militar.
Democracia corinthiana
O presidente da torcida Gaviões da Fiel, Rodrigo Tápia, conhecido como Digão, divulgou uma nota, destacando a contradição na atitude dos seus sócios que declaram apoio a Jair Bolsonaro (PSL). Segundo o dirigente, a história da torcida começou na luta contra a ditadura militar e pelos direitos do povo.
"Somos uma torcida que defende os direitos do nosso povo e não podemos deixar que o nosso maior representante seja contra nós e contra tudo aquilo que lutamos", diz a nota publicada no blog do jornalista Juca Kfhouri. A torcida é a mais antiga do Corinthians e foi fundada em 1969.
Após a divulgação da nota, de acordo com o departamento de comunicação da Gaviões da Fiel, Digão sofreu uma onda de ataques nas redes sociais por perfis de apoiadores do candidato do PSL.
Para Chico Malfitani, um dos fundadores da Gaviões da Fiel, o posicionamento do presidente foi acertado. Malfitani ressaltou que o Bolsonaro é um candidato apoiado pela extrema direita, pela polícia repressora, por eleitores que querem a volta da ditadura. "É o mesmo grupo que, tradicionalmente, persegue os torcedores e que querem o fim das torcidas organizadas", disse.
Atualmente, a Gaviões tem 112 mil torcedores e, segundo Digão, quem quiser continuar apoiando o Bolsonaro "deveria deixar a torcida".
Neste sábado (29), torcedores do Corinthians convocaram um grande ato de repúdio ao fascismo e à candidatura de Bolsonaro no Largo da Batata, em Pinheiros. Saiba mais.
Edição: Diego Sartorato