O grito das mulheres paraibanas contra o fascismo envolveu 20 cidades do estado. O primeiro ato a acontecer foi em Guarabira, na sexta-feira, 25 de setembro, e no dia seguinte, em Brejo do Cruz. Já no sábado, 29, foram às ruas as cidades de João Pessoa, Campina Grande, Patos, Cajazeiras, Sousa, Conceição, Tacima, Santa Luzia, Juarez Távora, Sumé, Bonito de Santa Fé, São Bento. Houve manifestação contra o ódio também no dia 30 de setembro em Sapé, Jacaraú, Cuité, Triunfo, Piancó. A agenda do #Elenão encerrou na cidade de Monteiro, neste dia 1° de setembro à noite.
Os atos, protagonizados principalmente por mulheres, mobilizaram mais de 40 mil pessoas no estado e reuniram grande diversidade de público.
Brejo Paraibano
Em Guarabira, o ato aconteceu pelas ruas do centro, no dia 25, em caminhada com cerca de 500 pessoas. Segundo Lívia Serafim, professora e uma das organizadoras do ato, “participaram da manifestação mulheres, movimentos sociais, LGBTs, estudantes do IFPB e UEPB. Foi muito representativo. Na nossa avaliação, conseguimos demarcar um território frente ao conservadorismo”.
Na capital paraibana
Em João Pessoa, o local de concentração foi a Praça da Paz, no bairro dos Bancários, onde aconteceu um festival de música só de mulheres e reuniu uma multidão de mais de 20.000 pessoas. Várias batucadas feministas, em vários pontos da praça, faziam toques e palavras de ordem contra Bolsonaro, candidato à presidência pelo PSL. “O território da praça da paz foi escolhido pelo nome e pelo simbolismo da paz, e em vez de uma caminhada, planejamos uma acolhida para romper com todo esse ódio, essa propagação da violência e da desqualificação das pessoas e dos direitos humanos que têm sido promovidas pelo ‘sujeito’”, comentou Joana Darc Da Silva- Cunhã Coletivo Feminista e Articulação de Mulheres Brasileiras.
Já Danielle Alexa, professora, integrante da Marcha Mundial das Mulheres e criadora do evento EleNão em João Pessoa, falou que o processo de criação do movimento, do ato, se deu de forma espontânea. “Depois do ‘boom’ do grupo nacional e dos eventos marcados para o dia 29, a gente criou o evento no facebook, e rapidamente tomou uma proporção muito grande. Também foram criados alguns grupos de whatsapp, onde foi marcada reunião presencial para definir algumas coisas quanto ao ato. A diversidade de mulheres era muito grande, desde mulheres independentes a mulheres de movimentos sociais”, contou ela.
O Festival aconteceu no palco principal da Praça da Paz e contou com oficina de cartazes, confecção de camisas, orientações de segurança, ensaio de batucada com Levante Popular da Juventude (LPJ) e a Marcha Mundial das Mulheres (MMM). Além de Cortejo do Maracastelo, participaram Vó Mera, As Gatunas, Marta Sanchis, Débora Malacar, Coral Voz Ativa, Nathália Bellar, Val Donato, Cida Alves e Tia Ciata Samba Clube.
Camila Ramalho, estudante de psicologia e integrante do Levante Popular da Juventude fala sobre o motivo de ter estado no ato Elenão. “A juventude esteve presente no ato porque sabemos que, desde 2016, a gente vem sofrendo vários retrocessos com a retirada de direitos. Se Bolsonaro entrar, essa situação vai piorar, quando ele faz apologia à cultura do estupro, quando diz que as mulheres têm que ganhar menos, e quando diz que a gente não vai poder ter acesso gratuito à saúde em caso de violência sexual.”
Cinco mil em Campina Grande
Em Campina Grande, o dia de mobilização contra o Bolsonaro iniciou às 9h da manhã, na Praça da Bandeira. A concentração começou com as mulheres do Maracagrande, Baque Virado e Levante Popular da Juventude esquentando o ato com a batucada, canções e palavras de ordem. Mais de cinco mil pessoas saíram em caminhada no centro da cidade, para retornar à Praça. Durante o caminho, na rua Peregrino de Carvalho, a Polícia Militar, que já havia proibido o uso do carro de som enquanto a manifestação ainda se concentrava na Praça, proibiu a continuação do trajeto. A organização do ato rearticulou o trajeto, que finalizou no Viaduto Elpídio de Almeida. O ato acabou às 13h, sem relatos de violência.
“Nos reunimos nesse dia 29 de setembro, um dia histórico aqui em Campina Grande, para dizer também #Elenão e para reafirmarmos nosso protagonismo nesse processo. Nós estamos unidas contra qualquer retrocesso e qualquer forma de opressão, e estamos unidas, também, para reverter o quadro político de retiradas de direitos que temos hoje.”, contou Patrícia Sampaio, participante do ato. Marciana Ferreira, militante do Levante Popular da Juventude, afirmou o motivo de ter participado do ato: "a gente tá aqui, ocupando as ruas de Campina Grande, na Paraíba, para dizer não ao fascismo, não a Bolsonaro e lutar pela democracia. Vamos barrar esse golpe".
#Elenão no Sertão
Na cidade de Cajazeiras, a manifestação das mulheres contra o fascismo aconteceu no dia 29 de setembro e envolveu 1.000 pessoas. Foi realizada uma caminhada pelo centro, de manhã, e um ato político cultural à noite.
Segundo a organização, a construção do ato se deu, primeiro, com a criação de um grupo de whatsapp, e, posteriormente, foi realizada uma reunião presencial onde foi tirada uma coordenação do ato. Neidinha Alves, professora da educação infantil e integrante da Marcha Mundial das Mulheres, conta que o ato foi muito bem recebido pela comunidade. “As pessoas que estavam na feira livre ou no trabalho receberam muito bem a manifestação. Fizemos panfletagem na feira explicando por que estávamos contrárias à candidatura de Jair Bolsonaro, e a população nos recebeu muito bem”. Ela conta que houve presença de muitos homens, mulheres, crianças, e um grande público jovem, estudantes secundaristas e universitárias.
Em Patos, o ato contra Bolsonaro atraiu grande número de pessoas. Segundo as organizadoras, estiveram presentes na manifestação mais de 1500 pessoas. "Foi lindo o ato. Muita gente, nos surpreendemos com o número de pessoas. Mas todo mundo se sentiu convidado com o chamado que fizemos contra esse candidato que representa o ódio, o fascismo e o retrocesso", afirmou Zilma do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e uma das organizadoras.
No município de Santa Luzia, cerca 300 mulheres, do campo e da cidade, foram às ruas. Adriana de Sousa, pedagoga e participante do ato, conta: “Jamais poderia deixar de participar de um ato com tamanha importância. Não só para Santa Luzia, mas para o Brasil inteiro. O ato foi um sucesso. Não podemos permitir que um louco, machista e preconceituoso comande nosso país”. O ato aconteceu na tarde do último sábado, dia 29, por volta das 16h. “Nós, mulheres, nos reunimos todas com camisetas padronizada com #Elenão, protestamos e mostramos nossa força, que não é pequena, dando gritos de guerra e palavras de incentivo para aquelas que ainda estão em dúvida”, relatou a Adriana.
Na cidade de Sousa, o ato reuniu 2000 pessoas e realizou caminhada pelo centro da cidade. A manifestação foi organizada por jovens alunas universitárias, que se mobilizaram pelas redes sociais e através de panfletagem. “O resultado foi um sucesso, superou as expectativas. O recado foi dado, inclusive em nível de Brasil. Nos juntamos, nos unimos, as mulheres de todo o Brasil para dizer Ele Não, porque defendemos a democracia, Ele Não porque não queremos a volta do machismo, porque queremos direitos iguais para todos”, comentou Vera Vernaide, participante do evento.
Em Soledade, o #Elenão foi proibido
Na cidade de Soledade, a juíza eleitoral da 23° zona, Francilene Lucena Melo Jordão proibiu a realização do ato #EleNão, alegando que o organizador não teria legitimidade para realizar o evento e que estaria em desacordo com a legislação eleitoral.
Os atos, promovidos pelas mulheres contra o fascismo, aconteceram em todos os estados do país e em pelo menos 260 cidades. Ocorreram manifestações também fora do país, em cidades como Paris, na França, Berlim, na Alemanha, Milão, na Itália, Lisboa, em Portugal, Buenos Aires, na Argentina, Nova Iorque, nos Estado Unidos, entre outras. A mobilização mostrou a força unitária das mulheres, inicialmente, nas redes sociais, e depois, nas ruas, envolvendo cerca de 2 milhões de mulheres.
Edição: Heloisa de Sousa