Desde 2017, policiais que defendem, no Brasil, principalmente a desmilitarização da segurança pública estão organizados no Movimento Policiais Antifascismo. Mais de 70 policiais fazem parte do movimento no Paraná e no último sábado (18), foi realizado o encontro estadual que, dentre as várias pautas organizativas, debateram o tema da hipermilitarização da sociedade.
Como debatedor, o policial aposentado, doutor em Sociologia pela UFPR e pesquisador da área de segurança pública, Marcelo Bordin, que é autor do livro A guerra é a regra: hipermilitarização da segurança pública, da vida e do cotidiano. Ele falou aos participantes do encontro sobre a ampliação da militarização além da própria área da segurança pública.
“Importante dizer que historicamente as sociedades se constituem militarizadas, na igreja, economia e militares. Na virada do século XX para XXI o processo de militarização extrapola chegando ao que muitos autores chamam de hipermilitarização. E isso vai além do próprio campo de segurança publica e vai se espraiando para outras éreas da vida, como por exemplo, na educação com o as escolas cívico militares, escolas militares privadas,” explica.
Leia também: Como funcionam as escolas militarizadas que o governo Bolsonaro vai financiar
Marcelo atribui esse fenômeno a ideia de guerra e inimigo criada pelo neoliberalismo. “Temos um exemplo dos Estados Unidos quando criou o que eles chamaram de Guerra ao Terror, mantendo a ideia constante que sempre existe um inimigo a ser derrotado ou controlado, que é, inclusive, uma característica do neoliberalismo. E, porque você precisa derrotar esse inimigo é preciso criar um aparato militar para garantir ganhar a guerra contra esse inimigo,” diz.
A guerra não pode ser a regra
No caso da segurança pública, a militarização acaba por tornar o policial, que é um trabalhador, vítima e algoz. “Nesse sistema os policiais são algozes e são vítimas. Temos altos índices de adoecimento desses trabalhadores porque é resultado de precisarem estar nesse contexto de guerra o tempo todo. Ou seja, é preciso tentar trazer esse debate mostrando que a guerra não pode ser a regra,” conclui.
Entre as pautas prioritárias do Movimento Policial Antifascismo, desde sua criação está a desmilitarização da segurança pública. Em sua carta de princípios, eles se colocam contrários à participação das Forças Armadas em ações de segurança e de que policiais militares estaduais atuem como forças auxiliares do Exército por considerarem que é um desrespeito ao trabalhador policial, ao mesmo tempo em que estabelece um modelo de segurança pautado em aços militares violentas e letais contra a população.
Derrotar o fascismo
Para uma das coordenadoras do movimento no Paraná, a delegada da Polícia Civil, no Paraná, Maria Niza Moreira, destaca que o combate o fascismo é uma das pautas urgentes dos policiais antifascistas. “É nosso prioridade o enfrentamento à cultura do fascismo mesmo que não seja tão perceptível para muitos policiais, ela está presente na vivencia das atividades policiais. Esse combate se dá no debate para mudar a política de drogas, como é organizado o trabalho dos policiais para se identificar como trabalhador o que o afasta cada vez mais da população e também de reconhecer seus direitos,” disse.
Henri Francis, também coordenador do movimento no Paraná, relembra que o movimento antifascista entre os policiais surge justamente para se contrapor a problemas de origem da polícia como instituição. “O movimento parte da premissa que existem problemas de origem. As instituições da segurança estão ligadas a uma forma de controle social perversa. Então, esse modelo semeia o fascismo nessas instituições que são importantes para o Estado democrático de direito. Na atual conjuntura, isso ganhou outras dimensões devido ao governo assumido neofascista. Portanto, o movimento propõe uma reforma na estrutura da polícia e temos uma tarefa urgente que é combater a militarização na política, no Estado, é combater esse governo fascista,” diz.
Garantir no poder legislativo a “bancada anti bala”
Entre os debates que vem sendo feitos pelo Movimento Policiais Antifascismo em todo o Brasil é formar nos poderes legislativos a bancada “anti bala”. “Temos incentivado que policiais antifascistas sejam candidatos e que apresentem uma discussão qualificada sobre segurança pública. Não queremos apresentar mais nenhum tipo de discussão que venha a iludir a população. E, é preciso aprofundar também o debate sobre a atividade policial inserida nos direitos humanos,” cita Maria Nisa.
Em abril deste ano, na cidade de Natal, foi realizado o 3º. Congresso Nacional do movimento que definiu pela realização de encontros estaduais para o fortalecimento das pautas. Nesse Congresso, os policiais antifascistas também definiram por aderir à Campanha “Fora, Bolsonaro”, além de construir uma alternativa programática emergencial para 2022 em conjunto a outros setores da sociedade com vistas à transformação do modelo policial e de combate à violência criminal vigente no país.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini