As cores das camisetas de times como Paraná Clube, Atlético Paranaense, Grêmio e Corinthians colorem o Acampamento Lula Livre, em Curitiba. Se nos gramados a disputa entre as equipes é acirrada, fora de campo os torcedores reconhecem que a união é necessária para a defesa da democracia.
Torcedores de clubes paranaenses e de outros estados vestiram suas camisetas e foram ao acampamento, neste domingo (22), reafirmar que o episódio de violência cometida por integrantes da Império Alviverde não os representa. Na noite do dia 17 de abril, indivíduos que se identificaram como membros da torcida organizada do Coritiba Foot Ball Club atacaram integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) nas proximidades da Polícia Federal.
“Nós sabemos que esse grupo [de agressores] não representam as torcidas”, explica Gabriel Frigo, atleticano que ajudou a incentivar a participação de torcedores de diferentes times.“A gente quer mostrar que nas torcidas dos times do Paraná existem pessoas e grandes grupos que defendem a democracia, que tem interesse em manter a Constituição e também querem pensar uma perspectiva de esquerda dentro do futebol”, destaca.
Em nota, o Coritiba Antifascista, um coletivo de torcedores do time da capital paranaense, também repudiou as agressões, e destacou que as pessoas que apoiam o episódio de violência são as mesmas que criminalizam as torcidas organizadas. “Somos frontalmente contra toda violência que ocorra entre nós trabalhadores, repudiamos os comentários elitistas que desmereçam os integrantes do MST ou de torcidas organizadas”, indica o texto.
A favor da democracia
A junção de torcedores no acampamento Lula Livre aconteceu no mesmo dia em que em que Corinthians e Paraná se enfrentaram na Vila Capanema. O resultado de quatro gols para o time paulista não gerou conflitos entre os torcedores dos dois clubes que estavam no acampamento.
Analista de recursos humanos, o corinthiano Anderson Araújo veio de São Paulo para assistir a partida, mas aproveitou para participar das mobilizações em defesa de Lula, torcedor do mesmo time. Ele explica que a relação entre o ex-presidente e o clube é muito forte. “Somos um time do povo, criado por operários, e Lula é o homem que veio do povo, foi eleito pelo povo e governou para esse mesmo povo”, indica.
Araújo integra o Coletivo Democracia Corinthiana, um grupo criado por torcedores que resolveram se organizar para o combate ao autoritarismo e conservadorismo no país. O nome faz referência à Democracia Corinthiana, um movimento criado na década de 1980 e que contribuiu para a autogestão do time.
A defesa da democracia e o combate ao autoritarismo também levou torcedores de outros clubes a se organizarem para debater a prática do esporte alinhada a um projeto de nação mais justa e democrática.
Há mais de 3 anos, torcedores do Paraná Clube criaram o coletivo Gralha Marx. O grupo de mais de 600 pessoas não se reconhece como uma torcida organizada formal - ou uma torcida uniformizada -, mas reúne quem se identifica com uma posição política de esquerda através, principalmente, das redes sociais.
Integrante do coletivo, o professor da rede estadual, Rui Barbosa - ou Rui Barbosa Lula da Silva, como passou a se identificar desde a prisão do ex-presidente - explica que o grupo não costuma realizar ações diretas entre as arquibancadas, como a utilização de faixas, por episódios de intolerância já sofridos por pessoas de esquerda. “A gente se organizou por esse processo fascista que ocorre mesmo nas arquibancadas”, conta.
Mesma proposta tem um grupo de torcedores do Atlético Paranaense, que criou recentemente o coletivo Atleticanhotxs.” Nossa ideia é mostrar que existem torcedores de esquerda dentro da torcida atleticana”, explica Gabriel.
Edição: Júlia Rohden