Centenas de pessoas já fugiram do campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, após quatro dias seguidos de ataques de Israel. Com o cessar-fogo em Gaza, Israel transferiu, na prática, a guerra para a Cisjordânia.
Em entrevista no programa Central do Brasil desta sexta (24) o historiador Fernando Horta afirma que Israel faz um "jogo de dupla face", anunciando ao mundo que trabalha pela paz enquanto continua com a violência no território.
"O princípio básico de um cessar-fogo é que nós tenhamos efetivamente o cessar da violência no território. Não basta apenas você dizer para o mundo que vai diminuir essa violência ou que esse cessar-fogo foi atingido. E também não basta uma superpotência externa ao conflito, como, por exemplo, os Estados Unidos, demandarem de agentes internos que eles façam esse cessar-fogo. É necessário que, nos territórios, isso aconteça."
Numa entrevista anterior, Horta já havia antecipado que os interesses políticos de Netanyahu e de seus aliados poderiam ser barreiras para a concretização do cessar-fogo. Retomando o assunto, ele comenta que não é possível saber de quem é a demanda atual, dentro da extrema direita israelense, pela continuidade da guerra.
"A gente não tem informações suficientes para saber de onde vem essa demanda política, se é do próprio Netanyahu usando a extrema direita para se manter no poder, ou se é essa extrema direita pressionando Netanyahu para que ele não entre nesse sistema de acordo com os Estados Unidos. O fato é que, para a população da região, especialmente mulheres e crianças que seguem morrendo, não faz diferença de quem é a ideia."
Segundo a mídia internacional, refugiados do campo de Jenin têm denunciado que a Autoridade Palestina é aliada de Israel nos mais recentes ataques. Sobre esse tema, Horta alerta para a existência de uma estratégia de desinformação promovida por Israel.
"Uma das estratégias de Israel naquele conflito é deslegitimar agentes que possam falar pelo contexto dos palestinos e que sejam reconhecidos por eles como lideranças efetivas. Israel há muito trabalha com essa situação, ora soltando informações distintas, estranhas, ora agindo com pactos de paz ou de benefícios para alguns grupos na Palestina e não para outros. O objetivo sempre foi rachar essa estrutura, para não permitir que a unidade de negociação do povo palestino pudesse significar uma maior chance de pacificação."
O especialista complementa explicando sobre a dificuldade de saber exatamente o que ocorre na região, graças à falta de mediadores externos ao conflito. "Pesquisadores apontam que, realmente, essas autoridades deixaram de fazer determinados movimentos que lhes valeriam maior força na região. Mas, no fundo, a gente não sabe quem está certo e quem está errado nesse processo. Somente uma autoridade internacional equidistante poderia mediar esse conflito. Da forma como está, eu tenho muitas dúvidas que a gente vai atingir qualquer tipo de paz", analisa.
A entrevista completa está disponível no YouTube do Brasil de Fato.
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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Edição: Nicolau Soares