EM NOVA YORK

Chanceler venezuelano diz que Assembleia da ONU tem dois discursos: das oligarquias e dos povos que buscam soberania

Yván Gil disse que EUA buscam expandir domínio no mundo; delegação estadunidense deixou plenário durante fala

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Yvan Gil representou a Venezuela na Assembleia Geral das Nações Unidas - Charly TRIBALLEAU / AFP

O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, disse nesta quarta-feira (25) que a Assembleia Geral das Nações Unidas está dividida entre dois grupos: as oligarquias que querem dominar o mundo e os povos dignos que buscam soberania e independência. Ele representou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, no evento e foi o penúltimo a discursar no segundo dia da assembleia.

Em sua fala, Yván Gil afirmou que os Estados Unidos lideram uma série de países que têm como objetivo destruir a ONU de dentro ao não reconhecer a soberania dos Estados. 

“Há duas narrativas nesta assembleia: uma das oligarquias e satélites que tentam dominar o mundo e outra a dos povos dignos que buscam por soberania e independência. As oligarquias recorrem a expressões políticas que achávamos que já estavam superadas, como o fascismo e o nazismo. Essas correntes políticas impulsionam o supremacismo branco apoiados pelas grandes empresas nacionais e redes sociais para fabricar conflitos”, afirmou. 

Como parte de um discurso já estabelecido na diplomacia venezuelana, o chanceler voltou a defender a soberania da Palestina, a solução de dois Estados envolvendo a disputa na região e a entrada dos palestinos na ONU. Ele afirmou que enquanto os líderes discutem na Assembleia, caem bombas na Faixa de Gaza que vitimam crianças. 

“Israel e EUA hoje pretendem exportar seu ódio e destruição para todos na região, com bombardeios sobre o Líbano. Israel se tornou uma máquina de morte que deve ser detida”, disse. 

O chanceler também ressaltou os ataques que foram sofridos pela Venezuela durante as eleições do país. Ele relembrou os ataques cibernéticos contra o sistema eleitoral e os planos para assassinar o presidente e a vice, Delcy Rodríguez. De acordo com Yván Gil, as eleições expressaram a vontade do povo venezuelano, o que gerou revolta pela oposição, que passou a vandalizar prédios públicos.

“Tivemos eleições pacíficas, transparentes, que resultaram em uma clara e contundente vitória de Maduro. A oligarquia do meu país apelou uma vez mais ao desconhecimento das leis e instituições que levou à destruição de prédios públicos e privados, além de deixar mortos e feridos. Isso você não verá nos grandes meios de comunicação e o comissariado de direitos humanos da ONU também não fala sobre isso”, afirmou.

As sanções contra a Venezuela também foram abordadas por Yván Gil. Segundo ele, as chamadas medidas coercitivas unilaterais violam a Carta das Nações Unidas, documento que rege os deveres e princípios da ONU. Sobre isso, ele voltou a dizer que os Estados Unidos têm um “grande plano de recolonização”.

“As sanções por parte dos EUA e União Europeia representam uma flagrante violação da Carta da ONU e configuram crimes de lesa humanidade pela destruição que causa nos países sancionados. Há vários anos Washington impulsiona um experimento neocolonial que busca destruir por todas as vias possíveis a livre determinação. É um grande plano de recolonização”, disse. 

Durante a fala, a transmissão do evento focou na reação dos representantes dos Estados Unidos. Em um primeiro momento, era possível ver o secretário de Estado dos EUA e outros dois delegados. No entanto, eles deixaram o plenário da ONU ainda enquanto Yván Gil discursava.

Yván Gil ainda usou o tempo de fala para afirmar que o presidente da Argentina, Javier Milei, traiu os argentinos ao “aceitar entregar” as ilhas Malvinas. Venezuela e Argentina hoje vivem tensões diplomáticas.

Nesta semana, o governo da Venezuela emitiu uma ordem de captura contra Milei pelo roubo do avião da estatal venezuelana, Emtrasur. Em resposta, a Justiça argentina também emitiu um mandado de prisão contra Nicolás Maduro e o ministro do Interior, Diosdado Cabello. 

Petro e a Venezuela

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também participou da assembleia. Em entrevista à CNN, o mandatário afirmou que está conversando com Lula no sentido de não reconhecer a vitória de Nicolás Maduro nas eleições venezuelanas se não forem apresentados os resultados desagregados.

“Vou conversar agora com o presidente Lula. Permanecemos num ponto: se não houver apresentação de ata, não há reconhecimento. O processo anterior às eleições foi errado. Tudo o que foi falado no México, na Colômbia e em Barbados para que houvesse eleições livres não aconteceu", disse. 

Segundo ele, nenhum dos dois lados da disputa tiveram condições ideais para disputar o pleito.

“Não houve liberdade para a oposição, porque a principal candidata [María Corina Machado] não participou e isso é um problema hoje porque, com quem você conversa na Venezuela do lado da oposição? E do lado do Governo venezuelano também porque um país sob sanções econômicas não é livre de votar”, afirmou Petro.

Ele tinha um encontro marcado com Lula em Nova York nesta terça-feira (24), mas foi cancelado por um problema na agenda do colombiano. Agora, os dois devem se encontrar no México, durante a posse da nova presidente mexicana Claudia Sheinbaum, no domingo (29). A ideia é também se reunir com Andrés Manuel Lopes Obrador, atual presidente mexicano.

Brasil, Colômbia e México iniciaram uma articulação para mediar a situação da Venezuela e manter um canal de interlocução com o presidente veenzuelano Nicolás Maduro. Os três governos publicaram duas notas conjuntas pedindo a publicação das atas eleitorais pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) e não pela Justiça do país. 

Depois, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, disse que não falaria com Lula e Petro até que o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ) emita um posicionamento sobre as eleições do país. Sem Obrador, Lula e Petro continuaram as negociações em torno da Venezuela e chegaram a sugerir novas eleições, opção que foi rechaçada tanto pelo governo venezuelano, quanto pela oposição.

Edição: Rodrigo Durão Coelho