As Forças de Defesa de Israel (FDI) fizeram novos bombardeios contra o que chamaram de "alvos do Hezbollah", no sul do Líbano, na madrugada desta terça-feira (24). O ataque provocou o cancelamento de mais de 40 voos de várias companhias, que sairiam ou chegariam em Beirute, pelo Aeroporto Internacional Rafic Hariri.
Com os ataques, Israel adota a mesma estratégia utilizada contra o grupo Hamas, com quem trava outro conflito na Faixa de Gaza desde outubro do ano passado. Existe a preocupação de uma escalada da violência na região do Oriente Médio, diz Pablo Ibañez, professor de Geopolítica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Para o professor, que conversou com o jornal Central do Brasil, as ofensivas só ficaram cada vez mais agressivas. "Israel continua com uma ofensiva extremamente agressiva desde o começo do conflito em Gaza. Houve uma destruição praticamente completa do território de Gaza. E agora no Líbano, pelas mensagens que estão sendo colocadas pelos porta-vozes e pelo próprio primeiro-ministro [de Israel, Benjamin] Netanyahu, parece que isso vai seguir uma mesma linha."
Se realmente o conflito seguir essa tendência, as consequências podem ser piores até pela localização do país onde está instalado o Hezbollah, explica Ibañez. Em Gaza, mais de 40 mil de palestinos já morreram.
"Ainda que o Líbano seja maior, mas ainda assim é um território muito pequeno, tem 10,4 mil km². Ele está fechado ali entre o próprio Israel, ao sul, e a Síria. Então tem uma dificuldade muito grande até para poder evacuar as pessoas. Isso foi, inclusive, colocado pelo Celso Amorim [assessor especial do Presidente Lula] ontem [23 de setembro], em entrevista que ele deu, porque todo mundo está se preocupando demais", observa.
Sobre o risco de guerra total, o especialista diz que é tudo muito complexo no Oriente Médio pelas alianças já estabelecidas ou que podem se formar e composições militares dos países da região. Mas a possibilidade existe, pontua.
"É tudo muito complexo até pela sua própria geografia, que ela é extremamente recortada. E você tem aliados muito fortes, do Ocidente, a favor de Israel, a começar pelos próprios estadunidenses que estão ali, já fizeram a movimentação."
"É um contexto regional que favorece, de um lado, Israel, porque tem uma força militar muito maior. Inclusive, eles têm um gasto militar maior do que a própria Turquia, são o segundo maior gasto da região. A Áraba Saudita é o primeiro. Mas a Áraba Saudita também dificilmente se coloca a favor de conflito ou se coloca a favor de alguns lados ali na região. Ela se mantém como alguém que quer proteger o seu o próprio território e tem o seu conflito particular com o Iêmen, mas essa postura de Israel tende a que você tenha respostas. Quais essas respostas vão ser? Eu acho ainda difícil a gente conseguir colocar isso na mesa. Mas, de qualquer forma, nada está descartado."
Segundo o Ministério da Saúde do Líbano, o ataque aos subúrbios da capital do país deixou pelo menos 6 pessoas mortas e 15 feridas. Nesta segunda (23), com outros ataques, o país viveu o dia mais sangrento desde a guerra de 2006.
"Em um dia, nós chegamos a mais de 500 mortos, com um número considerável de crianças, mulheres e civis, de maneira geral. Então, realmente, assim, a possibilidade de uma retaliação e um conflito maior é iminente, pode acontecer a qualquer momento", alerta Ibañez.
O professor da UFRRJ associa o risco ao fato de a Organização das Nações Unidas (ONU) não estar dando conta que mediar ou cessar os conflitos.
"Os apelos [internacionais] foram muito grandes, né? É importante mencionar os próprios americanos: o [presidente dos EUA, Joe] Biden falou abertamente [em cessar-fogo]. Os franceses também falaram isso abertamente. Agora, o que eu tenho observado é que, por exemplo, o embaixador de Israel na ONU tem sido extremamente agressivo contra a ONU, contra o secretário-geral, contra países que se mostram contrários a Israel. Estou observando que a ONU, particularmente, não tem tido um efeito prático nenhum em relação a Israel, porque Israel continua exercendo força extrema, continua não reconhecendo nenhuma das ações que a ONU tem, nenhuma votação, nenhum apelo que se faz", declara.
A entrevista completa está disponível na edição desta terça-feira (24) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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Edição: Nicolau Soares