Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) revela que o Cerrado brasileiro enfrenta a maior seca do bioma em mais de 700 anos. A conclusão foi possível por meio de análises químicas de estalagmites presentes na Caverna da Onça, que fica Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais.
As estalagmites são formações rochosas que se desenvolvem no solo de cavernas ou grutas. Elas são compostas de minerais depositados pelas águas que pingam do teto desses ambientes. O processo ocorre ao longo de milhares ou até milhões de anos.
Elas são muito sensíveis às condições ambientais durante seu crescimento. Por isso, registram informações sobre a temperatura, umidade e química da água que goteja dentro da caverna ao longo do tempo.
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A partir dessas informações, o estudo conseguiu reconstruir a variabilidade do clima ao longo dos últimos 718 anos. A equipe de pesquisa combinou dados dessas formações com análises de elementos químicos presentes no local.
Por ser uma gruta aberta no fundo de um cânion com 200 metros de profundidade, a Caverna da Onça sofre influência da variação de temperatura externa, diferentemente de outras formações observadas pela equipe de pesquisa.
Com os resultados em mãos, o grupo chegou à conclusão de que o aquecimento na região central do país é 1 °C mais intenso que a média global. Esse cenário faz com que temperatura próxima ao solo seja tão quente que evapora uma parte considerável da água da chuva, antes que ela se infiltre no solo.
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O fenômeno é considerado um distúrbio hidrológico com diversas consequências. Na lista estão mudanças no padrão de chuva, que fica menos frequente, e menor recarga nos aquíferos, com potencial de afetar os níveis dos rios.
De acordo com os autores, a seca sem precedentes é causada pelo aumento da temperatura induzida pela atividade humana na emissão de gases do efeito estufa
O projeto usou também informações da Estação Meteorológica de Januária – uma das mais antigas do Brasil, em operação desde 1915. O estudo foi publicado na revista científica internacional Nature. Clique aqui para acessar em inglês.
Edição: Martina Medina