Mudança climática

Número de dias com ondas de calor passou de 7 para 52 em 30 anos, indica Inpe

Estudo encomendado pelo MCTI comparou dados climáticos entre os períodos de 1961 a 1990 e de 2011 a 2020

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Ondas de calor estão entre eventos climáticos extremos cada vez mais comuns - AFP / Christof Stache

O número de dias que o Brasil sofreu com ondas de calor multiplicou por mais de sete quando comparados os períodos que vão de 1961 a 1990 e de 2011 a 2020. Isso é o que mostra um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) encomendado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

A pesquisa visa identificar mudanças no clima do país, que sofre atualmente com uma onda de calor que atinge 2,7 mil municípios brasileiros. O Inpe avaliou as tendências sobre chuva, temperatura máxima e mais três índices considerados extremos: dias consecutivos secos (CDD), precipitação máxima em 5 dias (RX5day) e ondas de calor (WSDI).

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Os cálculos foram feitos para todo o território brasileiro e consideraram o período de 1961 a 2020. Os especialistas estabeleceram 1961 a 1990 como período de referência, e efetuaram análises sobre o que aconteceu com o clima para três períodos: 1991-2000, 2001-2010 e 2011-2020.

Entre 1991 e 2000, as anomalias de temperatura máxima não passavam de cerca de 1,5°C. Contudo, atingiram 3°C em alguns locais entre 2011 a 2020, especialmente na região Nordeste. No período de referência, a média de temperatura máxima no Nordeste era de 30,7°C e sobe, gradualmente, para 31,2°C em 1991-2000, 31,6°C em 2001-2010 e 32,2°C em 2011-2020.

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O estudo aponta também que, enquanto houve queda na taxa média de chuvas no Nordeste, Sudeste e na região central do Brasil, com variações entre -10% e -40%, foi observado aumento entre 10% e 30% na área que abrange os estados da região Sul e parte dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Extremos climáticos

O aumento e a redução nos índices de precipitação repercutem na ocorrência de extremos climáticos que são estabelecidos por dois indicadores: dias consecutivos secos (CDD) e pela precipitação máxima em 5 dias (RX5day).

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No período de referência, entre 1961 e 1990, os valores de CDD eram, em média, de 80 a 85 dias. O número subiu para cerca de 100 dias para o período de 2011 a 2020 nas áreas que abrangem o norte da região Nordeste e o centro do país.

Os mapas demonstram que a região Sul vem sendo a mais afetada pelas chuvas extremas ao longo das últimas décadas. No período de referência, a precipitação máxima em cinco dias era de cerca de 140 mm. O número subiu para uma média de 160mm.

Ondas de calor

Os dados indicam que houve aumento gradual das anomalias de ondas de calor em praticamente todo o Brasil, com exceção da região Sul, do Mato Grosso do Sul e da porção sul de São Paulo. Entre 1961 a 1990, o número de dias com ondas de calor não ultrapassava sete. Para o período de 1991 a 2000, subiu para 20 dias; entre 2001 e 2010, atingiu 40 dias; e de 2011 a 2020, o número de dias com ondas de calor chegou a 52 dias.

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"Essas informações são a fonte fidedigna daquilo que está sendo sentido no dia a dia da sociedade. Estamos deixando de perceber para conhecer", afirmou o diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do MCTI, Osvaldo Moraes.

"O mais recente relatório do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas] destacou que as mudanças climáticas estão impactando diversas regiões do mundo de maneiras distintas. Nossas análises revelam claramente que o Brasil já experimenta essas transformações, que irão se agravar nas próximas décadas proporcionalmente ao aquecimento global", acrescentou o pesquisador do Inpe Lincoln Alves, que coordenou os estudos do Inpe.

Edição: Nicolau Soares