Os chanceleres da Rússia, Serguei Lavrov, e da Venezuela, Yván Gil, assinaram nesta terça-feira (11) memorando de cooperação para combater as medidas coercitivas unilaterais, as chamadas sanções. O documento foi assinado em meio à reunião ministerial do Brics+, na cidade russa de Nizhni Nóvgorod.
De acordo com os dois países, a medida vai permitir que os governos russo e venezuelano criem ferramentas financeiras e logísticas “imunes à ingerência externa”. A ideia é que a cooperação seja realizada em áreas como agricultura, medicina, energia e tecnologias avançadas.
Em seu discurso no evento, Yván Gil disse que é possível "construir um sistema mundial" mais justo, sem as medidas coercitivas unilaterais. "Juntos podemos construir um sistema mundial livre do unilateralismo arbitrário, que hoje se manifesta na forma de sanções econômicas que afetam 28% da população mundial", afirmou.
Segundo Yván Gil, a partir de agora, a "luta contra as sanções e o seu impacto destrutivo no mundo faz parte da cooperação bilateral ao mais alto nível" entre Caracas e Moscou.
Já o chanceler russo afirmou que os dois países têm um bom relacionamento "há muito tempo" e que o documento vai ajudar no "trabalho comum" entre eles. "O vetor mais importante de colaboração é criarmos mecanismos financeiros e logísticos resistentes às influências externas, que garantirão a proteção dos nossos laços contra as ações ilegítimas dos Estados Unidos e dos seus aliados", afirmou Lavrov.
As sanções são medidas adotadas – na maioria das vezes por EUA e União Europeia– para limitar as ações de um governo por meio da asfixia econômica. Elas impedem que determinados setores daquele país negociem com empresas de outros países para evitar a entrada de dinheiro no território.
Desde o começo da guerra na Ucrânia em 2022, países como Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e outros aliados impuseram mais de 16.500 sanções contra pessoas, empresas e o governo russo. O objetivo é impedir de forma unilateral que empresas de outros países negociem com empresas russas, evitando a entrada de dinheiro na Rússia.
A Venezuela também é alvo de mais de 930 sanções econômicas nos últimos anos. EUA e UE impedem que empresas comprem o principal produto do país, o petróleo, para supostamente pressionar o governo de Nicolás Maduro, a permitir a atuação de opositores.
Em outubro do ano passado, no entanto, Washington começou a emitir licenças para que o setor petroleiro venezuelano possa negociar com empresas estrangeiras, principalmente as norte-americanas.
Essa decisão foi reforçada com a substituição da chamada licença 44, que permitia que a Venezuela negociasse petróleo no mercado internacional. Agora, a Casa Branca tem a licença 44A, que determina que empresas que quiserem negociar com a estatal petroleira venezuelana PDVSA terão que ter o aval da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro dos EUA.
No entanto, as sanções não conseguem impedir as negociações desses países. O uso de sanções se expandiu de tal maneira, principalmente as impostas pelos EUA, que um bloco de países sancionados como Irã, Rússia, Venezuela, Cuba e China criaram ferramentas para driblar esse bloqueio e conseguir comercializar entre si seus principais produtos.
Agora, com a formalização da cooperação entre países sancionados como Rússia e Venezuela, os países estabelecem uma política institucional para essas trocas.
Este é o segundo encontro entre os chanceleres de Rússia e Venezuela em 2024. Em fevereiro, o representante russo foi a Caracas e, ao lado de Yván Gil e do presidente Nicolás Maduro, criticou as sanções impostas pelos EUA e chamou as medidas de "métodos ditatoriais" e de "ilegais". Na ocasião, Yván Gil disse que a aliança com a Rússia e países do Brics, incluindo o Brasil, foram fundamentais para a melhora na economia venezuelana, mesmo com as sanções impostas pelos Estados Unidos.
Edição: Rodrigo Durão Coelho