A vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, reuniu nesta segunda-feira (27) diplomatas, movimentos populares e representantes de diferentes países da América do Sul para falar sobre as eleições venezuelanas. Durante o seu discurso, ela negou que está sendo discutida uma transição e enfatizou a frase que tem sido o lema do governo nos últimos meses: crescer mesmo com as sanções.
A reunião online foi parte do encontro do comando da campanha Nossa Venezuela. Mais de 500 pessoas acompanharam a fala de Delcy Rodríguez, que abordou a “asfixia” que o país sofre com o bloqueio imposto pelos Estados Unidos à economia venezuelana.
“Passamos por uma asfixia para mudança de política. Querem explorar os recursos naturais, e o ex-presidente dos EUA Donald Trump deixou isso muito claro quando disse que não precisava pagar pelo petróleo venezuelano já que poderia ter de forma gratuita. Eles tentam causar sofrimento à economia e consideram que o sofrimento do povo venezuelano é um dano colateral”, afirmou.
De acordo com ela, as sanções contra o setor petroleiro reduziram a entrada de dólares em 99% de 2014 a 2020. A vice-presidente disse que o impacto das sanções na economia venezuelana foram de US$ 642 bilhões (mais de R$ 3,3 trilhões) nesse período e fez a comparação com os outros países do continente.
“Para se ter ideia, todas as reservas internacionais da América do Sul estão em torno de US$ 660 bilhões. Isso causou feridas nos salários, na infraestrutura... Foi como várias bombas da Alemanha nazista caindo na sociedade. Sobre cada bomba construímos e curamos as feridas sociais. Imagine como isso afeta os serviços de água, saúde, energia. Tivemos paciência estratégica para sair dessa situação e estamos recuperando os serviços públicos, os ingressos dos trabalhadores”, afirmou.
O bloqueio começou a ser imposto em 2015 e impactam a produção e exportação do principal produto venezuelano: o petróleo. De acordo com o governo de Nicolás Maduro, em janeiro de 2015 eram produzidos 2,5 milhões de barris diários de petróleo. Em 2020 esse número caiu para 339 mil.
Eleições e oposição
A oposição venezuelana tem ventilado a possibilidade de assinar acordos para uma eventual transição de governo. O próprio presidente da Colômbia, Gustavo Petro, propôs ao presidente Nicolás Maduro a realização de um plebiscito antes do pleito do dia 28 de julho. A ideia é que a iniciativa garanta que o vencedor das eleições não persiga o perdedor, seja governo ou oposição.
Segundo Delcy Rodríguez, a única transição em curso é “a consolidação de um modelo inclusivo e a transição ao socialismo bolivariano”.
Ela criticou a postura da oposição venezuelana de pedir mais sanções, considerando a situação grave no país por causa do bloqueio e disse que a conduta da extrema direita já foi sentida em outros países da região.
“Olha como vive a Argentina, com [o presidente Javier] Milei, que foi claro em dizer que ia demitir centenas de milhares de funcionários público, piorou a vida dos trabalhadores lá. Como viveu também o Brasil com o negacionismo do [ex-presidente Jair] Bolsonaro. Durante a pandemia de covid-19, hospitais sem oxigênio, e esse país irmão foi o epicentro da pandemia na América Latina”, afirmou.
As eleições no país estão marcadas para 28 de julho. Nove candidatos disputarão o pleito contra o atual presidente, Nicolás Maduro. O nome que assumiu protagonismo no campo da direita foi Edmundo González Urrutia. Ele se inscreveu mesmo depois do fechamento do período de registros eleitorais e foi apoiado pela Plataforma Unitária, depois de uma disputa interna ao grupo, travada entre o governador de Zulia, Manuel Rosales, e a ultraliberal María Corina Machado – que está inabilitada por 15 anos.
Edição: Rodrigo Durão Coelho