Movimentos populares e a família da ativista hondurenha assassinada em 2016, Berta Cáceres, exigem que a Justiça do país responsabilize os mandantes do crime.
Cáceres era coordenadora do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH) e se opôs à construção projeto hidrelétrico Agua Zarca, no Rio Gualcarque, considerado um lugar sagrado para os povos indígenas Lenca. Na madrugada de 3 de março de 2016, ela foi morta em casa, na cidade de La Esperanza, no sudoeste de Honduras. Homens armados invadiram local e executaram a liderança a tiros.
"Oito anos após o crime, o sistema de Justiça em Honduras não confirmou as sentenças dos condenados e não processou os autores intelectuais", disse nesta quarta (5) Laura Zúniga, filha da ativista assassinada à veículos de imprensa. É urgente que sejam confirmadas as sentenças."
Oito pessoas já foram condenadas pelo crime, mas as sentenças precisam ser confirmadas pela Corte Suprema de Honduras. Em 2022, a Justiça condenou David Castillo, ex-gerente da empresa Desarrollos Energéticos (Desa) e responsável pelo projeto hidrelétrico de Agua Zarca, a 22 anos e 6 meses de prisão. Em 2018, outras sete pessoas receberam penas de 30 a 50 anos de prisão pelo crime.
A Justiça hondurenha entendeu que a Desa, empresa responsável pelo projeto hidrelétrico Agua Zarca e de propriedade da família Atala, ordenou o assassinato de Cáceres devido aos supostos atrasos e prejuízos econômicos causados pelos protestos dos ambientalistas.
Bertha Zúniga, outra filha de Cáceres, disse que a imprensa do país não noticia o crime como deveria, evitando mencionar a família Atala.
"Os meios de comunicação de Honduras recebem financiamento de empresas da família Atala. Jornalistas que nos entrevistam dizem claramente que se mencionarmos a palavra Atala, a entrevista não irá ao ar", explicou ela. "Por isso, precisamos de pressão internacional."
A ativista emergiu como uma importante líder nacional do movimento de refundação hondurenho após o golpe de estado no país, ocorrido em 2009.
Antes de ser morta, ela foi vítima de ameaças, intimidação, criminalização e atos de violência física cometidos por membros das forças de segurança do país e pessoas ligadas a empresas privadas.
Pela atuação e luta, Berta ganhou reconhecimento internacional. Em 2015, ela recebeu o Prêmio Ambiental Goldman e foi incluída na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo, elaborada pela revista Time. Sua execução causou comoção mundial.
Mesmo com ataques a defensores ambientais, Honduras não assinou o Acordo de Escazú, o primeiro tratado ambiental de direitos humanos na América Latina e no Caribe, que obriga os estados signatários a proteger os defensores ambientais. O acordo entrou em vigor em 22 de abril de 2021.
Edição: Thalita Pires