A Justiça de Honduras condenou Roberto David Castillo culpado pelo assassinato da ambientalista indígena Berta Cáceres depois de mais de cinco anos do crime. Castillo é militar da reserva e foi presidente da empresa Desensolvimento Energéticos S.A. (DESA), encarregada de construir a hidroeléctrica Água Zarca numa reserva índigena da etnia lenca, a qual Berta pertencia.
A pena será definida numa nova audiência no dia 3 de agosto. Segundo o Ministério Público, Castillo poderia cumprir até 30 anos de prisão. Até o momento, cinco pessoas foram indiciadas pelo caso. Agora familiares e amigos exigem que também sejam penalizados os autores intelectuais do crime.
"É uma vitória dos povos do mundo que acompanharam o processo, da comunidade solidária e dos direitos humanos", afirmou Bertha Zúñiga, uma das filhas de Cáceres.
::5 anos do assassinato de Berta Cáceres: movimentos pelo mundo pedem por justiça::
Em comunicado, o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (Copinh), organização à qual Berta pertencia, declarou que as estruturas de poder não puderam corromper o sistema judicial e a "estrutura criminosa da família Átala Zablah, da qual faz parte Castillo, não alcançou seus objetivos".
Esta es una victoria en el largo camino por la justicia para #BertaCaceres. Al igual que ella nunca se rindió, debemos seguir alzando la voz en solidaridad con los pueblos indígenas y su derecho a proteger su tierra y el medio ambiente. #BertaVive https://t.co/F1QD31Fi7p
— COPINH (@COPINHHONDURAS) July 6, 2021
O Ministério Público do país também qualificou o veredito como histórico. "Estamos satisfeitos com a resolução, porque obviamente apresentamos todas as provas que demonstravam a culpa de David Castillo, mas o caso não está fechado. Continuamos procurando mais autores intelectuais", disse o porta-voz do MP, Yuri Mora.
#MP demuestra la culpabilidad del presidente de DESA en el asesinato de Berta Cáceres pic.twitter.com/lxu6xrrfda
— Ministerio Público (@MP_Honduras) July 5, 2021
Repercussão
O Alto Comissionado da ONU em Honduras celebrou a decisão e ofereceu ajuda técnica às instituições públicas do país. "Ao estabelecer responsabilidade pelo assassinato de Berta Cáceres se abre o precedente sobre a importância da justiça ante crimes contra defensores de direitos humanos". O Alto Comissionado pediu, também, que as autoridades hondurenhas continuem responsabilizando todos os envolvidos.
Da mesma forma, a Ministra de Relações Exteriores da Espanha Arancha González afirmou "ânimo às instituições hondurenhas para continuarem a investigação e fortalecer o sistema judicial".
Tomo nota con satisfacción del fallo dictado en el juicio contra el co-autor del asesinato de Berta Cáceres, proceso seguido con interés por la sociedad 🇪🇸. Animo a las instituciones hondureñas a continuar con la investigación y a seguir fortaleciendo el sistema judicial @MAECgob
— Arancha González (@AranchaGlezLaya) July 5, 2021
Nos Estados Unidos, o congressista democrata Chuy García também se manifestou. "É uma vitória depois de uma longa jornada por justiça por Berta Cáceres. Assim como ela nunca desistiu, nós devemos seguir levantando nossas vozes em solidariedade com os povos indígenas e o seu direito de proteger seus territórios e o meio ambiente", publicou.
This is a victory in the long journey for justice for #BertaCaceres. Just like she never gave up, we must continue raising our voices in solidarity with indigenous peoples’ and their right to protect their land and the environment. #BertaVivehttps://t.co/GNdpgWwHCg
— Congressman Chuy García (@RepChuyGarcia) July 5, 2021
Já no Brasil, Juram Werneck, representante do movimento de mulheres negras e diretora da Anistia Internacional declarou "finalmente Davi Castillo foi declarado culpado pela co-autoria do assassinato da ativista indígena Berta Cáceres. Nossa solidariedade à família e ao Copinh".
Finalmente #DaviCastillo foi declarado culpado de coautoria do assassinato da ativista indígena #BertaCáceres#JusticiaParaBerta
— Jurema Werneck (@juremawerneck) July 5, 2021
Nossa solidariedade à família e a #COPINH https://t.co/7ZGka0U6Y7
Entenda o caso
Berta Cáceres foi uma das fundadoras do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (Copinh) e era protagonista das lutas em defesa dos povos indígenas e da preservação ambiental em Honduras.
A ativista foi assassinada enquanto dormia, no dia 02 de março de 2016, em casa, na região de La Esperanza, Intibucá.
Berta coordenava manifestações para impedir a construção da hidroelétrica Água Zarca, no rio Gualcarque, que corta terras indígenas lenca. A obra era um investimento da família de empresários Átala Zablah, acusados de serem os verdadeiros autores intelectuais do homicídio.
O caso se arrasta há mais de cinco anos na justiça. Em dezembro de 2019, quatro pessoas envolvidas no crime foram condenadas a 34 anos de prisão.
Edição: Rebeca Cavalcante