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Lia de Itamaracá: 'Na ciranda entra quem quiser; se brinca, se conversa, tudo com dignidade'; ouça podcast

Na Semana Mundial do Brincar, o jornal Brasil de Fato lança podcast em parceria com a Aliança pela Infância

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Em entrevista exclusiva, Lia de Itamaracá fala de sua trajetória e a importância da ciranda na cultura brasileira - Foto: Sabi Filmes

“A ciranda começou com a roda de criança, onde vem os adultos e ninguém solta as mãos”, diz a cantora e compositora Lia de Itamaracá, a rainha da ciranda. “Não tem preconceito: dança preto, dança branco, dança criança, dança mulato, dança sapatão, dança frango. Entrou na roda, vamos dançar”, convida ela, em entrevista exclusiva para o podcast do Brasil de Fato em parceria com a Aliança pela Infância

O episódio fala de brincadeiras tradicionais como a ciranda, que resistem ao tempo e são brincadas por diversas gerações, celebrando a possibilidade de serem apresentadas para as crianças de agora e relembradas pelos adultos. 

“A ciranda é uma cultura brincante. Na ciranda se brinca, se conversa, tudo com amor, com carinho, com dignidade”, conta Lia. Foi ainda na infância que começou a participar de rodas em sua cidade natal, Recife, onde mais tarde se tornaria referência dessa cultura popular. 

A professora Roseli Artes, convidada do episódio, trabalha há 22 anos na EMEI Ana Maria Poppovic, em São Paulo. Foi nesse chão de escola que viu diversas turmas recriarem brincadeiras que ela mesma fazia quando também estudava lá. 

Ela reforça a importância de brincadeiras de roda nessa fase inicial, que beneficia a criança na “troca, no olhar, no respeito, porque cada criança tem o seu ritmo. Então quando a gente inicia uma roda, às vezes um puxa daqui, puxa dali e vão ajustando ao tempo do outro.”

Na opinião da professora, a escola se tornou um lugar central para brincadeiras coletivas como a ciranda. “Hoje a maioria das famílias moram em apartamentos, não tem mais a brincadeira de rua em São Paulo, então a escola tem que fazer esse resgate”, aponta. “Você faz o movimento inverso, a criança leva essa brincadeira para casa para ensinar os pais.”


O episódio fala do círculo de transmissão das brincadeiras tradicionais pelos mais velhos para as crianças de agora / Foto: José Bernardes

Em seu mestrado, Daniela Signorini Marcilio estudou “As brincadeiras infantis no município de São Paulo Penha e Cangaíba: entre o passado e o presente”. Ela conta que o ambiente público como a rua e a praça, onde brincadeiras de roda aconteciam no passado, hoje foram transferidas para locais privados, como condomínios e a própria escola” e passaram a ter maior interferência dos adultos. 

Para dar oportunidade às novas gerações de criarem sua própria cultura lúdica, a pesquisadora incentiva o brincar livre “é ali onde ela é recriada, elaborada entre as próprias crianças.”

Memória do brincar

Lia de Itamaracá defende a presença dos mestres da cultura popular nas escolas como uma maneira de valorizar o conhecimento e transmitir seus saberes aos mais novos: “Chamem os mestres da cultura para a sala de aula. Os alunos querem aprender. E as crianças, depois que ouvem, chegam em casa e transmitem o que escutaram. É beleza para a família.”

Ouça o episódio:

O ciclo de transmissão de brincadeiras dos mais velhos aos mais novos é uma oportunidade também “de registrar o que não está na história oficial”, destaca a pesquisadora. Já na escola, a professora Roseli destaca o papel dos gestores escolares de ter “disponibilidade de quem está com as crianças”, além do olhar do poder público para a inclusão no currículo de manifestações culturais como a ciranda.

Em 2024 o tema da Semana Mundial do Brincar é “Vem para a roda, no ritmo do brincar”. A programação vai até o dia 02 de junho. A programação está disponível aqui

Edição: Rodrigo Chagas