A engenheira Magda Chambriard assumiu na sexta-feira (24) a presidência da Petrobras e, junto com ela, cresceram as expectativas de que a estatal possa recomprar refinarias e outros ativos privatizados durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Desde 2019, a Petrobras vendeu quatro refinarias e outros ativos importantes para o transporte de gás natural Brasil afora. Na campanha eleitoral de 2022, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aventou a possibilidade de reverter essas vendas.
Lula indicou para a presidência da Petrobras o ex-senador Jean Paul Prates (PT). Ele, no entanto, não avançou de forma definitiva para a recompra de nenhum ativo vendido e isso, segundo fontes ouvidas pelo Brasil de Fato, pode ter sido um dos motivos que levaram a sua demissão, no último dia 14.
Considerando esse contexto, o economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), acredita que Magda Chambriard chega à Petrobras pressionada. "Ela está entrando depois de Jean Paul ser demitido justamente por sua lentidão no processo de reestatização, o que deve incentivá-la a tomar decisões mais enérgicas sobre isso", avaliou.
Na gestão do ex-senador, a Petrobras abriu conversas com o fundo Mubadala Capital, dos Emirados Árabes Unidos, sobre a Refinaria de Mataripe, antiga Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia. Até hoje não se sabe se a Petrobras quer mesmo recomprar o ativo e em quais condições isso seria feito.
Privatizada em 2021, a Rlam elevou os preços dos seus combustíveis. Tornou a Bahia um dos estados com a gasolina mais cara do país.
Já em 2022, a Petrobras vendeu a Refinaria Isaac Sabbá (Reman), localizada em Manaus (AM), para o grupo Atem. Segundo Dantas, o gás de cozinha vendido lá é hoje 44% mais caro do que nas refinarias da Petrobras. A gasolina é 14% mais cara e o diesel, 2%.
Durante a gestão Prates, não houve qualquer sinalização da Petrobras sobre a recompra da Reman. Nesta sexta, o jornal O Globo informou que Chambriard foi incumbida pelo governo Lula de negociar a reestatização do ativo. "Antes só existia a discussão sobre Mataripe. Começa a aparecer agora algo sobre a Reman", acrescentou Dantas.
Mahatma dos Santos, um dos diretores técnicos do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), afirmou que ainda há poucas sinalizações sobre o que Chambriard pretende fazer da Petrobras. Ele reforçou que os petroleiros esperam uma postura mais ativa dela nas reestatizações.
"O que eu posso dizer é que há uma expectativa dos trabalhadores da Petrobras, das lideranças sindicais, sobretudo mais vinculadas à FUP [Federação Única dos Petroleiros], de que essa nova gestão seja mais ativa nesses processos de negociação ou renegociação de compra ou reestatização de ativos", afirmou.
Outros planos
Mahatma também reforçou a perspectiva de aumento da exploração de petróleo no mar e também em terra. Há, inclusive, uma expectativa sobre o início da exploração marinha na área conhecida como Margem Equatorial, que abrange a área da foz do Rio Amazonas e por isso é criticada por ambientalistas.
Chambriard já defendeu a exploração naquele local. "A gente não pode desistir da Margem Equatorial. Nesse ponto, meu foco é a Foz do Amazonas, pelo tipo de geologia, pelo afastamento da costa, pelas águas profundas e pelo talude mais espesso", afirmou a sucessora de Prates, ao portal Brasil Energia, em abril de 2024.
O diretor técnico do Ineep também disse que espera uma intensificação dos investimentos da Petrobras, incluindo em refinarias próprias e no transporte de gás.
"Há uma certa inclinação dela para atuar nesse tema do transporte de gás natural, da ampliação da infraestrutura de escoamento e transporte de gás natural no Brasil, que é uma demanda bem robusta do setor privado, da indústria privada brasileira, mas também fortemente encampado pelo atual governo e o próprio Lula", disse Mahatma. "E também da recuperação de uma política industrial, de conteúdo local."
O conteúdo local se refere às compras de empresas nacionais que a Petrobras realiza. Como maior empresa do país, esse tipo de despesa colabora para o aumento da produção industrial do país, gerando empregos e renda internamente.
Quem é Chambriard?
Engenheira química e civil, Chambiard entrou na Petrobras em 1980, como estagiária, e trabalhou na empresa por 22 anos. Depois, foi diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), entre 2012 e 2016.
A nova presidenta da estatal é diretora da Assessoria Fiscal da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e sócia da empresa Chambriard Engenharia e Energia desde 2018. Ela também foi coordenadora de pesquisas em óleo e gás na FGV Energia, que é o Centro de Estudos de Energia da Fundação Getulio Vargas.
Edição: Nicolau Soares