PLEITO EM JULHO

Amorim diz que fala de Lula foi para mostrar que governo brasileiro quer 'ajudar' o processo eleitoral da Venezuela

Presidente brasileiro havia dito que situação das inscrições para o pleito no país vizinho era "grave"

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Amorim afirmou que a troca de notas entre os ministérios das Relações Exteriores dos dois países e a fala de Lula não comprometem a relação de Brasil e Venezuela - Wilson Dias /Agência Brasil

O assessor para assuntos internacionais do governo brasileiro, Celso Amorim, disse nesta quinta-feira (28) que a fala do presidente Lula sobre a Venezuela expressa a “preocupação” do governo brasileiro em ajudar o processo eleitoral no país vizinho. O chefe do Executivo brasileiro havia dito que a impossibilidade de a candidata de oposição Corina Yoris poder concorrer era “grave”.

Em entrevista ao jornal O Globo, Amorim afirmou que a declaração de Lula faz parte de um cuidado que o governo brasileiro tem com eleições “complexas”. 

A relação entre Venezuela e Brasil ficou marcada nesta semana por uma troca de notas além da fala de Lula. O país vizinho encerrou na segunda-feira (25) o período para registro de candidatos para as eleições que estão marcadas para 28 de julho. 

A ex-deputada ultraliberal do Vente Venezuela, María Corina Machado, pretendia se registrar, mas está inabilitada por 15 anos por falhas na declaração de bens enquanto estava na Assembleia Nacional. Ela apresentou na última sexta-feira (22) a professora Corina Yoris para disputar o pleito em seu lugar. Ela, no entanto, também não conseguiu se registrar alegando que estava sem acesso à plataforma de inscrição do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

Na terça-feira (26), o Itamaraty publicou uma nota afirmando que acompanhava com “preocupação” o processo e que a impossibilidade de registro de Yoris "não estava compatível com o acordo de Barbados". O documento assinado entre parte da oposição e o governo venezuelano em outubro de 2023 definia, entre outras coisas, que as eleições deveriam ser realizadas no segundo semestre e que as inabilitações seriam revisadas pela Justiça do país. María Corina teve a sua inabilitação confirmada pelo Tribunal Supremo de Justiça em janeiro de 2024. 

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela respondeu e disse que o documento publicado pelo governo brasileiro “parecia ter sido escrito pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos”.

Na quinta-feira (28), Lula falou sobre o tema. Ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que a impossibilidade de Yoris se registrar era “grave” e foi vista “com surpresa pelo governo brasileiro”.

Ainda na entrevista ao jornal O Globo, Amorim afirmou que a troca de notas entre os ministérios das Relações Exteriores dos dois países e a fala de Lula não comprometem a relação de Brasil e Venezuela.

Para a disputa eleitoral, a Venezuela tem 13 candidatos inscritos. Esse é o 2º maior número de candidatos registrados em uma eleição no país desde 1993. Nos últimos 31 anos, só o pleito de 2006 teve mais concorrentes. Naquele ano, os eleitores podiam escolher entre 14 candidatos.

O período de inscrição de candidatos na Venezuela também expôs um racha na oposição do país. O governador de Zulia, Manuel Rosales, se inscreveu de última hora e vai disputar o pleito. Ele chegou a se reunir com María Corina na semana passada para discutir estratégias para o processo de inscrição e colocou o seu partido, Um Novo Tempo (UNT), à disposição da candidata inabilitada. 

Depois do período de inscrição, ela chegou a dizer que não apoiaria Rosales e reforçou que Yoris era sua candidata. O governador de Zulia afirmou que abriria mão da candidatura se a oposição achasse um nome que pudesse se inscrever. Rosales é nome experiente da política venezuelana e já disputou as eleições em 2006, quando perdeu para o então presidente Hugo Chávez.  

Edição: Rodrigo Durão Coelho