As investigações sobre o uso ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar ilegalmente autoridades, políticos e jornalistas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) ainda precisa esclarecer quais eram os objetivos da espionagem, avalia o jornalista Altamiro Borges, em entrevista ao apresentador Kaique Santos, no programa Central do Brasil.
“Estava a serviço do (vereador do Rio do Janeiro) Carlos Bolsonaro (Republicanos), para alimentar suas campanhas de ódio e difamação nas redes digitais? Era para perseguir adversários políticos? Era para defender interesses da família Bolsonaro? Por exemplo, estava em apuração os loobys do Jair Renan. Era para defender ele? Ou era pra defender o Flávio Bolsonaro no caso das rachadinhas? É preciso avançar nas investigações”, defendeu.
A suspeita da PF é de que assessores do vereador, que também são alvo da operação, pediam informações para o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem. As investigações indicam que a Abin foi usada para beneficiar Flávio e Jair Renan Bolsonaro, também filhos do ex-presidente, em investigações das quais eram alvos.
Confira o programa Central do Brasil desta terça-feira (30):
Para Altamiro, o escândalo alcançou outro patamar com as diligências da Polícia Federal em endereços de Carlos Bolsonaro e na casa de veraneio da família Bolsonaro, em Angra dos Reis. “A coisa vai esquentar nos próximos dias”, disse ele, lembrando que ex-aliados de Bolsonaro já haviam denunciado a criação dessa “Abin Paralela”.
“O ex-ministro-chefe da secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro Gustavo Bebianno coordenou a campanha. E nesse programa (Roda Viva, da TV Cultura) ele foi explícito: foi criada uma Abin paralela, proposta por Carlos Bolsonaro. Ele já tinha citado nomes e ali já era para ter ocorrido alguma coisa. A ex-deputada Federal Joice Hasselmann, que foi líder do governo Bolsonaro, também denunciou o esquema”, destaca.
“O que mudou? Antes as denúncias eram feitas no covil do fascista. Ninguém mexia com ele. Ele era o presidente da República, ele tinha controle da Abin, ele se dizia dono das Forças Armadas. Nós estamos com o novo governo a um ano. E a gente tem que ver se foram tomadas as medidas para conter essa Abin paralela. Outra coisa importante é que mudou a Procuradoria-Geral da República. Antes o procurador, Augusto Aras, arquivava tudo, era um bajulador do Bolsonaro, foi indicado por ele duas vezes. Nada avançava. Agora você tem um novo chefe na PGR, o Paulo Gonet, que tem sinalizado uma mudança de postura”, complementa Altamiro.
O jornalista ressalta que, além das investigações policiais sobre a família Bolsonaro e seus aliados, o escândalo da Abin deve servir “para fazer uma limpeza” no órgão e repensar os objetivos do serviço de inteligência no Brasil.
“Abin foi criada no governo de FHC, para substituir o Serviço Nacional de Informação, que era o órgão de inteligência da ditadura militar, um órgão de perseguição. A Abin tinha o papel de defesa dos interesses nacionais. Uma agência de inteligência. Todo país sério do mundo, com alguma capacidade, os países do G20 têm serviços de inteligência. O problema é que a Abin deturpou totalmente seu papel. E piorou ainda mais no reinado do fascista Jair Bolsonaro. Ele aparelhou a Abin”, acusou.
“Hoje tem duas discussões: a primeira é uma limpeza na Abin. Você vê o papel da Abin no 8 de janeiro. A Abin não informou nada. O que o governo Lula fez até agora foi tirar a Abin do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), passando para a Casa Civil. Mas o que se percebe é que tem muita gente do bolsonarismo infiltrada lá ainda. O segundo é aproveitar esse momento da denúncia da arapongagem da Abin para repensar o projeto de inteligência no Brasil. Não é para ficar perseguindo gente, é para defender os interesses nacionais”, completa Altamiro.
O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Edição: Rodrigo Durão Coelho