CONTRA-ATAQUE

Em resposta a bombardeio, Paquistão ataca vilarejo no Irã

Teerã diz que civis foram mortos e convoca diplomata para explicações; tensão entre países vem crescendo

Brasil de Fato | São Paulo |

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Manifestantes protestam em Islamabad, capital do Paquistão, no mesmo dia em que o país atacou o Irã: antiga rivalidade entre vizinhos se transforma em novo foco de tensão no Oriente Médio - Farooq Naeem / AFP

Um ataque atingiu uma vila no Irã, perto da fronteira com o Paquistão, no que parece ter sido uma retaliação paquistanesa pelo ataque iraniano de dois dias atrás. Nove pessoas teriam morrido.

Teerã condenou veementemente os ataques na província do Sistão-Baluchistão (sudeste do Irã), alegando que civis foram mortos. O Ministério das Relações Exteriores convocou o encarregado de negócios do Paquistão, seu diplomata mais graduado no Irã, para dar explicações, disse o porta-voz da Chancelaria, Nasser Kanaani.

"As informações recebidas indicam que quatro crianças, três mulheres e dois homens, que eram estrangeiros, foram mortos na explosão que ocorreu em uma vila", disse o ministro do Interior do Irã, Ahmad Vahidi, à TV estatal.

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O Paquistão sustenta que a operação tinha como alvo "terroristas" e foi bem-sucedida. "Um número de terroristas foi morto durante a operação baseada em inteligência", disse em nota o Ministério das Relações Exteriores, descrevendo a operação como uma "série de ataques militares de precisão altamente coordenados e especificamente direcionados contra esconderijos terroristas".

Um alto funcionário de segurança paquistanês disse à agência Reuters que o exército está em "alerta extremamente elevado" e responderá a qualquer "aventura" iraniana com firmeza.

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O Paquistão afirma ter usado drones, foguetes e outras munições de longo alcance, alegando que os alvos eram bases usadas pelos grupos Frente para Libertação Baloch e seu associado Exército para Libertação Baloch.

No ataque de dois dias atrás, que teria deixado duas crianças mortas e três feridas em território paquistanês, o Irã alegou que seu único alvo era o grupo militante Jaish al-Adli (Exército da Justiça, em tradução literal) — organização separatista considerada "terrorista" por Teerã — e garantiu que a ofensiva não mirou nenhum cidadão paquistanês. Todos os grupos citados são etnicamente baloch.

Paquistão cruzou a linha

Os países vizinhos acumulam um longo histórico de tensões. Para citar apenas o episódio mais recente, em dezembro do ano passado, o Jaish al-Adl reivindicou a responsabilidade por um ataque a uma delegacia de polícia na cidade iraniana de Rask, também localizada no Sistão-Baluchistão, que matou 11 agentes de segurança iranianos.

Mas os ataques desta semana são considerados as incursões transfronteiriças mais sérias dos últimos anos e ocorrem em meio a crescentes preocupações com a instabilidade no Oriente Médio desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em 7 de outubro de 2023, que se desdobrou num massacre que já custou a vida de mais de 24 mil palestinos, a maioria crianças e mulheres.

Analistas alertam que a situação pode fugir do controle. "A motivação do Irã para atacar o Paquistão permanece opaca, mas à luz do comportamento mais amplo do Irã na região, isso pode se intensificar", disse à Reuters Asfandyr Mir, especialista sênior em segurança do sul da Ásia.

Ele se refere aos mísseis balísticos lançados por Teerã na Síria e norte do Iraque na segunda-feira (15), contra alvos, respectivamente, do Estado Islâmico e da agência de espionagem israelense Mossad, que estariam envolvidas nos bombardeios de duas semanas atrás no Irã, que mataram 84 pessoas em uma cerimônia para homenagear o general da Guarda Revolucionária Qasim Soleimani, assassinado pelos Estados Unidos.

Segundo Asfandyr Mir, o Paquistão ultrapassou um limiar ao atingir o território iraniano, algo que nem os EUA nem Israel tinham ousado fazer.

Com informações da agência estatal Irna

Edição: Lucas Estanislau