CRIMES DE GUERRA

Organizações sociais de todo o mundo pedem apoio à iniciativa sul-africana de condenar Israel por ataques à Palestina

Mais de 870 organizações de todo o mundo defendem adesão à ação da África do Sul no Tribunal Penal Internacional

Brasil de Fato | Havana (Cuba) |

Nos dias 11 e 12 de janeiro, a Corte Internacional de Justiça (CIJ), o mais alto órgão judicial da ONU, realizará as primeiras audiências públicas para tratar do pedido de uma ação judicial de autoria da África do Sul, que acusa o Estado de Israel de cometer crimes de genocídio contra o povo palestino.  

O pedido foi apresentado ao tribunal em 29 de dezembro por meio de um documento de 84 páginas. De acordo com a África do Sul, as ações perpetradas por Israel contra Gaza são de "natureza genocida", pois "têm a intenção de provocar a destruição de uma parte substancial do grupo nacional, racial e étnico palestino". 

O documento também afirma que esses "atos de genocídio são inevitavelmente parte de um continuum" ao lado de crimes de guerra, como "ataques intencionalmente dirigidos contra a população civil, objetos civis e edifícios dedicados à religião, educação, arte, ciência, monumentos históricos, hospitais e locais onde os doentes e feridos são recolhidos". 

Apoio à iniciativa da África do Sul

No domingo (7), o Ministério das Relações Exteriores do Estado Plurinacional da Bolívia emitiu um comunicado no qual afirma que "valoriza a ação histórica empreendida pela República da África do Sul". Nesse contexto, o texto oficial afirma que a "liderança e o esforço" da África do Sul "devem ser acompanhados pela comunidade internacional que clama pelo respeito à vida". 

Além disso, o comunicado lembra que, em 17 de novembro, a Bolívia, juntamente com a África do Sul, Bangladesh, Comores e Djibuti, apresentou uma solicitação ao Procurador do Tribunal Penal Internacional (ICC) para investigar a situação no Estado da Palestina.

A iniciativa sul-africana também gerou apoio na esquerda israelense. Ofer Cassif, membro do Partido Comunista Israelense, expressou seu apoio à denúncia contra o Estado de Israel apresentada ao Tribunal Penal em Haia. Por meio de sua conta no X/Twitter, Cassif defendeu sua posição afirmando que seu apoio é para a sociedade israelense e não para o governo do ultradireitista Benjamin Netanyahu. 

"Meu dever constitucional é para com a sociedade israelense e todos os seus residentes, não para com um governo e seus membros de coalizão que pedem limpeza étnica e até mesmo genocídio real. São eles que prejudicam o país e seu povo; foram eles que levaram a África do Sul a se aproximar de Haia, não eu ou membros do meu gabinete", publicou.

O Partido Comunista de Israel faz parte da coalizão de partidos de esquerda Hadash, acrônimo em hebraico para Frente Democrática pela Paz e Igualdade. 

A posição de Cassif gerou revolta no Knesset, o órgão unicameral que detém o poder legislativo do Estado de Israel. De fato, o presidente do Yisrael Beiteinu, um partido sionista secular, Oded Forer, pediu a expulsão de Cassif do Knesset. 

Um grito pela Palestina 

Desde 3 de janeiro, a Coalizão Internacional para Acabar com o Genocídio na Palestina (ICSGP) tem conduzido uma campanha global de coleta de assinaturas para exigir o apoio da comunidade internacional à denúncia da África do Sul à Corte Internacional de Justiça. 

"Os Estados signatários da Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio têm a obrigação de agir para evitar o genocídio. Eles devem, portanto, tomar medidas imediatas", argumenta a carta do grupo.

Até o momento, a iniciativa recebeu o apoio de mais de 870 organizações da sociedade civil, sindicatos, associações e movimentos sociais. 

Adrianne Pine, promotora do ICSGP, em conversa com o Brasil de Fato, explica que "os movimentos sociais têm um papel enorme a desempenhar na preparação para as audiências desta quinta e sexta-feira, pressionando os governos a seguirem o exemplo moral da África do Sul".

Pine diz que a mobilização da sociedade civil é essencial para garantir que os Estados "não cedam à pressão de Israel e dos Estados Unidos, que querem permitir que o genocídio continue".

A International Coalition to Stop Genocide in Palestine e as mais de 870 organizações signatárias exigem que os Estados não apenas se manifestem em apoio à iniciativa da África do Sul, mas também que apresentem uma Declaração de Intervenção em apoio ao caso da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça. 

Hassan Ben Imran, membro do Conselho de Administração da Law for Palestine Organisation, explica ao Brasil de Fato que "do ponto de vista jurídico, isso oferece uma contribuição adicional que contribuiria para a construção de argumentos sobre a disputa que está sendo deliberada". 

Além disso, Hassan Ben Imran explica que "os terceiros Estados que fazem parte da Convenção sobre Genocídio têm a obrigação legal de agir para evitar que o genocídio ocorra. Uma declaração de intervenção é um passo nessa direção. Nesse estágio, como estamos aguardando uma decisão sobre as Medidas Provisórias após as audiências de 11 e 12 de janeiro, dar as boas-vindas a essa medida da África do Sul é o mínimo que os Estados terceiros podem fazer para evitar o genocídio ou impedir sua perpetração".

Edição: Thalita Pires