À medida em que os diplomatas nas Nações Unidas segue com seus debates minuciosos — e, até agora, sem resultado — sobre os termos para uma resolução que alivie o sofrimento do povo palestino, Israel intensifica a ofensiva, que a cada dia deixa um número maior de mortos, feridos e detidos, na Faixa de Gaza e também na Cisjordânia. Sem falar nos maus tratos e violações de direitos, tanto em relação aos vivos quanto aos que já foram enterrados.
As Nações Unidas afirmaram que Israel emitiu "ordens de evacuação" para grandes áreas de Khan Yunis, principal cidade do sul da Faixa de Gaza, onde mais de 140.000 pessoas deslocadas estavam abrigadas, pois o país invasor havia orientado que elas fugissem do norte para o sul, a fim de não correrem o risco de serem consideradas combatentes.
O sul de Gaza está sob forte ataque, com bombardeios destruindo prédios e matando mais civis a cada dia, particularmente em Khan Yunis e Rafah. Mas o massacre israelense ocorre simultaneamente em boa parte da Faixa de Gaza, onde o Ministério da Saúde, controlado pelo Hamas, já contabiliza mais de 20 mil mortes, sendo cerca de 8.000 crianças e 6.200 mulheres.
Além da magnitude da estatística, existem também as violações cotidianas que por vezes afetam grupos pequenos de pessoas, mas com grande crueldade. O escritório de direitos humanos da ONU afirma ter recebido alegações de que as forças israelenses mataram pelo menos 11 homens palestinos desarmados na frente de suas famílias na Cidade de Gaza. Os soldados teriam invadido um prédio residencial, separado os homens das mulheres e crianças e matado os homens, entre 20 e 30 anos. A ONU instou Israel a conduzir uma investigação independente.
"Os soldados israelenses invadiram nosso prédio. Eles forçaram a entrada em todas as casas, mataram os homens e detiveram as mulheres e crianças. Não sabemos onde estão. Eles fizeram o mesmo em cada andar. Todas as mulheres foram reunidas em uma sala. Quando chegaram até nós no sexto andar, começaram a atirar em todos os homens", disse uma mulher, acrescentando que seu sogro e filho foram baleados e mortos instantaneamente, segundo a Al Jazeera.
Sobreviventes também disseram que os soldados israelenses maltrataram mulheres e crianças.
Corpos ao ar livre
Tanques israelenses destruíram um cemitério na zona leste da Cidade de Gaza, em operação que destruiu sepulturas e acabou desenterrando e esmagando cadáveres, inclusive de crianças, que ficaram à vista. Não é a primeira vez que isso acontece na guerra em curso.
Diplomacia
Em meio a tanta destruição, intensificam-se as esperanças de se chegar a uma nova trégua, à medida em que o líder do Hamas no Catar, Ismail Haniyeh, chegou ao Egito para novas negociações, com o chefe de inteligência do país, Abbas Kamel, e com o ministro das Relações Exteriores iraniano, Hossein Amir-Abdollahian. Mas nenhum detalhe foi divulgado.
O Conselho de Segurança da ONU também deve tentar mais uma vez, nesta quinta-feira (21), aprovar uma resolução pedindo uma interrupção nos combates, depois que esforços anteriores para obter o apoio de Washington fracassaram. A votação tem sido adiada há vários dias, pois os diplomatas tentam chegar a termos que sejam aceitáveis para os Estados Unidos, de modo que este país não vete a resolução, como fez nas votações anteriores.
"Todos querem ver uma resolução que tenha impacto e seja implementável", disse a embaixadora Lana Nusseibeh, dos Emirados Árabes Unidos, que patrocinou a proposta de resolução. "Acreditamos que hoje, dando um pouco mais de espaço para a diplomacia adicional, pode haver resultados positivos."
No entanto, grupos palestinos rejeitam qualquer discussão sobre trocas de prisioneiros — como foi feito na trégua anterior — até o fim da ofensiva israelense em Gaza, de acordo com o Hamas. "Há uma decisão nacional palestina de que não deve haver conversa sobre prisioneiros ou acordos de troca, exceto após o cessar total da agressão", diz comunicado divulgado pelo grupo.
Com informações da Al Jazeera e do site The New Arab.
Edição: Rodrigo Durão Coelho