Israel está sob pressão para interromper o massacre de civis, inclusive dos Estados Unidos, seu maior aliado . O governo de Joe Biden vê sua popularidade derreter. Na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, palestinos continuam sendo dizimados e enterrados em valas comuns, dia após dia. Mesmo assim, a instância mais importante das Nações Unidas ainda encontra dificuldade para aprovar uma resolução a favor do cessar-fogo que não seja vetada pelos estadunidenses.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas tinha prevista uma votação nesse sentido para segunda-feira (18), mas teve que adiá-la para esta terça para evitar outro veto dos Estados Unidos — os cinco membros permanentes têm direito a veto, que tem sido exercido repetidamente pelos representantes de Washington.
Um rascunho da nova resolução solicitava "uma interrupção urgente e duradoura das hostilidades para permitir o acesso sem impedimentos de ajuda humanitária à Faixa de Gaza". Fontes diplomáticas indicam que essa linguagem já foi alterada para uma "suspensão urgente das hostilidades" e poderia ser ainda mais suavizada para satisfazer Washington.
O xis da questão é que os EUA fazem questão de resguardar aquilo que consideram um direito de Israel, ou seja, atacar Gaza até que considere concluída a missão declarada de desmantelar o grupo palestino Hamas. Por isso não aceitam nenhum texto que pressione Israel a iniciar um cessar-fogo. Enquanto isso, quase 20 mil palestinos já morreram, a imensa maioria civis inocentes, sendo que boa parte é formada por mulheres e crianças.
Em 8 de dezembro, apesar da pressão sem precedentes do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, os EUA bloquearam a adoção de uma resolução que exigia um "cessar imediato das hostilidades". Na semana passada, a Assembleia Geral, composta por 193 membros, aprovou por larga maioria uma resolução semelhante. No entanto, as resoluções dessa instância não são obrigatórias, apenas simbólicas.
"Cada hora, cada dia que passa, civis em Gaza estão morrendo", afirmou Agnes Callamard, secretária-geral da Anistia Internacional.
The vote has been postponed to tomorrow (19 December). It means that there are negotiations over the text - most probably to avoid another or several vetoes. Every hour, every day that passes - civilians in Gaza are dying. https://t.co/ofEzUoFgop
— Agnes Callamard (@AgnesCallamard) December 18, 2023
Biden em baixa
Os eleitores desaprovam a maneira como o presidente dos EUA, o democrata Joe Biden, está lidando com o conflito na Palestina, e acham que seu provável rival nas eleições de 2024, o republicano Donald Trump, faria uma gestão melhor da crise, segundo pesquisa do New York Times/Siena College.
"Você aprova a maneira como o presidente Biden está lidando com o conflito israelense-palestino?", perguntou a pesquisa. 33% responderam que sim, 57% responderam que não, e o restante não sabe ou se recusou a responder.
Próxima pergunta: Em quem você confia para fazer um trabalho melhor no conflito israelense-palestino? Biden: 38%; Trump: 46%; o restante não sabe ou se recusou a responder.
Os eleitores entre 18 e 29 anos, tradicionalmente um grupo demográfico fortemente democrático, se destacam. Quase três quartos deles desaprovam a maneira como Biden lida com o conflito e a maioria (49% a 43%) diz ter intenção de votar em Trump . Em julho passado, Biden tinha vantagem de 10 pontos percentuais nessa faixa do eleitorado.
"Não quero votar em alguém que não esteja alinhado com meus próprios valores pessoais, como Biden mostrou que não está quando se trata de Gaza", disse Colin Lohner, um engenheiro de software de 27 anos em San Francisco. Mas ele se pergunta: "Eu voto em Biden ou não voto em ninguém? Isso é realmente difícil, porque se eu não votar em Biden, abro a possibilidade de Trump ganhar, e eu realmente não quero isso."
Os eleitores também estão enviando sinais difíceis de decifrar sobre como Washington deve formular suas políticas em relação ao Oriente Médio. Questionados se gostariam que Israel continue sua ofensiva militar ou a interrompesse agora para poupar civis, os estadunidenses praticamente se dividem ao meio, algo que parece deixar o presidente com poucas opções politicamente aceitáveis.
Continua o massacre
Mísseis de Israel voltaram a cair sobre a cidade de Rafah, no sul de Gaza, onde centenas de milhares de palestinos se reuniram nas últimas semanas achando que poderiam estar a salvo. Os ataques mataram pelo menos 20 pessoas e feriram outras dezenas, segundo o Ministério da Saúde do território palestino.
Os residentes disseram que tiveram que cavar nos escombros com as mãos. "Isso é um ato bárbaro", disse Mohammed Zurub. Entre os mortos, estava o jornalista palestino Adel Zurub e vários membros de sua família, disseram os médicos. Até o final da semana passada, já haviam sido contabilizados 64 jornalistas mortos na guerra.
Também no sul, tanques israelenses avançaram na cidade de Khan Younis e bombardearam uma área de mercado, mas encontraram forte resistência, disseram os moradores. Milhares de combatentes do Hamas, baseados na redes de túneis subterrâneos, estão travando uma guerra de guerrilha contra os soldados israelenses.
No norte de Gaza, outro ataque em Jabalia matou 13 pessoas e feriu cerca de 75, segundo o Ministério da Saúde. Um residente do campo de refugiados, que pediu para não ser identificado, disse que achava que os refugiados estavam sendo punidos por se recusarem a obedecer às ordens israelenses para deixar a área.
"Não há comida, não há água, não há remédios e não há hospitais para levar os feridos e os pacientes. As pessoas morrem em suas casas e nas ruas", acrescentou. Israel diz que avisa sobre os ataques com antecedência para que os civis possam escapar e acusa o Hamas de se esconder em áreas residenciais.
Segundo a contabilidade das autoridades em Gaza, 19.453 palestinos foram mortos e 52.286 ficaram feridos desde 7 de outubro.
Edição: Rodrigo Durão Coelho