À medida em que Israel intensifica o massacre em Gaza, sob o pretexto de combater o que chama de terroristas, e se vê cada vez mais isolado internacionalmente, uma pesquisa realizada pelo Centro Palestino para Estudo de Política e Pesquisa (PCPSR, na sigla em inglês) mostra que cresceu entre a população palestina o apoio ao Hamas desde 7 de outubro, dia do ataque do grupo a Israel que desencadeou a ofensiva atual.
Quase três em cada quatro palestinos acreditam que o ataque do Hamas foi correto, tendo em vista as consequências causadas até agora: pelo menos 18.608 palestinos, a maioria mulheres e menores de idade, foram mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Os ataques de Israel levaram ainda a destruição massiva da infraestrutura local, fome e péssimas condições de saúde para o povo palestino. Além disso, a maioria dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza foi obrigada a sair de casa e encontrar outro teto para se abrigar, nem que seja em barracas de acampamento, situação que se tornou particularmente precária com a chegada do frio e chuvas intensas nos últimos dias.
O percentual exato de entrevistados que considera correta a decisão do Hamas de atacar Israel é de 72%, ante 22% que a consideram errada e 6% que não responderam ou estavam indecisos. O apoio é maior na Cisjordânia (82%) do que na Faixa de Gaza (57%). O Hamas governa Gaza, enquanto a Autoridade Palestina exerce um governo limitado em partes da Cisjordânia, território ocupado por Israel.
Outro dado notável é que 52% dos habitantes de Gaza e 85% da Cisjordânia (72% dos entrevistados palestinos no geral) expressaram satisfação com o papel do Hamas na guerra. Apenas 11% se disseram satisfeitos com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
O PCPSR constatou que, em comparação com pesquisas anteriores à guerra, o apoio ao Hamas aumentou em Gaza e mais que triplicou na Cisjordânia – embora a ofensiva de Israel esteja concentrada principalmente em Gaza, a Cisjordânia testemunha atualmente os níveis mais altos de violência em anos, com confrontos mortais repetidos entre tropas israelenses, colonos judeus e cidadãos palestinos.
Motivação do Hamas e de Israel
Quando questionados sobre as razões do Hamas para lançar a ofensiva em 7 de outubro, a maioria esmagadora (81%, sendo 89% na Cisjordânia e 69% em Gaza) afirmou que foi uma resposta aos ataques de colonos na mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém (foco histórico de tensão entre judeus e muçulmanos), e pela libertação de palestinos de prisões israelenses. Apenas 14% (5% na Cisjordânia e 27% em Gaza) veem por trás do ataque um plano iraniano para frustrar a normalização de relações diplomáticas dos países árabes com Israel, que estava em curso e foi suspensa.
Sobre o objetivos de Israel, a maioria (53%) acredita que é destruir a Faixa de Gaza e matar ou expulsar sua população, ante 42% que pensa que é se vingar do Hamas. Porém, a grande maioria (70%) acredita que Israel falhará em erradicar a resistência palestina. Nesse quesito, no entanto, existe uma grande diferença de opinião entre residentes dos dois territórios. Na Cisjordânia, 87% acreditam que Israel vai se dar mal. Em Gaza, apenas 44% têm essa opinião.
A pesquisa revelou ainda que 44% dos habitantes de Gaza afirmam ter comida e água suficientes para um ou dois dias, enquanto 56% dizem que não têm. Quase dois terços dos entrevistados em Gaza, 64%, afirmaram que pelo menos um membro de sua família foi morto ou ferido na guerra.
Para garantir a segurança dos pesquisadores na Faixa de Gaza, as entrevistas foram conduzidas durante o cessar-fogo do início de dezembro. Foram entrevistados presencialmente 1231 adultos, dos quais 750 na Cisjordânia e 481 na Faixa de Gaza, uma amostra que o instituto considera representativa dos moradores das duas áreas. A margem de erro é de 4 pontos percentuais.
Pós-guerra
Líderes árabes reunidos no Catar reiteraram sua rejeição à formação de uma força internacional para ocupar Gaza após o fim do ataque de Israel. A situação dos palestinos foi o assunto principal do Fórum Anual de Doha. "Ninguém da região aceitará colocar os pés (em Gaza) na sequência de um tanque israelense. Isso é inaceitável", disse o primeiro-ministro do Catar, xeque Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani, que também se opôs à atuação de qualquer força internacional em Gaza nas condições atuais. "Não devemos sempre falar sobre os palestinos como se precisassem de algum guardião."
Os palestinos foram representados pela Autoridade Palestina, que controla partes da Cisjordânia. Apesar da rivalidade com o Hamas, o primeiro-ministro da AP, Mohammed Shtayyeh, disse que o Hamas não pode ser erradicado. Eles são "uma parte integral do mosaico político palestino", afirmou.
Israel mata mais inocentes
As Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmaram nesta quinta-feira (14) que seus soldados atacaram militantes do Hamas em áreas densamente povoadas da Faixa de Gaza nas últimas 24 horas, e que confrontos também estão ocorrendo na Cisjordânia ocupada por Israel e na fronteira com o Líbano.
O Ministério da Saúde de Gaza disse que as forças israelenses mataram pelo menos 12 palestinos e feriram mais de 30 pessoas durante uma incursão de três dias em Jenin, na Cisjordânia, na qual soldados cercaram hospitais, realizaram prisões em massa e enfrentaram atiradores nas ruas. Entre os mortos, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) informou que havia "um adolescente desarmado", de 17 anos, alvejado dentro de um hospital.
Na quarta-feira (13), um menino de 13 anos doente foi carregado por seu pai para o mesmo hospital porque carros blindados israelenses bloquearam as ambulâncias. Ele morreu logo depois, informou o MSF.
Em Rafah, cidade do sul do Líbano para onde centenas de milhares palestinos se deslocaram para fugir da guerra, pelo menos 20 palestinos foram mortos em ataques aéreos israelenses desde quarta, quando Israel lançou uma série de ataques por toda a Faixa de Gaza. Um deles visou um centro de saúde no campo de refugiados de Jabalia, no norte, associado à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), segundo a agência de notícias palestina Wafa. A agência também relatou que ataques aéreos israelenses impactaram um prédio perto do campo de refugiados de Nuseirat, no centro de Gaza, que abrigava pessoas deslocadas.
Edição: Nicolau Soares