Apesar da crescente cobrança internacional, inclusive de aliados tradicionais, para que Israel poupe cidadãos inocentes, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que as tropas israelenses não conseguem reduzir as mortes de civis em sua incursão terrestre na Faixa de Gaza para tentar destruir o Hamas.
“Tentaremos concluir esse trabalho com o mínimo de vítimas civis. É isso que estamos tentando fazer. Mas, infelizmente, não estamos tendo sucesso”, afirmou em entrevista à rede estadunidense CBS, nesta quinta-feira (16).
O premiê repisou alguns argumentos tradicionalmente usados pelo governo invasor, de que Israel faz o possível para alertar a população palestina de que é preciso deixar as zonas que serão atacadas (por meio de panfletos e telefonemas) e de que o verdadeiro perigo é representado pelo Hamas, que teria o interesse de manter a população civil onde está, para que sirva como escudo humano.
“Qualquer morte de civis é uma tragédia. E não deveríamos ter nenhuma, porque estamos fazendo tudo o que podemos para tirá-los do perigo, enquanto o Hamas está fazendo tudo para mantê-los em perigo”, disse Netanyahu.
Esse tipo de postura contrasta com outras manifestações do governo israelense ao longo do massacre em curso. Para citar apenas uma, logo no início do contra-ataque de Israel, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, declarou: “Estamos lutando contra animais e agimos em conformidade”.
Civis palestinos têm sofrido o peso da campanha militar de Israel. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, pelo menos 11.500 pessoas morreram vítimas de bombardeios e dos combates advindos da invasão terrestre israelense. Mais de 4.700 são crianças.
Dois terços da população está deslocada. Desde o início da ofensiva, Israel tem pedido que os palestinos se dirijam para a região sul da Faixa de Gaza, enquanto suas tropas combatem o Hamas no norte, principalmente na capital, a cidade de Gaza. Mas nesta quinta, o país invasor lançou panfletos em partes do sul pedindo às pessoas que deixassem a região por razões de segurança. E realizou bombardeios na parte central do país, como se vê na foto que ilustra esta matéria.
Sem comunicação, sem combustível, sem paz nos hospitais
O apagão quase total nas comunicações na Faixa de Gaza continua nesta sexta-feira (17), após as empresas de telecomunicações afirmarem que ficaram sem o combustível necessário para os geradores que alimentam os equipamentos. Sem combustível e sem comunicação, nenhuma ajuda humanitária deve chegar a Gaza, informaram agências das Nações Unidas. Quem tenta telefonar para um serviço médico escuta uma mensagem automática dizendo que as conexões foram cortadas.
Mas as tropas de Israel seguem realizando suas operações militares no Hospital al-Shifa, que tiveram início há dois dias, assim como em outros centros médicos, sob o argumento de que servem como base de comando para o Hamas — embora nenhuma prova tenha sido apresentada. Em edifícios nos arredores do hospital, o comando militar afirma ter encontrado os corpos de dois reféns sequestrados pelo Hamas em 7 de outubro: uma soldado de 19 anos e uma civil feita refém num kibutz.
Lula fala em nova lista de brasileiros
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou por telefone nesta quinta-feira (16) com o presidente de Israel, Isaac Herzog, durante cerca de 40 minutos. Lula agradeceu o apoio israelense para a repatriação de 32 cidadãos brasileiros e seus familiares da Faixa de Gaza e informou que está em preparação uma nova lista de brasileiros e seus parentes palestinos. Herzog afirmou que serão feitos todos os esforços para que esses cidadãos possam sair de Gaza com a devida rapidez, algo que não ocorreu com a primeira leva de repatriados.
O israelense falou de sua preocupação com os reféns sequestrados pelo Hamas, entre eles diversos latino-americanos, e pediu que o brasileiro reforce o apelo pela sua libertação, em articulação com outros países da América Latina. Lula recordou que já fez apelos pela libertação de todos os reféns em contatos mantidos com vários líderes do Oriente Médio (Irã, Emirados Árabes, Turquia, Catar, Egito, Autoridade Palestina), além de França, Rússia e Índia.
O presidente brasileiro reafirmou a tradição pacífica do Brasil, o repúdio a atos de antissemitismo e reiterou o empenho do governo brasileiro para coibir essas manifestações. Relembrou que o Brasil participou da criação do Estado de Israel e continua convencido da importância da solução de dois Estados, com Israel e Palestina vivendo lado a lado, com fronteiras seguras e mutuamente aceitas.
Comunidade judaica elogia
A conversa com o líder israelense foi elogiada pela Conib (Confederação Israelita do Brasil). “A Conib saúda a conversa de ontem entre os presidentes do Brasil e de Israel e as declarações do presidente Lula contra o antissemitismo no nosso país”, diz a entidade. “A Conib defende maior equilíbrio na posição do governo brasileiro e tem manifestado a grande preocupação da comunidade judaica com a importação do trágico conflito do Oriente Médio ao Brasil, com o aumento da retórica antijudaica no nosso país”.
Nos últimos dias, a confederação havia manifestado preocupação com declarações de Lula, que comparou o massacre de Israel aos ataques do Hamas, e do ministro da Justiça, Flávio Dino, que, ao comentar a chegada ao Brasil dos brasileiros que estavam em Gaza, mencionou passagens bíblicas que poderiam estimular um sentimento antissemita, segundo a entidade, principal representante da comunidade judaica no país.
Evangelho de Mateus 2:13 - um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar”.
— Flávio Dino 🇧🇷 (@FlavioDino) November 14, 2023
Que o Brasil seja esse “Egito” bíblico para as crianças… pic.twitter.com/WvhiIwIGJD
*Com informações do Washington Post, Folha de S.Paulo e Palácio do Planalto.
Edição: Leandro Melito