Os hospitais superlotados, mal equipados e danificados da Faixa de Gaza, que têm feito cirurgias apenas com analgésicos por falta de insumos básicos, vivem momentos particularmente dramáticos. Ao menos cinco deles relataram ter sido cercados por tanques israelenses ou ficado sob fogo cruzado e bombardeios. Israel confirma ter cercado hospitais e exigido que fossem evacuados, à medida em que cresce a pressão internacional para que as vidas de civis palestinos sejam preservadas, agora com os Estados Unidos engrossando o coro.
O secretário de Estado Anthony Blinken, encarregado da política externa estadunidense, disse que “muitos palestinos foram mortos, muitos sofreram nas últimas semanas”. Em visita à Índia, afirmou também que está discutindo com Israel sobre “passos concretos” que podem ser tomados para minimizar as mortes de civis.
Logo após o ataque do Hamas, que serviu de pretexto para a contraofensiva israelense, a Casa Branca declarou apoio irrestrito ao direito de Israel se defender e colaborou com dinheiro e equipamento militar, inclusive enviando para a região o maior porta-aviões do mundo.
Também nesta sexta, o príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, condenou o que está acontecendo na Faixa de Gaza, acusando Israel de ter civis como alvo e violar a lei internacional, em discurso durante um evento em Riad, capital de seu país — desde o início da guerra, estão suspensas as negociações para a normalização das relações diplomáticas entre Israel e Arábia Saudita, que estavam em estágio avançado.
Mas as Forças de Defesa de Israel insistem que os hospitais funcionam como fortalezas do Hamas e afirmam que fizeram progressos em seu objetivo de destruir o grupo palestino. Teriam matado dezenas de militantes e descoberto complexos militares e fábricas de armas.
Sob pressão, Israel anunciou pausas diárias de quatro horas para facilitar a fuga de cidadãos do norte para o sul de Gaza. O deslocamento da população palestina é uma reivindicação israelense desde o início do ataque, sob o argumento de que precisa combater o Hamas no norte de Gaza, mas pretende poupar vidas de civis. Israel alega que o sul é uma zona segura, mas a bombardeia com frequência.
Apesar dessa alegada preocupação com inocentes, o contra-ataque de Israel já ceifou mais de 11 mil vidas, incluindo as de milhares de crianças. Quase 500, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, foram mortos no ataque ao hospital al-Ahli, semanas atrás.
A nova ofensiva contra hospitais teria deixado uma pessoa morta e várias feridas. Foram atingidos o al-Shifa, o maior do norte de Gaza, e ao menos outros quatro, inclusive um pediátrico, segundo autoridades locais. Profissionais de saúde veem tanques israelenses, que avançam pelo território há quase duas semanas, assumirem posições em torno dos centros médicos. Mohammed Abu Salmiya, diretor-geral do al-Shifa, disse à rede Al Jazeera que o hospital sofreu ao menos quatro bombardeios.
Além do perigo para pacientes e profissionais de saúde, esse tipo de situação acaba envolvendo também palestinos que deixaram seus lares e usam os hospitais como abrigo contra os ataques israelenses. É o caso de Shahad al-Sharafa, de 18 anos, que contou, na quinta (9) à noite, que os ataques incendiaram ambulâncias que estavam no pátio do al-Shifa. Segundo ela, deslocados que vivem no local acudiram para apagar o fogo, já que equipes de emergência não conseguiram chegar rapidamente por causa dos bombardeios constantes e batalhas nas ruas. Na manhã seguinte, ela disse que os combates e ataques prosseguiram durante a noite e a manhã de sexta.
“Israel está agora lançando uma guerra contra os hospitais da Cidade de Gaza”, disse Mohammad Abu Selmeah, diretor do Al-Shifa, à agência de notícias Reuters. Tel Aviv afirma que não tem civis como alvo e faz de tudo para evitar atingi-los.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), 20 centros de saúde em Gaza estão completamente fora de operação. A porta-voz da entidade, Margaret Harris, disse ter recebido relatos de “violência intensa” e de um “bombardeio significativo”.
Futuro
Um assunto recorrente nos bastidores da guerra tem sido o futuro da gestão sobre a Faixa de Gaza, supondo que Israel consiga lograr seu objetivo de tirar o Hamas da jogada. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanuyahu, tem se manifestado com frequência sobre suas intenções. No início da semana, afirmou que Israel teria a “responsabilidade geral de segurança” sobre o território. Dias depois, ponderou que não pretende governar Gaza, apenas vê-la “desmilitarizada, desradicalizada e reconstruída”. “Não procuramos conquistar, ocupar ou governar Gaza”, afirmou.
O líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, disse nesta sexta (10) que a entidade está pronta para assumir responsabilidades na Faixa de Gaza, como parte de uma solução política abrangente no território e também na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. A solução, segundo ele, deve incluir a criação de um Estado Palestino — algo previsto por acordos internacionais desde o pós-guerra, 75 anos atrás, quando foi criado o Estado de Israel, e nunca concretizado.
(Com informações da Al Jazeera, The Washington Post e Folha de S.Paulo)
Edição: Leandro Melito