O hacker Walter Delgatti Neto, preso no último dia 2 pela Polícia Federal (PF), presta depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que apura os atos golpistas de 8 de janeiro, nesta quinta-feira (17), às 9h.
Ele é alvo de uma investigação que apura a inserção de 11 alvarás de soltura e um mandado de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). As inserções foram feitas entre 4 e 6 de janeiro deste ano, dias antes dos atos que culminaram na invasão e depredação dos prédios dos Três Poderes, em Brasília.
Em 27 de junho deste ano, Delgatti confessou à PF a sua participação em parte do esquema, que contou com a ajuda da deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP). O hacker afirmou que o objetivo da invasão era expor as vulnerabilidades do sistema judiciário brasileiro, com o propósito de desacreditar o sistema eletrônico de votação.
No total, seis parlamentares protocolaram requerimentos a favor de sua convocação: os deputados federais Rogério Correia (PT-MG), Duarte Jr. (PSB-MA), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) e Rubens Pereira Júnior (PT-MA) e a senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
"Em depoimento anterior o hacker afirmou que a ação visava demonstrar a vulnerabilidade do Sistema de Justiça brasileiro e descredibilizar publicamente o sistema eletrônico de votação, com o intuito de questionar o resultado eleitoral das urnas”, lembrou Rogério Correia no requerimento protocolado em 2 de agosto, no dia da prisão de Walter Delgatti Neto.
Na mesma linha, Jandira Feghali aponta que “os ilícitos praticados por Delgatti Neto claramente serviam aos propósitos golpistas de desmoralizar e atacar as instituições, especialmente o Poder Judiciário, engrossando o coro de falsidades que estimularam os atos violentos do dia 8 de janeiro”.
Segundo Delgatti, Zambelli solicitou que, caso não conseguisse invadir as urnas eletrônicas, o hacker deveria procurar por "diálogos comprometedores" envolvendo Alexandre de Moraes. Em resposta, Delgatti teria afirmado que seria possível inserir um mandado de prisão contra o ministro no sistema do CNJ.
Zambelli teria feito o texto e enviado para publicação. Delgatti alegou que "fez algumas alterações, pois o português estava meio ruim", e emitiu o mandado de prisão e o bloqueio de valores, no exato valor da multa aplicada ao PL pelo TSE, de cerca de R$ 22 milhões.
"DETERMINO, por fim, a extração integral de cópias e sua imediata remessa para o Inquérito n. 4.874/DF e de todos os inquéritos de censura e perseguição política, em curso no SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL para o CNJ, a fim de que me punam exemplarmente. Diante de todo o exposto, expeça-se o competente mandado de prisão em desfavor de mim mesmo, Alexandre de Moraes. Publique-se, intime-se e faz o L", diz o ofício.
A ex-deputada confirmou que fez pagamentos para Walter Delgatti Neto, mas alegou que eles se referem a serviços prestados em seu site pessoal.
De acordo com a PF, os fatos investigados "configuram, em tese, os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica".
O esquema se soma ao encontro entre Delgatti e Jair Bolsonaro (PL), em 10 de agosto do ano passado, que teria sido intermediado por Carla Zambelli. O ex-presidente teria dito a advogados que ficou em silêncio durante o contato com o hacker. Mas a versão do profissional de tecnologia é outra. Segundo ele, Bolsonaro perguntou se “munido do código-fonte conseguiria invadir a urna eletrônica”.
Edição: Geisa Marques