violência política

Marina do MST avisou autoridades sobre ameaças antes do ataque em Nova Friburgo (RJ)

Em entrevista ao Brasil de Fato, deputada afirma que ato violento foi planejado por empresários bolsonaristas da região

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Na véspera das agressões, a parlamentar denunciou que recebeu mensagens de ódio de empresários bolsonaristas da região - Reprodução

A deputada estadual Marina do MST (PT-RJ), que foi atacada por bolsonaristas no último sábado (12) em Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, comunicou as polícias Civil e Militar e o Ministério Público sobre as ameaças que estava recebendo por conta da realização de uma plenária de prestação de contas do seu mandato no distrito de Lumiar. 

Eleita com mais de 46 mil votos, Marina do MST é a primeira mulher sem terra a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) representando pautas como a agricultura familiar, o combate à fome e a produção de alimentos saudáveis no estado. 

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Na véspera das agressões, a parlamentar denunciou que recebeu mensagens de ódio de empresários bolsonaristas da região e que sua agenda pública era alvo de “fake news” disseminadas por meio de áudios no WhatsApp. “A surpresa foram as instituições saberem que existia essa ameaça e não estarem lá para garantir o exercício do meu trabalho”, disse a parlamentar em postagem nas redes sociais.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Marina do MST conta que não foi recebida com hostilidade no primeiro momento, mas após ser convidada a subir no coreto da praça começaram as agressões e ofensas. A deputada precisou ser escoltada por policiais militares para fora da confusão.

"Fico me perguntando, se fosse um homem parlamentar eles seriam tão covardes? Porque eles [agressores] me cumprimentaram, me colocaram no meio do povo para ser ofendida. Além de ser um ato extremamente antidemocrático, tem questões sérias de gênero", aponta Marina.

Ela enfatiza as mensagens de solidariedade e planeja voltar a Lumiar para um grande ato político no dia 26 de agosto. O mandato também lançou um manifesto em defesa de Marina. O presidente da Alerj, deputado Rodrigo Bacellar (PL), condenou o ato de violência e afirmou que vai acompanhar o caso "cobrando punição aos responsáveis por colocar em risco a integridade física da parlamentar e dos seus aliados".

Em nota oficial, a casa legislativa reforçou que a discordância ideológica é inerente ao regime democrático. "Contudo, não podemos transigir com violência, seja física ou psicológica, mesmo que sob forma de coação, que visassem a impedir os trabalhos da eminente parlamentar", afirma o texto.

Confira a entrevista:

Brasil de Fato: Como você e sua equipe estão depois do ocorrido?

Marina do MST: Eu e minha equipe estamos bem. Toda companheirada de Lumiar que estava participando conosco também está bem. Estamos firmes. Esse acontecimento deu um gás, digamos assim, para o nosso compromisso popular, de construção coletiva. E para fazer desse mandato aquilo que a gente sempre propôs, de ser um instrumento de fortalecimento das lutas populares, da organização popular, e sobretudo, da defesa e construção da democracia. 

Qual sua leitura política desse ataque?

O que aconteceu não foi só um ataque pessoal, mas ao direito de uma deputada estadual exercer seu ofício. Então o conjunto das instituições brasileiras, especialmente do estado do Rio de Janeiro, também se sentiram agredidas. Foi uma agressão à democracia tudo isso. 

Mas estamos nos sentindo bem, fortalecidos, principalmente porque estamos sendo amplamente defendidos. Estou recebendo milhares de mensagens de solidariedade, de afeto, de carinho, de pessoas, instituições, organizações, do estado, do Brasil, de outros países.

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A defesa de uma política com base no diálogo faz parte da democracia. A maioria da população está nos defendendo. Estou me sentindo forte para continuar na luta com as bandeiras do mandato que propomos desde o início.

Que atividade estava programada para acontecer naquele dia em Lumiar?

Estávamos fazendo o que chamamos de plenária territorial, que é na verdade um compromisso de campanha de voltar para ouvir o que podemos fazer via assembleia legislativa para fortalecer os locais. 

Imagina para uma mulher sem terra se candidatar pela primeira vez e ser eleita. É um baita reconhecimento da sociedade da minha luta, da luta do MST, e aquilo que sempre fiz na minha vida. 

Já fui a 10 municípios fazer essa plenária, prestando contas daquilo que já fizemos na Alerj, mas também para que as demandas dos territórios, dos movimentos sociais e populares, sejam ouvidas. Da agricultura familiar, da agroecologia, da ecologia, das bandeiras da educação, saúde, cultura, dos direitos das mulheres.

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Esses espaços constroem a democracia real, popular, em que a maioria da população tenha o direito de dar sua opinião na política. O objetivo era esse. Fizemos uma plenária pela manhã no centro de Friburgo e, a exemplo de tantas outras, foi maravilhoso falar o que estamos fazendo, refletir junto os desafios, ouvir as reivindicações. 

O vídeo mostra uma grande aglomeração de pessoas ao seu redor proferindo ofensas que também foram misóginas. Foi uma ação planejada?

Foi uma ação planejada. Fizeram contato com o nosso pessoal do local querendo me conhecer, conversar, e eu, por óbvio, disse "claro, estou aqui para isso". Cumprimentei eles [agressores], acho que no vídeo aparece, aqueles primeiros homens na roda são justamente os organizadores. Me conduziram, me convidaram para subir no coreto. Mas logo me receberam com atitudes muito agressivas e machistas. 

Fico me perguntando, se fosse um homem parlamentar eles seriam tão covardes?

Porque eles me cumprimentaram, me colocaram no meio do povo para ser ofendida. Além de ser um ato extremamente antidemocrático, tem questões sérias de gênero. 

Se fosse um homem no meu lugar tenho dúvidas se teriam agido dessa forma. É covarde, machista e vergonhoso. Mas me mantive o tempo todo muito tranquila. Sempre tive consciência que eu tinha o direito de exercer meu dever como parlamentar.

Não fomos surpreendidos porque já havíamos recebido ameaças. A surpresa foram as instituições da polícia saberem que existia essa ameaça e não estarem lá para garantir o exercício do meu trabalho. Em seguida dos ataques, dos empurrões e palavras de ordem para ir embora, a polícia militar nos conduziu e garantiu a minha segurança, da equipe e de todas as pessoas.

Com um processo de resistência e diálogo conseguimos realizar a plenária no pátio do batalhão da PM. Em meio a tanto, conseguimos cumprir nosso direito e dever como parlamentar de dialogar, ouvir e prestar conta.


Plenária acabou transferida para o pátio da batalhão da PM; Marina do MST planeja voltar a Lumiar para ato político / Redes sociais/@pedrokiua

É recorrente o seu mandato receber ameaças? 

Foi a primeira vez. Na quinta-feira (10), que antecedeu a plenária, um vereador fez um discurso cheio de fake news, de mentiras e distorções. Houveram também muitos áudios de empresários do município que estavam lá, que me receberam e me colocaram diretamente no berço dos leões. 

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Tanto foi planejado que a gente recebeu esses áudios na sexta (11) e imediatamente comunicamos as polícias Civil, Militar e o Ministério Público que eu estava recebendo ameaças por conta da realização da plenária.

As polícias não fizeram um trabalho preventivo.

Após a confusão eles cumpriram com o dever de garantir nossa segurança, integridade física e inclusive cederam o espaço do pátio do batalhão da PM para realizar a plenária. 

Estamos instalando um grupo de trabalho para garantir que o Ministério Público reconheça e responsabilize as pessoas que organizaram, convocaram, e que estavam lá atacando e ofendendo um projeto que eu, o MST, defendem a vida toda. Não queremos deixar isso impune. Esse ataque não foi a Marina dos Santos, foi a deputada estadual Marina do MST, foi a instituições democráticas, foi um ataque a um projeto de sociedade igualitária que nós defendemos. 

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Mariana Pitasse