O depoimento de João Pedro Stedile, nesta terça-feira (15), será o momento mais midiático da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e que encerra seus trabalhos no dia 14 de setembro sem provocar o barulho e a repercussão que bolsonaristas pretendiam.
Porém, ao levar uma das figuras mais emblemáticas da história do MST para ser questionada na comissão, a extrema direita aposta que consiga, finalmente, sair das sombras do noticiário e ganhar algum destaque.
A convocação de Stedile acontece a pedido de três deputados federais: Kim Kataguiri (UB-SP), Rodolfo Nogueira (PL-MS) e Coronel Assis (UB—MT). Os três integram a bancada de oposição ao movimento dentro da comissão.
O peso dado ao depoimento é justificado pela trajetória de João Pedro Stedile, que se tornou figura pública de importância significativa da política brasileira nas últimas quatro décadas, em especial após fundar, com outros companheiros, o MST, em 1984.
O movimento se tornou referência no debate sobre a reforma agrária no mundo e, desde sua fundação, ocupou as ruas, participando ativamente de grandes transformações no país e das três eleições que consagraram Luiz Inácio Lula da Silva presidente do país.
Referência política do movimento, João Pedro Stedile, nasceu em Lagoa Vermelha, Rio Grande do Sul, em 1953. Descendente de trabalhadores rurais, vindos em Trento, na Itália, ainda jovem, se tornou seminarista e ganhou uma bolsa de estudos na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), onde se formou em Economia.
Mais tarde, já distante da Igreja, concluiu sua pós-graduação pela Universidade Nacional Autônoma do México. Em 1979, passou a assessorar a Comissão Pastoral da Terra (CPT), onde se aproximou da questão agrária no país e os conflitos por terra que o catapultaram para a criação do MST.
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Desde a década de 1990, o MST passou a ser criminalizado pela mídia, em especial a revista Veja, fiel representante da burguesia paulista. À frente do movimento, Stedile passou a ser o rosto que estampava as capas do semanário da Editora Abril.
Em 3 de junho de 1998, Veja alterou graficamente a imagem de Stedile e o colocou como uma representação maléfica com a seguinte legenda: “A esquerda com raiva”. Abaixo, um texto apresentava o líder do MST: “inspirado por ideais zapatistas, leninistas, maoístas e cristãos, os líderes do MST pregam a implosão da ‘democracia burguesa’ e sonham com um Brasil socialista”.
Em outra capa, dois anos depois, em 10 de maio de 2000, Veja voltou a atacar o MST com o título “A tática da baderna”, ilustrado com uma foto da bandeira do movimento. “O MST usa o pretexto da reforma agrária para pregar a revolução socialista”, reclamava a revista.
Algumas décadas depois, João Pedro Stedile acumula 60 prêmios por sua atuação à frente do movimento, como o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos (1986 e 1990), Medalha Pedro Ernesto (1995), Memorial de la Paz y la Solidaridad entre los Pueblos (1995), Medalha Chico Mendes de Resistência (1989, 1998), Prêmio Hebert de Souza (1998), Medalha da Inconfidência (1999), Prêmio Paulo Freire de Compromisso Social (2000), Prêmio em Tecnologia Social, pela Fundação Banco do Brasil e Unesco (2003), Prêmio Santos Dias de Direitos Humanos (2018), Prêmio Espanha Reconhece (2021), entre outros.
Edição: Rodrigo Durão Coelho