Já se passaram 40 anos desde o fim da ditadura argentina (1976–1983), quando ao menos 500 crianças foram separadas de suas famílias pelos algozes daqueles que lutavam contra o terrorismo de Estado. A fim de encontrar essas crianças, em 1977 foi criada Associação Civil Avós da Praça de Maio (Abuelas de Plaza de Mayo), que, nesta sexta-feira (28), anunciou que foi encontrado o neto 133. Seu nome foi mantido em sigilo.
“Este novo caso é fruto de uma sociedade que, após 40 anos de democracia, continua a exigir saber o que aconteceu aos desaparecidos e às centenas de bebês, meninas e meninos apropriados, apostando na construção da memória, da verdade e justiça, para que tais crimes horrendos nunca se repitam”, afirma a associação.
O neto 133 é filho de Cristina Navajas e Julio Santucho, irmão de Camilo e Miguel Santucho. E neto de Nélida Navajas, uma das fundadora da Abuelas de Plaza de Mayo, que faleceu em 2012.
Seus pais eram membros do Partido Revolucionário de los Trabajadores (PRT). Cristina estava grávida quando foi sequestrada por agentes da ditadura argentina, em julho de 1976.
Miguel Santucho foi o primeiro a encontrar o irmão.
“Ele é muito parecido ao meu pai, os mesmos traços, o mesmo sorriso, e o mesmo gosto futebolístico, ele é ‘bostero’, como eu”, brincou Miguel, ao contar em coletiva que o irmão também torce para o Boca Juniors.
O irmão do Neto 133 ainda lembrou de sua avó e o legado de luta deixado por ela.
“Minha avó foi um exemplo para mim, uma referência, como todas as Abuelas, que foram tratadas como loucas, atacadas pelo regime, algumas sem ter certeza do nascimento dos seus netos. Minha avó sequer sabia se procurava um neto ou uma neta, mas nunca desistiu de lutar”, comentou.
Julio Santucho afirmou em coletiva de imprensa que ter encontrado seu filho é mais uma derrota para os militares da ditadura.
“Acho que por mais difícil que seja, o melhor que pude fazer foi contar a verdade aos meninos: que a mãe deles não está aqui por causa dos militares”, disse Julio Santucho. “Esta é uma derrota para a ditadura que queria tirar os nossos filhos, mas estamos a recuperá-los”, afirmou
Edição: Thales Schmidt