Memória e Justiça

Justiça chilena ordena reabertura da investigação sobre a morte de Pablo Neruda

Neruda faleceu em 23 de setembro de 1973, 12 dias após o golpe de Estado no Chile. Ele tinha 69 anos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Neruda, na direita, recebendo o Prêmio Nobel de Literatura - Pressens Bild / AFP

A Justiça chilena ordenou, nesta terça-feira (20), a reabertura da investigação para esclarecer as causas da morte do poeta e prêmio Nobel Pablo Neruda, que se acredita pode ter sido envenenado pela ditadura de Augusto Pinochet em 1973.

A Corte de Apelações revogou mediante sentença o encerramento da investigação adotada em dezembro pela juíza Paola Plaza, e iniciou novas investigações e perícias na tentativa de desvendar o mistério em torno da morte de Neruda. 

O tribunal ordenou a "reabertura do inquérito" e a realização das "diligências solicitadas pelos denunciantes" que "poderão contribuir para o esclarecimento dos fatos", diz a decisão divulgada pelo Poder Judiciário.

:: A brutalidade de Pinochet é uma ferida aberta na sociedade chilena ::

O recurso de apelação foi interposto pelos sobrinhos de Neruda, e pelo Partido Comunista, onde o poeta e Prêmio Nobel de Literatura 1971 militou. Neruda faleceu em 23 de setembro de 1973, 12 dias após o golpe de Estado no Chile. Ele tinha 69 anos e era acometido por um câncer de próstata. 

A investigação judicial sobre sua morte começou depois de que, em 2011, seu ex-motorista, Manuel Araya, relatou à imprensa que o poeta pode ter sido envenenado pela ditadura de Pinochet, que deixou mais de 3.200 mortos e cerca de 38.000 torturados, segundo números oficiais. 

Embora Neruda sofresse de um câncer, ele não estava em fase terminal, de acordo com a versão de Araya, que morreu em 21 de junho do ano passado. "A investigação não se encontrava esgotada, e, por isso, o inquérito deve ser reaberto neste processo em que se investiga a morte de Pablo Neruda", disse Manuel Luna, advogado do Partido Comunista, ao comentar a decisão judicial. 

"Consideramos que houve um grande avanço, se conseguiu restabelecer uma investigação que deve proporcionar avanços precisos na determinação da participação de terceiros na morte de Pablo Neruda", acrescentou o jurista. 

Novas perícias

Entre as diligências ordenadas pela Justiça está "uma nova perícia grafotécnica em relação ao certificado de óbito que teria sido estendido pelo Dr. Vargas Salazar", no qual diz que Neruda morreu em consequência da metástase provocada pelo câncer de próstata que o acometia. 

Além disso, citam-se novas testemunhas e um especialista no estudo da bactéria "costridium botulinum", que se acredita ter sido inoculada em Neruda e que pode ter eventualmente causado a morte. Em relação a isso, a Corte ordenou realizar uma "metaperícia que permita revisar e interpretar os resultados das perícias realizadas pelos especialistas das Universidades de McMaster e Copenhague", que analisaram restos extraídos do corpo exumado do poeta.

Tais investigações não conseguiram determinar se a bactéria o matou ou não ou se ela foi inoculada. Neruda era um dos principais opositores do regime de Pinochet, que havia deposto o governo do presidente socialista Salvador Allende, próximo ao prêmio Nobel. 

O México havia disponibilizado um avião para levar o autor de "Canto Geral" ao país, assim que ele recebesse alta de uma clínica privada onde havia sido internado devido a complicações do câncer de próstata. "As sete diligências que a Corte ordenou que sejam realizadas e todas aquelas que derivem justamente do que se apure nestas diligências, são um avanço importante para o esclarecimento da verdade dos fatos", disse o advogado do Partido Comunista. 

             

Edição: AFP