A presidente da Associação das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, morreu neste domingo (20), aos 93 anos. A causa da morte ainda não foi esclarecida. A informação foi confirmada por diferentes fontes ligadas a ativista, entre elas a vice-presidente da Argentina, Christina Kirchner.
Em outubro, Hebe de Bonafini foi internada para realizar exames médicos, no Hospital Italiano da cidade de La Plata, em Buenos Aires. Três dias depois, ela recebeu alta. Mas, no início deste mês, ela voltou a ser hospitalizada.
A ativista foi uma importante liderança do movimento das Mães da Praça de Maio, que, na década de 1970, iniciou uma mobilização de busca pelos filhos desaparecidos políticos durante a Ditadura Militar.
::Mães da Praça de Maio comemoram 45 anos de história com ato em Buenos Aires::
Além disso, ela foi um importante voz contra o imperialismo e o avanço do neoliberalismo na América Latina. Foi uma dura opositora aos governos liberais de Carlos Menem e Maurício Macri.
Nas redes sociais, a vice-presidente Christina Kirchner lamentou o falecimento da ativista. Disse que Hebe foi "símbolo mundial da luta pelos direitos humanos" e que ela era "um orgulho para a Argentina".
Queridísima Hebe, Madre de Plaza de Mayo, símbolo mundial de la lucha por los Derechos Humanos, orgullo de la Argentina. Dios te llamó el día de la Soberanía Nacional… no debe ser casualidad. Simplemente gracias y hasta siempre. pic.twitter.com/TVUfmywmAi
— Cristina Kirchner (@CFKArgentina) November 20, 2022
O presidente Alberto Fernandez também publicou uma mensagem em homenagem à Hebe de Bonafini. Ele escreveu que Hebe " foi uma lutadora incansável, sempre reivindicando verdade e justiça junto às mães e avós da praça de maio".
Con la partida de Hebe de Bonafini perdimos una luchadora incansable. Reclamando verdad y justicia junto a las Madres y Abuelas, enfrentó a los genocidas cuando el sentido común colectivo iba en otra dirección.
— Alberto Fernández (@alferdez) November 20, 2022
Con enorme cariño y sincero pesar, la despido. Hasta siempre Hebe. pic.twitter.com/MfNoadWa0p
No Brasil, lideranças políticas como o deputado federal eleito, Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Manuela D'ávila, que disputou a eleição de 2018 como vice-presidente de Fernando Haddad, relembraram a trajetória da ativista e a classificaram como uma lutadora incansável.
Partiu hoje Hebe de Bonafini, fundadora da associação Mães da Praça de Maio, na Argentina. A ditadura tirou seus filhos Jorge Omar e Raúl. Foi uma lutadora incansável. Vá em paz, Hebe! pic.twitter.com/3odgWaAkrj
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) November 20, 2022
Morreu a mãe que, irmanada com outras, mudou a história da Argentina e da América Latina.
— Manuela (@ManuelaDavila) November 20, 2022
Hebe de Bonafini liderou as Madres da Plaza de Mayo, denunciando o sequestro de seus filhos Jorge e Raul. pic.twitter.com/PTOH8zpZci
Trajetória
Hebe de Bonafini nasceu em 4 de Dezembro de 1928, em La Plata, na província de Buenos Aires. Aos 14 anos, em 1942, casou-se com Humberto Alfredo Bonafini, com quem teve três filhos. Dois deles, Jorge Omar e Raul Alfredo, foram sequestrados pela ditadura civil-militar argentina, em 1977. Um ano depois, o mesmo aconteceu com a sua nora, esposa de Jorge, Maria Elena Cepeda.
O sequestro dos filhos pela ditadura fez com que a vida de Hebe também se cruzasse com o de outras mães, cujos filhos haviam sido retirados a força do convívio familiar pela repressão. A revolta dessas mulheres se materializou no sábado, 30 de abril de 1977, quando realizaram a primeira marcha contra o governo, em frente á Casa Rosada.
::Relembre especial: 42 anos das Mães da Praça de Maio::
O movimento cresceu e tomou dimensões internacionais. Hoje, aos 45 anos, ultrapassa a marca de mais de 2 mil marchas. O grupo se reúne sempre às quintas-feiras, às 15h30, na mesma praça há mais de quatro décadas. O espirito do movimento foi sintetizada pela própria Hebe de Bonafini, em outra oportunidade:
"Esta praça serve para isso: para gritar, denunciar, dizer, falar, sonhar. É muito bonito sonhar. Devemos fazer as coisas com alegria e amor. A revolução se faz com amor, não somente com armas".
Edição: Lucas Weber