Guerra

União Europeia acusa Rússia de bombardear silos de grãos na Ucrânia

Kiev diz que ataques russos são "tentativa de destruir a capacidade de fornecer alimentos ao sul global"

Rio de Janeiro |
Josep Borrell, Alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, em uma conferência de imprensa. - Angela Weiss/AFP

A União Europeia acusou nesta quinta-feira (20) a Rússia de colocar o abastecimento de alimentos em risco e exacerbar a crise humanitária com bombardeios contra silos de grãos na Ucrânia. Josep Borrell, chefe de relações exteriores e defesa da UE, disse que 60 mil toneladas de grãos foram foram queimados como resultado de bombardeios russos contra instalações de armazenamento na Ucrânia. 

"Se este grão não for apenas interrompido, mas [também] destruído... isso vai criar uma enorme crise alimentar no mundo", disse Borrell.

"É uma situação muito grave. Essa consideração de que qualquer navio [é considerado] um navio de guerra e, portanto, um alvo para as atividades militares da Rússia, é um passo adiante para continuar impedindo a Ucrânia de realizar a exportação de seus grãos", acrescentou. 

De acordo com autoridades ucranianas, os ataques na cidade portuária de Odesa, no Mar Negro, e nas proximidades de Nikolayev, no início da quinta-feira, mataram pelo menos duas pessoas e feriram pelo menos 23.

Na última segunda-feira (17), a Rússia anunciou a retirada do acordo de grãos que permitia a exportação de alimentos ucranianos por meio dos portos do Mar Negro. Após a saída do acordo, a Rússia realizou ataques aéreos contra cidades portuárias ucranianas por três noites consecutivas. 

O chefe de gabinete do presidente ucraniano, Andriy Yermak, disse que os ataques russos representam "uma tentativa de destruir a capacidade de fornecer alimentos aos países do sul global".

A decisão de Moscou de se retirar da Iniciativa de Grãos do Mar Negro, que permitiu a exportação de 33 milhões de toneladas de grãos por via marítima desde agosto passado, e seu anúncio de que tratará qualquer embarcação que chegue como ameaça militar, elevou os preços globais dos alimentos. 

O Ministério da Defesa da Rússia, por sua vez, alega que os militares russos atacaram "instalações onde atos terroristas contra a Federação Russa estavam sendo preparados usando barcos não tripulados, bem como no local de sua fabricação em um estaleiro perto da cidade de Odessa".

A pasta também informou que o exército russo destruiu instalações de armazenamento de combustível para as Forças Armadas da Ucrânia na região de Odessa e Nikolayev. 

Já a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, declarou que o país enviou à Organização das Nações Unidas (ONU) um memorando com as condições sob as quais Moscou aceitaria voltar a discutir o retorno ao acordo dos grãos.

De acordo com a diplomacia russa, Moscou definiu cinco requisitos como condição para discutir a retomada do acordo. Entre os pontos, o Kremlin exige "a normalização das exportações agrícolas russas, a retomada do fornecimento de máquinas agrícolas, a retomada do fornecimento de peças de reposição e manutenção, a suspensão da proibição de acesso aos portos e também da proibição de negociar com sua moeda local". 

Edição: Thales Schmidt