A Rússia anunciou a sua retirada do acordo de grãos, que permitia a exportação de alimentos ucranianos dos portos do Mar Negro. A notificação sobre a saída do acordo foi notificada à Turquia, Ucrânia e o secretariado da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira (17), dia que o documenta expira.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, a "Iniciativa do Mar Negro" - nome dado ao acordo - deixará de funcionar a partir de 18 de julho, e o centro de coordenação conjunta em Istambul, que inspecionava os navios com grãos ucranianos, será dissolvido.
A Rússia também retirou as garantias de segurança da navegação e pretende reduzir o corredor humanitário marítimo no noroeste do Mar Negro.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a não renovação do acordo se deve ao fato de que os termos do acordo não foram cumpridos.
"Os acordos do Mar Negro deixaram de ser válidos, na prática, hoje. Como o Presidente da Federação Russa disse anteriormente, o prazo expira em 17 de julho. Infelizmente, a parte relativa à Rússia desses acordos do Mar Negro não foi implementada até agora, portanto seu efeito foi encerrado. Assim que a parte russa dos acordos for cumprida, o lado russo retornará à implementação deste acordo imediatamente", declarou Peskov.
O Kremlin havia declarado anteriormente que a Rússia voltaria a considerar um acordo que permitiria que os alimentos da Ucrânia fossem exportados pelos portos do Mar Negro quando as exigências de Moscou fossem atendidas.
Segundo ele, a posição sobre o acordo de grãos foi anunciada por Moscou antes mesmo do ataque à ponte da Crimeia, e os acontecimentos ocorridos na madrugada desta segunda-feira (17) não estão relacionados com o anúncio sobre o documento.
Após o início da guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, a exportação de grãos ucranianos a serem escoados pelas rotas do Mar Negro sofreu um bloqueio nos portos marítimos. A assinatura do acordo mediado por Turquia e ONU vinha permitindo o desbloqueio do transporte marítimo dos grãos através dos portos de Odessa, Chernomorsk e Yuzhny.
Assinado em julho de 2022, o acordo foi prorrogado várias vezes, incluindo condições apresentadas pela Rússia, a liberação do fornecimento de amônia russa para a Europa através da Ucrânia, bem como a conexão do Rosselkhozbank (Banco Agricultural da Rússia) ao sistema SWIFT, do qual foi desconectado devido às sanções do Ocidente.
Zelensky diz que acordo pode continuar sem Rússia
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, por sua vez, disse que Kiev poderia continuar fornecendo grãos através do corredor do Mar Negro, apesar da retirada da Rússia do acordo. A informação foi divulgada pelo porta-voz de Zelensky, Serguei Nikiforov, citando uma entrevista do presidente ucraniano a jornalistas africanos.
"Mesmo sem a Federação Russa, tudo deve ser feito para que possamos usar este corredor do Mar Negro. Não temos medo. Fomos procurados pelas empresas proprietárias dos navios. Eles disseram que estão prontos para continuar entregando grãos se a Ucrânia estiver pronta para liberar e a Turquia deixar passar", disse Zelensky.
O presidente lembrou que dois acordos foram assinados como parte do negócio de grãos. O primeiro foi concluído pela Rússia, Turquia e ONU, o segundo pela Ucrânia, Turquia e ONU.
"Então, quando a Rússia diz que está encerrando [o acordo de grãos], está encerrando seus acordos com o secretário-geral da ONU, Guterres, e com o presidente Erdogan. Não conosco. Não tínhamos nenhum acordo com eles", enfatizou Zelensky.
Edição: Patrícia de Matos