Quando as autoridades britânicas aprovaram a extradição de Julian Assange para os Estados Unidos, onde será julgado por espionagem e pelo vazamento de documentos secretos das Forças Armadas dos Estados Unidos, teve início na sociedade civil brasileira um movimento para apelar ao governo federal que conceda asilo político ao jornalista e ativista australiano. O fundador do site WikiLeaks está preso desde 2019, após passar sete anos abrigado na embaixada do Equador em Londres, totalizando 11 anos em privação de liberdade.
Uma carta foi elaborada, já conta com quase 3 mil assinaturas e deve ser entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no dia 12 de julho. Ela pede que o presidente "promova um esforço internacional junto a outros países – a começar pelos do Brics e do G20 – com vistas a obter a aceitação deste asilo político por parte do governo inglês".
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Entre os signatários, estão o fotógrafo Sebastião Salgado, o neurocientista Sidarta Ribeiro, o jornalista Juca Kfouri, o professor Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), ex-ministros, como Sérgio Machado Rezende (Ciência e Tecnologia), José Gomes Temporão (Saúde) e Ana de Hollanda (Cultura), além de pesquisadores, parlamentares, cientistas, professores, sindicalistas, jornalistas e cidadãos em geral.
"A lista está aberta para quem quiser assinar", diz Renato Janine Ribeiro, que pretende entregá-la ao presidente Lula durante reunião da Comissão de Ciência e Tecnologia do governo federal. Para ler a carta e assinar, basta clicar aqui.
Uma semana antes, em 5 de julho, haverá um evento na SBPC para discutir o tema. "Vamos debater os casos do Assange e do Snowden, que estão sendo caçados porque disseram a verdade. Jornalista tem dever de dizer a verdade, não pode esconder", defende Janine. O estadunidense Edward Snowden, que foi viver na Rússia sob asilo político, também vazou dados sigilosos dos Estados Unidos, referentes a vigilância internacional.
O professor está otimista em relação às perspectivas de Lula embarcar na ideia de conceder asilo. "Acredito que o governo fará isso, porque o Lula tomou iniciativa, então parece estar disponível para isso." Lembrando que Assange foi condenado inicialmente por abuso sexual, ele argumenta que a situação do jornalista é "um caso de lawfare clássico", ou seja, a utilização do sistema judicial como forma de perseguição política. Nesse sentido, pode-se argumentar que a situação de Assange se assemelha de alguma à de Lula, que para muitos, inclusive o papa Francisco, foi vítima do mesmo tipo de perseguição.
O presidente brasileiro já se manifestou algumas vezes a favor de Assange. A última delas foi na semana passada, em Roma, quando fez uma defesa fervorosa dos méritos do jornalista australiano e criticou duramente a imprensa.
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Hipocrisia
"A manifestação do Lula foi magnífica, ele tem toda a razão", diz o jornalista Juca Kfouri, signatário da carta. Para ele, Assange fez "um dos maiores serviços do jornalismo ocidental nos últimos anos, que foi revelar que a nação mais poderosa do mundo espiona pelo mundo afora, no Brasil inclusive, no exercício mais puro da profissão".
Segundo Kfouri, o fato de Assange correr o risco de ser extraditado e pegar prisão perpétua nos Estados Unidos "revela toda a hipocrisia desse mundo capitalista". Ele acha que os jornalistas têm feito pouco pelo Assange. "Era pra ter procissão na porta da cadeia exigindo a libertação dele."
Edição: Nicolau Soares