Liberdade

Movimentos populares entregam ao governo brasileiro carta em solidariedade à Palestina

Documento solicita a ruptura de relações militares e a revisão de todas as relações institucionais do Brasil com Israel

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Homem empunha a bandeira Palestina durante ataque das forças de Israel à vila de Kfar Qaddum
Homem empunha a bandeira Palestina durante ataque das forças de Israel à vila de Kfar Qaddum - AFP

Movimentos populares brasileiros entregaram ao governo federal uma carta em solidariedade à Palestina. No documento, demandam o corte imediato de relações entre Brasil e Israel no campo militar e pedem revisão das relações no geral para pressionar pelo fim do "apartheid de Israel" contra o povo palestino.

Entre os 17 signatários estão a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) e Movimento Negro Unificado (MNU). 

"Os movimentos sociais e entidade representativas da comunidade palestina no Brasil manifestaram sua solidariedade ao povo palestino através da entrega de uma carta  aos principais órgãos e ministérios do governo federal, no marco dos 75 anos da Nakba", explica Andressa Soares, do movimento BDS, que participou da articulação do documento.

"Entre as demandas estão a reativação do Comitê Especial da ONU contra o Apartheid, além da ruptura imediata das relações militares com Israel, e a revisão dos laços institucionais do Brasil que direta ou indiretamente apoiam ou legitimam o apartheid e a ocupação militar israelense e as suas colonias ilegais", conclui.

Confira a íntegra da carta:

Brasília, 15 de Maio de 2023

O dia 15 de Maio marca 75 anos da destruição de 531 cidades e povoados palestinos e o início da limpeza étnica da maior parte do povo indígena da Palestina pelas milícias sionistas e, mais tarde, pelo exército israelense. O povo palestino chama isso de Nakba [catastrofe em árabe], um proceso colonial de conquista de terra e opressão racista do povo Palestino por parte de Israel que segue ainda em curso, com apoio e conivência dos governos do mundo.

Somente nos últimos dias Israel assassinou quase 30 pessoas palestinas, incluindo 7 crianças, durante bombardeios a cidades e campos de refugiados na Faixa de Gaza, sitiada e ocupada por Israel. Aos repetidos massacres de Israel contra os dois milhões de palestinas e palestinos na Faixa de Gaza, junta-se a violência brutal e sistemática cometida pelo regime de apartheid israelense em todo o território palestino através do roubo de terras, demolição de casas, limpeza étnica contínua de povoados inteiros, prisão arbitraria em massa, tortura e mais. Anos de impunidade têm levado a que Israel tenha atualmente o governo mais abertamente racista e de extrema direita da sua história.

Hoje, nós da sociedade civil brasileira, nos juntamos em reclamar o direito das refugiadas e refugiados palestinos ao retorno aos seus lares, o direito à auto-determinação do povo palestino e o fim da apartheid, ocupação e colonização israelense.

O mundo todo vem testemunhando há decadas como o projeito colonial de Israel perpetra ainda no século XXI o crime contra a humanidade de apartheid. 30 anos atrás, o mundo celebrou a vitória do povo sul-africano, apoiado pela solidariedade internacional. Mas, ainda hoje, o povo palestino vive ainda sob um regime de apartheid. Isso foi reconhecido por organizações como Anistia Internacional, Human Rights Watch, B’Tselem e mais recentemente a própria Organização das Nações Unidas através de seu Relator Especial. Já em 2020, ex-presidentes, parlamentares, juristas e diplomatas da Ásia, África e América Latina, entre eles o atual presidente Lula, lançaram um pedido conjunto de reativação do Comitê Especial da ONU contra o Apartheid para abordar o apartheid de Israel sobre o povo palestino.

Após anos de alianças nefastas com o regime de apartheid israelense, é hora de que o Brasil possa atuar ativamente junto às organizações internacionais, em especial à ONU, para acabar com o apartheid israelense.

Pedimos que o governo brasileiro fique fiel a sua política externa ativa e altiva e seja protagonista para denunciar e liderar a comunidade internacional a impor medidas efetivas para terminar com o regime de apartheid do estado israelense, a partir da reativação do Comitê Especial da ONU contra o Apartheid.

O Brasil, sob o atual governo, possui como agendas principais o combate ao racismo, a valorização do trabalhador e da trabalhadora e a luta dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Recordamos que o combate ao racismo, a proteção dos povos indígenas e a luta pelos direitos sociais e da classe trabalhadora não conhecem fronteiras. As consequências do apartheid israelense são sentidas pelo povo brasileiro na sua própria pele quando as armas israelenses matam e reprimem o povo brasileiro.

Pedimos:

● A ruptura imediata das relações militares com Israel, desde a compra e venda de armas e tecnologia militar até formação e treinamento militar e policial.
● A revisão dos laços institucionais do Brasil que direta ou indiretamente apoiam ou legitimam o apartheid e a ocupação militar israelense e as suas colonias ilegais.

Não haverá verdadeira emancipação popular em qualquer lugar do mundo enquanto qualquer um de nós for oprimido. Palestina Livre!

Assinam:

● Amigas da Terra Brasil
● Articulação Internacional Julho Negro
● Central Única dos Trabalhadores - CUT
● Curso Popular TF Livre
● Coletivo Maré 0800
● FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil
● Frente de Mobilização da Maré
● Frente Gaúcha de Solidariedade ao Povo Palestino
● Gabinete do Vereador da Cidade de Belém, Fernando Carneiro
● Grupo de Estudos Retóricas do Poder e Resistências (GERPOR/UnB)
● Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores Sem-Teto (MTST)
● Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST)
● Movimento de Luta Socialista - MLS
● Movimento Negro Unificado MNU
● Rede Educacional de Direitos Humanos em Israel/Palestina - FFIPP BRASIL
● Rede de Pesquisa sobre Pedagogias Decoloniais na Amazônia
● Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará (SINTEPP/Pará)

Edição: Thalita Pires