Perigo

Assange tenta último recurso no Reino Unido para tentar barrar extradição aos EUA

Jornalista do WikiLeaks pode ser passar o resto da vida atrás das grades por decisão da Casa Branca

São Paulo (SP) |
Protesto pela liberdade de Assange na Bélgica - John Thys / AFP

Julian Assange está perto de esgotar todas as instâncias do Judiciário do Reino Unido para barrar sua extradição para os Estados Unidos. Na última semana, a Justiça britânica negou mais um recurso de sua defesa e agora os advogados do jornalista do WikiLeaks apresentarão seu último recurso na terça-feira (13) para um painel de dois juízes. Caso essa última tentativa seja barrada, não haverá mais alternativas legais dentro do Reino Unido.

Detido em uma prisão de segurança máxima nos arredores de Londres desde 2019, Assange pode ser condenado a passar até 175 anos na prisão nos Estados Unidos. Com um processo que começou com o republicano Donald Trump na Casa Branca, e continua com governo do democrata Joe Biden, os EUA usam uma lei contra a espionagem datada da Primeira Guerra Mundial para processar o jornalista.

"É absurdo que um único juiz possa emitir uma decisão de três páginas que pode colocar Julian Assange na prisão pelo resto de sua vida e impactar permanentemente o clima do jornalismo em todo o mundo. O peso histórico do que acontece a seguir não pode ser exagerado", afirmou Rebecca Vincent, do Repórter Sem Fronteiras.

A esposa de Assange, Stella Assange, afirmou em suas redes sociais que continua "otimista" de que seu marido não será extraditado por "publicar informações verdadeiras que revelaram crimes de guerra cometidos pelo governo dos EUA". Ainda de acordo com Stella, ainda não há uma data para a audiência que analisará o novo recurso da defesa.

Em caso de mais uma derrota judicial do jornalista do WikiLeaks, a defesa ainda pode apelar para o Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Todavia, de acordo com o Suprema Corte do Reino Unido, o judiciário do país não precisa sempre seguir as determinações do Tribunal Europeu de Direitos Humanos.

"Não podemos permitir que a prisão de Assange se baseie na divulgação de documentos no site Wikileaks, em que ele era editor, que mostra as ações secretas de invasão ao Iraque e Afeganistão. Isso é um trabalho jornalístico em sua essência. Há toda uma narrativa de criminalização do jornalismo", diz Samira de Castro, presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em entrevista ao Brasil de Fato.

Castro ainda denuncia a participação dos EUA e do Reino Unido no caso do jornalista do WikiLeaks, países que acusam outras nações como Venezuela e Cuba por falta de democracia, mas que atacam a liberdade de expressão ao perseguir Assange.

A advogada e jornalista Sara Vivacqua ressalta que o marido de uma das juízas britânicas que decidiu contra Assange atuou como lobista contra o WikiLeaks, em um potencial caso de conflito de interesses revelado pelo Declassified UK.

"A prisão de Assange é ilegal. Ele devia estar em liberdade, ele não cometeu nenhum crime. Ele está preso por violação da condicional dele da Suécia, que é um processo que não existe mais", diz Vivacqua.

Edição: Rodrigo Durão Coelho