Diplomacia

Lula compara oposição venezuelana a Bolsonaro e diz que país tem mais eleições do que o Brasil

Presidente condenou reconhecimento internacional de Guaidó e disse que Maduro irá pagar dívida com BNDES

Caracas (Venezuela) |
"As pessoas precisam aprender a aceitar o resultado das eleições", disse Lula - Evaristo Sa/AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a falar nesta quinta-feira (29) sobre a situação da democracia na Venezuela e afirmou que o país vizinho realiza "mais eleições do que o Brasil".

Em entrevista concedida à Rádio Gaúcha, Lula ainda comparou a oposição venezuelana de direita ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e disse que "as pessoas precisam aprender a aceitar o resultado das eleições".

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"Em 2001, eu tinha apenas 20 dias de governo e criei o Grupo de Amigos da Venezuela e nós conseguimos fazer o referendo [revocatório de 2004] e o referendo foi legítimo [...]. Foi um resultado eleitoral e muitas vezes a oposição não aceita. Nós não tivemos um cidadão aqui, um sabidinho que não quis aceitar o resultado eleitoral? Não tivemos um cidadãozinho aqui que quis dar um golpe no dia 8 de janeiro? Tem gente que não quer aceitar o resultado eleitoral", disse. 

O petista também afirmou que o país vizinho "tem mais eleições do que o Brasil, desde que o [ex-presidente Hugo] Chávez tomou posse". Entre 1999 e 2023, a Venezuela realizou 29 eleições entre presidenciais, regionais, parlamentares, referendos revocatórios e constitucionais.

Lula ainda criticou o que chamou de "interferência de um país dentro de outro país" e relembrou o reconhecimento de diversos países ao ex-deputado Juan Guaidó como "presidente interino" da Venezuela.

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"Se a moda pega, não há mais garantia da democracia, do mandato das pessoas. Quem quiser derrotar o Maduro, que o derrote nas próximas eleições e assuma o poder. Vamos lá fiscalizar. Se não tiver uma eleição honesta, a gente fala", disse.

Desde que assumiu a Presidência, em janeiro deste ano, Lula retomou as relações diplomáticas com a Venezuela, que haviam sido rompidas durante o mandato de Bolsonaro. O petista já nomeou um encarregado de negócios para a embaixada brasileira em Caracas e recebeu o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em visita oficial em Brasília realizada em maio.

Durante o encontro, Lula já havia criticado o que chamou de "narrativa" de que não haveria democracia na Venezuela, além de condenar o bloqueio dos EUA imposto contra o país vizinho.

Outro tema abordado pelos presidentes durante a reunião em maio foi a dívida que a Venezuela possui com o BNDES, fruto de empréstimos concedidos pelo banco a empresas brasileiras que realizaram obras em território venezuelano. À Ràdio Gaúcha, Lula voltou a falar sobre o tema, defendeu a retomada de financiamentos pós-embarque pelo BNDES e disse que a Venezuela irá pagar a dívida.

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"É verdade que a Venezuela não pagou porque o governo brasileiro fechou as portas para a Venezuela. Foram praticamente quatro anos sem relação. Eu conversei com o Maduro e falei que era preciso acertar o pagamento da dívida e ele vai acertar. Ele vai acertar, Cuba vai acertar e todos vão acertar porque são bons pagadores e nunca deveram ao Brasil", disse.

Segundo dados do BNDES, a dívida venezuelana atualmente é de US$ 722 milhões de um total de mais de US$ 1,5 bilhão dos desembolsos que foram realizados.

Edição: Thales Schmidt