Na manhã desta quinta-feira (6), a Justiça Global junto ao Coletivo Marginal da Cidade de Deus, apresentam um informe à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre o assassinato de Dierson Gomes da Silva, de 51 anos.
O homem foi assassinado com cerca de 12 tiros nas costas pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), durante operação policial que ocorreu na quarta-feira (5), na favela Cidade de Deus, localizada na zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro.
A PM do Rio admitiu que matou o catador de recicláveis ao ter "confundido" um pedaço de pau que ele carregava com um fuzil. Casos como estes ocorrem todos os dias nas favelas e periferias do Rio de Janeiro. Anos atrás, em 2018, Rodrigo Serrano, morador do Morro Chapéu-Mangueira, favela localizada na zona Sul do Rio, foi também assassinado após ser atingido por policiais militares com dois tiros, um no peito e outro na perna. Na ocasião, os policiais disseram que confundiram o guarda-chuva que ele segurava com um fuzil.
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No Rio de Janeiro, acaba de assumir o cargo de governador Claudio Castro (PL), após já ter governado o estado com o impeachment de Wilson Witzel. Castro é denominado por movimentos de favelas e pelas organizações de direitos humanos do Rio e do país como o governador das chacinas.
Somente em 2022, foram cerca de 38 chacinas (que deixaram um total de 178 pessoas mortas) ocorridas dentro das favelas e periferias do Rio. Além disso, já nesta primeira semana de janeiro, ele declarou ser contrário que os policiais militares utilizem câmeras em seus uniformes. Demanda antiga dos movimentos de favelas e de mães e familiares vítimas da violência policial e determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
A decisão sobre a implementação de câmeras corporais na atuação policial é uma das determinações judiciais originadas das Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n.635 que foi originada pela violação sistemática do direito à vida das pessoas em favelas do estado do Rio de Janeiro pelas polícias estaduais e que tem como amici curiae organizações de direitos humanos e movimentos sociais de favelas.
Em que pese a força das decisões da Suprema Corte, o Rio de Janeiro segue como um estado onde o racismo é a principal mola propulsora da violência letal da polícia que é mobilizada em conjunto com uma série de outras violações de direitos humanos das pessoas negras em seu local de moradia.
Diante de práticas genocidas que vão da violência obstétrica contra mulheres negras ao percentual de 86% de pessoas negras assassinadas pelas polícias somente no Rio de Janeiro, a falta de responsabilização pela violência racial vem gerando mais e mais execuções sumárias todos os dias.
*Gizele Martins é Moradora da Maré, jornalista, mestre em Comunicação, Educação e Cultura em Periferias Urbanas (FEBF-UERJ) e integrante do Movimento de Favelas do Rio de Janeiro.
*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse